Star Wars Os Últimos Jedi

Título Original

Star Wars – Episode VIII: The Last Jedi

Lançamento

14 de dezembro de 2017

Direção

Rian Johnson

Roteiro

Rian Johnson

Elenco

Daisy Ridley, Adam Driver, Mark Hamill, Carrie Fisher, Oscar Isaac, John Boyega, Andy Serkis, Kelly Marie Tran, Laura Dern, Benicio de Toro, Domhnall Gleeson, Peter Mayhew, Anthony Daniels e Gwendoline Christie

Duração

150 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kathleen Kennedy e Ram Bergman

Distribuidor

Disney

Sinopse

Após encontrar o mítico e recluso Luke Skywalker (Mark Hammil) em uma ilha isolada, a jovem Rey (Daisy Ridley) busca entender o balanço da Força a partir dos ensinamentos do mestre jedi. Paralelamente, o Primeiro Império de Kylo Ren (Adam Driver) se reorganiza para enfrentar a Aliança Rebelde.

Publicidade

Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Quando Star Wars voltou nas mãos de J.J. Abrams, com O Despertar da Força, muitos acusaram o cineasta (que também assinava como co-roteirista) de emular preguiçosamente o enredo de Uma Nova Esperança, limitando-se a criar uma espécie de reboot disfarçado de continuação – e independente disto ser ou não um problema, era difícil negar que aquele (ótimo) filme trazia um excesso de similaridades em relação ao capítulo que deu início à franquia. Em Os Últimos Jedi, por outro lado, o que acontece é uma situação diferente, mas curiosa: após construir uma primeira metade que, de fato, soa como um “Ctrl+C/Ctrl+V” de O Império Contra-Ataca, o longa toma uma atitude inteligente ao mudar completamente o rumo da narrativa e desarmar as expectativas do público depois de habituá-lo à ideia de que veria mais uma reciclagem de um Episódio anterior.

Pois esta é uma lógica que o roteiro deste Episódio VIII adota constantemente, o que resulta num filme surpreendente, impactante e consegue a proeza de ter tudo a ver com o que costumamos esperar de Star Wars ao mesmo tempo em que segue caminhos que testam os limites da obra de George Lucas.

Substituindo J.J. Abrams nas funções de diretor e roteirista (agora sem a colaboração do veterano Lawrence Kasdan), Rian Johnson continua a história do ponto onde parou em O Despertar da Força, começando a projeção mostrando como os integrantes da Resistência permanecem lutando contra a Primeira Ordem. A partir daí, o filme passa a enfocar três linhas narrativas distintas: o treinamento de Rey com o recluso Luke Skywalker; a tensão crescente que Leia Organa, Poe Dameron e o resto dos guerrilheiros sentem em suas naves; e uma aventura onde Finn une seus esforços aos da rebelde Rose (isso sem contar, é claro, o progresso de Kylo Ren como subalterno do poderoso Snoke).

Demonstrando interesse em manter-se à frente do espectador tanto em pequenos momentos quanto nas maiores revelações, Os Últimos Jedi não está nem aí para as expectativas do público e parece fazer questão de quebrá-las ou reduzi-las desde uma de suas primeiras cenas, quando Luke enfim pega o lightsaber erguido por Rey no fim de O Despertar da Força e trata o objeto com uma casualidade inusitada – o mesmo pode ser observado no instante em que finalmente descobrimos quem são os pais da protagonista (e percebemos que nem deve ter valido a pena ficar deduzindo ao longo dos últimos dois anos). Pode-se dizer, em resumo, que Rian Johnson está (com o perdão da grosseria) cagando e andando para o que as pessoas esperavam encontrar aqui, optando por criar um Star Wars que fuja um pouco de alguns padrões estabelecidos ao longo dos capítulos passados; o que talvez frustre muitos fãs, que verão suas teorias irem por água abaixo sem muita parcimônia. Além disso, é interessante constatar a eficácia de Johnson, por exemplo, quando Kylo Ren vê a oportunidade de matar um ente querido, pondo à prova o arrependimento que o destino de Han Solo provocou no vilão, a chance que ele acha que tem de evitar tal fatalidade e a dor que sente diante do que inevitavelmente acontece em seguida – que, por sinal, também se desfaz através de outra surpresa (esta é uma palavra-chave).

