Uncharted

Título Original

Uncharted

Lançamento

17 de fevereiro de 2022

Direção

Ruben Fleischer

Roteiro

Rafe Lee Judkins, Art Marcum e Matt Holloway

Elenco

Tom Holland, Mark Wahlberg, Sophia Ali, Antonio Banderas, Tati Gabrielle, Rudy Pankow, Pilou Asbæk, ElrubiusOMG e Nolan North

Duração

116 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Arad, Ari Arad, Charles Roven e Alex Gartner

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Nathan Drake e seu parceiro canastrão Victor “Sully” Sullivan embarcam em uma perigosa busca para encontrar o maior tesouro jamais encontrado. Enquanto isso, eles também rastreiam pistas que podem levar ao irmão perdido de Nathan.

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Uncharted: Fora do Mapa | Crítica

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Enquanto assistia a Uncharted, nova tentativa de Hollywood de adaptar um videogame de sucesso para as telonas, fiquei constantemente me perguntando quem era o(a) diretor(a) responsável por aquele filme, já que a informação havia me escapado por completo e, para a minha surpresa, o longa se mostrava relativamente funcional e divertido em sua proposta. Uma surpresa que se tornou ainda maior quando a projeção chegou ao fim e constatei, nos créditos, que o cineasta por trás daquela empreitada era Ruben Fleischer, cuja carreira pregressa, com exceção de Zumbilândia (seu longa de estreia), é composta basicamente por mediocridades como Caça aos Gângsteres, Venom e Zumbilândia 2. Sinal de que bons resultados podem vir até das fontes que julgamos mais improváveis.

Baseado na popular série de games criada pela Naughty Dog (responsável pelos dois The Last of Us), Uncharted acompanha o jovem Nathan Drake, que, há anos sem saber o paradeiro de seu irmão (o único parente que talvez esteja vivo), agora trabalha como barman e aproveita sua posição para roubar sorrateiramente os clientes que serve, levando joias, relógios e outros objetos de valor sem que os donos percebam. Isto muda, porém, quando Nathan falha em furtar Victor Sullivan, um caçador de tesouros que, obviamente, é muito mais experiente em golpes do que ele. Em vez de repreender o garoto, contudo, o sujeito resolve convidá-lo para uma missão que, se bem-sucedida, trará montanhas de dinheiro aos dois: encontrar o tesouro perdido de Fernão de Magalhães (navegador que provou que a Terra não era plana ao completar a primeira circunavegação da História) antes que o inescrupuloso magnata Santiago Moncada o conquiste.

Como já deu para perceber, Uncharted se apresenta como uma típica aventura de caça ao tesouro, bebendo de uma fonte que inclui desde as cinesséries dos anos 1930 e 1940 até as obras influenciadas por aquelas, como A Múmia, A Lenda do Tesouro Perdido, Jumanji (o original e as continuações) e, claro, Indiana Jones – e, neste sentido, Ruben Fleischer se sai relativamente bem, compondo uma atmosfera escapista que funciona sem depender de referências a outros filmes e que é bem amarrada pelos montadores Chris Lebenzon e Richard Pearson, que conferem o ritmo e o dinamismo exigidos por uma narrativa como esta. Por outro lado, Fleischer jamais consegue trazer voz e personalidade próprias à trama: talvez pelo fato de ser baseado num game que já era influenciado por todas as obras que citei anteriormente, Uncharted soa… pouco inspirado, limitando-se a seguir o bê-á-bá de “coisas obrigatórias em qualquer filme de aventura” e esquecendo-se de incluir quaisquer elementos que o tornem único, que incutam frescor ao projeto.

Em compensação, Fleischer merece pontos pela forma com que conduz as sequências de ação, que buscam incorporar as possibilidades gráficas herdadas do game e – o mais importante – não têm medo algum de elevar as lutas e perseguições ao limite do absurdo, chegando a encostar na beirada do ridículo sem qualquer constrangimento – algo que já fica claro na sequência que abre a projeção e que, acreditem, faz o clímax de 007 – Marcado para a Morte parecer conciso em comparação, inserindo na mesma dinâmica um avião cargueiro, caixas enormes penduradas do lado de fora, um carro desgovernado e pessoas em queda-livre sem paraquedas (e é uma proeza de Fleischer que tudo isso seja retratado de forma visualmente clara e inteligível, permitindo ao espectador sempre entender as ações dos personagens e a posição destes no espaço que ocupam). Da mesma forma, o terceiro ato amarra a abordagem propositalmente absurda do longa ao conceber uma espécie de “batalha naval aérea” (!) que nem o mais exagerado dos Piratas do Caribe poderia imaginar, remetendo mais uma vez ao escapismo visual e gráfico dos games.

Povoado por personagens geralmente divertidos e interessantes, Uncharted é protagonizado por um Tom Holland que, é preciso dizer, demora um pouco a funcionar: excessivamente preso à persona de “jovem ingênuo e desastrado, mas com bom coração” que construiu na série Homem-Aranha (algo que fica óbvio no primeiro “I’m so sorry!” que Nathan diz a um capanga que sem querer neutraliza na cena inicial), o jovem intérprete custa a encontrar algo que confira identidade própria ao herói da vez – e é um alívio que aos poucos o longa conceda, ao personagem, uma vigarice que permite a Holland trabalhá-lo com charme e malemolência particulares. Já Mark Wahlberg encarna Sullivan como um sujeito cuja ambição quase patológica não o torna menos imaturo ou bem-humorado, atravessando um arco que consiste justamente em crescer junto com Nathan, ao passo que Sophia Ali faz o que pode para injetar carisma e simpatia a uma personagem que o próprio filme não parece saber a que vem. Para completar, Antonio Banderas cria um vilão desinteressante e cujas motivações são estabelecidas de forma superficial em uma única cena, delegando a Tati Gabrielle o posto de antagonista mais marcante da obra – um posto que a atriz tenta assumir com dignidade, mas é sabotada pela falta de presença da personagem.

Pecando pelo excesso de “mudanças de lado” dos personagens (quando fulano(a) se revela bandido(a) em vez de mocinho(a), sentimos que a mudança foi mais para provocar um impacto imediato e descartável do que para contribuir com a narrativa), Uncharted é um passatempo simples, mas honesto e funcional. E, considerando o histórico desastroso de adaptações de videogames para o Cinema, isto já é o suficiente para representar um bem-vindo avanço.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

 

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde: use máscara, mantenha uma distância segura dos demais espectadores, evite se aglomerar e – o mais importante – vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República (ou mesmo seu ministro da Saúde): vacine-se e proteja-se. #ForaBolsonaro)

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