Mas é claro que desarmar as expectativas do público somente por fazê-lo não seria justo, pois cada reviravolta tem a obrigação de beneficiar a trama em vez de tentar gerar o impacto gratuito. Assim, é um alívio que Rian Johnson volte a acertar em cheio, sendo particularmente admirável que as muitas “mudanças de lado” assumidas pelos personagens acabem enriquecendo suas personas em vez de traí-las – e um ótimo exemplo disso é a dinâmica entre Rey e Kylo Ren, que são sempre seduzidos pelos espectros opostos da Força e levam o espectador a temer que a heroína torne-se vilã ou que o vilão torne-se herói (se um ou outro ocorre ou não, aí prefiro manter em sigilo). Neste sentido, a direção é fundamental para que a trama atinga o peso dramático que tanto almeja, pois – como já vimos em Ozymandias, talvez o melhor episódio de Breaking Bad – Johnson é um realizador que sabe compreender o apego que o público já conquistaram pela obra e aproveita isso para testar suas emoções; o que leva o cineasta a criar um terceiro ato que consegue ser catártico sem perder sua lógica. Desta forma, Episódio VIII desperta um sentimento que deveria ser mais frequente, mas que é tristemente raro nos grandes blockbusters de hoje: a sensação real de que os personagens estão correndo perigo e que tudo pode acontecer com eles.

Não que o filme acerte em todas as tentativas de gerar impacto (outra palavra-chave), pois existem alguns momentos onde a narrativa aparenta se desviar somente para inserir uma reviravolta e chocar o espectador – e a vice almirante vivida por Laura Dern, por exemplo, marca presença apenas para confrontar e surpreender o piloto Poe Dameron. Aliás, isso nos traz ao maior problema de Os Últimos Jedi, que é o inchaço latente no roteiro de Rian Johnson: novamente seguindo a estrutura de O Império Contra-Ataca (que dividia os personagens em grupos que viviam suas próprias aventuras até que estas se cruzassem no ato final), este oitavo Episódio não repete a fórmula com o mesmo brilhantismo e se perde no meio de trocentos personagens, subtramas e ideias, o que eventualmente cria uma sensação de descontrole e confusão no meio de tantas ações paralelas (não é à toa que, de vez em quando, eu demorava para relembrar o que cada um estava fazendo ali). Para piorar, se os coadjuvantes vividos por Benicio del Toro e Kelly Marie Tran poderiam ser reservados para o Episódio IX, as participações de Finn, BB-8, C-3PO e R2-D2 são reduzidas de maneira decepcionante. E quando parecia que a história já estava suficientemente bagunçada, surge ainda a Capitã Phasma para perpetuar a ideia de que esta é uma personagem concebida com o propósito único de vender action figures.

Assim, é um milagre que a montagem de Bob Ducsay consiga impedir que o filme se torne um caos completo e, de quebra, ainda costure a narrativa com um dinamismo eficaz, fazendo com que os extensos 152 minutos de projeção fluam relativamente bem. Ducsay que, diga-se de passagem, merece prêmios por seu desempenho aqui: transformando Os Últimos Jedi no longa mais ambicioso da saga em termos de montagem, o profissional acerta ao preservar as antigas tradições estéticas de Star Wars (como as transições que envolvem cortinas e íris que fecham ou abrem) e, ao mesmo tempo, adicionar uma identidade própria à maneira como a história é construída, com direito a raccords elegantes e imagens de uma floresta que são mostradas enquanto a protagonista treina sua percepção da Força. Mas justiça seja feita: parte deste mérito também se deve à ousadia de Rian Johnson, que realiza algumas passagens surtadas até mesmo para os padrões de Star Wars – e a (belíssima) cena onde certa personagem embarca numa viagem alucinada é uma aula de design sonoro, com um estalar de dedos múltiplo que vai crescendo até chegar na figura em primeiro plano.

Pois assim opera a direção de Rian Johnson, que cria alguns dos momentos mais empolgantes da série (como o já citado duelo que ocorre no clímax) e também alguns dos mais criativos (é particularmente fantástico que o cineasta exiba uma leve influência do Rashomon de Akira Kurosawa para ilustrar várias visões distintas sobre um único acontecimento). E se a batalha espacial que abre o filme é problemática, falhando em estabelecer com cuidado o posicionamento de cada herói ou vilão no espaço, aos poucos as sequências de ação vão melhorando e atingem o primor absoluto no instante em que Rey e Kylo Ren lutam numa sala avermelhada. Já o senso de humor mostra-se bem mais irregular que em O Despertar da Força e Rogue One: se a gag visual que “transforma” uma espaçonave num objeto bem menos impressionante é digna de aplausos, as piadinhas ironizando o general Hux começam a se tornar cansativas depois de um tempo.

Revelando detalhes inéditos sobre como a Força pode ser utilizada, Os Últimos Jedi expande um elemento que já parecia suficientemente desenvolvido nesta franquia, trazendo sequências onde personagens dominam o recurso de maneira surpreendente (de novo esta palavra) e deixando claro que não é preciso ser necessariamente um Jedi ou um Sith para usufruir da Força (esta independe de pessoas para existir) – e talvez seja por isso que, desta vez, consegui sentir o caráter religioso que envolve essa mística. Para completar, é fascinante que Episódio VIII insira pequenos comentários políticos sem sucumbir à obviedade tediosa dos prequels, criticando pontualmente a indústria armamentista e retratando a selvageria que o capitalismo pode propagar com a desigualdade social. (Só é uma pena que este tema específico integre a parte mais aborrecida do filme: quando Finn, BB-8 e Rose vão a Canto Bright, constantemente me peguei torcendo para que a narrativa voltasse a se concentrar na dinâmica entre Rey e Luke.)

Por falar nisso, Os Últimos Jedi faz jus à imaginação farta que sempre caracterizou Star Wars, exibindo uma criatividade admirável na hora de detalhar ainda mais o universo criado por George Lucas – e, neste sentido, o designer de produção Rick Heinrichs merece elogios pela elegância do salão de Snoke (cuja intensidade no vermelho remete a um sangramento) e pela inventividade existente em Canto Bright, concebido como um planeta-cassino projetado apenas para que os ricos continuem a subjugar os desfavorecidos. E se os efeitos práticos seguem se mesclando com inteligência à computação gráfica (ainda que esta mostre-se artificial demais aqui e ali), a fotografia de Steve Yedlin dá origem a imagens extraordinárias (como aquela que traz certo personagem sentado diante das cores laranjas do sol) e volta a combinar tons de vermelho e azul para simbolizar a diferença entre os dois lados da Força.

Já o elenco cumpre apropriadamente sua função: Daisy Ridley continua conferindo carisma a Rey, cuja evolução constante já a afastou daquela garotinha que era no começo do Episódio VII; Adam Driver se sai muitíssimo bem ao conduzir Kylo Ren de um moleque escandaloso para um vilão que, embora preserve sua imaturidade característica, acaba conquistando um status realmente ameaçador; Oscar Isaac tem a oportunidade de transformar Poe Dameron num herói ainda mais divertido e interessante, já que aparece bem mais desta vez; e Carrie Fisher exibe uma força (com inicial minúscula) admirável ao retornar à general Leia – o que só agrava a tragédia que é saber que esta foi sua última performance no Cinema. Mas o grande destaque é mesmo Mark Hamill, que mantém uma aura jovial ao mesmo tempo em que transforma Luke Skywalker numa figura sombria, como se lutasse para não voltar a acreditar nos ideais que defendeu no passado.

Beneficiado pelas composições do genial John Williams (que, aqui, entrega um trabalho bem mais inspirado do que em O Despertar da Força), Os Últimos Jedi se transforma numa sequência ininterrupta de arrepios e boas emoções a partir da segunda metade. Sim, é verdade que, até lá, o filme quase me fez crer que estava assistindo ao pior Episódio desde Ataque dos Clones, mas quando chega uma cena envolvendo o delírio de certa personagem, a trama desponta de vez e comprova que Rian Johnson merece continuar nesta franquia (o que felizmente ocorrerá).

É um longa certamente preocupado com o impacto, mas este é (quase) sempre usado para enriquecer a narrativa e dá origem àquele que talvez seja o mérito mais inusitado deste Episódio VIII: o fato de ter ao mesmo tempo tudo e nada a ver com Star Wars.

Mais para explorar

Cidade; Campo | Crítica

Um filme que funciona sempre que se concentra nos toques, detalhes e respiros mais íntimos de suas personagens,

O Corvo (2024) | Crítica

É uma pena que essa nova adaptação seja tão fraca, já que o projeto como um todo parte de ideias interessantes, que tinham tudo para dar certo.

O Corvo (1994) | Crítica

Uma fábula gótica tão expressiva e impactante visualmente que fica difícil não se deixar levar pela ambientação daquela história e pela abordagem cartunesca do diretor Alex Proyas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *