Lançado em 2009 sob o comando do então estreante Ruben Fleischer, Zumbilândia era uma comédia divertida, protagonizada por personagens absurdos e capaz de envolver o espectador em uma atmosfera sempre bem humorada. Seu roteiro estava longe de ser genial, é verdade, mas isto era compensado pela irreverência do projeto ao parodiar a batida temática do “apocalipse zumbi” (mesmo sem se igualar a Todo Mundo Quase Morto neste sentido). A boa notícia é que a maioria dos elementos responsáveis pelo sucesso daquele filme também estão presentes em Zumbilândia: Atire Duas Vezes; a má é que raramente eles são utilizados com a mesma sagacidade.
Novamente escrito por Rhett Reese e Paul Wernick (Deadpool e Deadpool 2), Zumbilândia 2 agora conta com a participação de um terceiro roteirista (David Callaham) e se passa exatamente dez anos após os eventos retratados no filme anterior. Ao longo da última década, Columbus, Tallahasse, Wichita e Little Rock passaram a se considerar uma família, prosseguindo com a sua peregrinação pelos Estados Unidos devastados pela epidemia zumbi em busca de novos lugares para sobreviver. Depois que Little Rock, agora uma jovem de 22 anos, resolve fugir com um namorado para viver em um acampamento hippie, no entanto, Columbus, Tallahasse e Wichita decidem partir em uma jornada atrás da garota – e, no caminho, um monte de coisas acontecem. E… é basicamente isto.
De volta ao comando daquele universo, o diretor Ruben Fleischer resgata vários elementos visuais que marcaram o Zumbilândia de 2009, como a câmera lenta empregada na estilizada sequência de créditos iniciais e os letreiros que indicam as “regras” seguidas pelos protagonistas (inclusive, há momentos em que as informações contidas nestes letreiros complementam gags que ficariam incompletas se dependessem somente dos diálogos falados, o que é interessante). Além disso, as sequências de ação mantêm um equilíbrio eficaz entre a violência gráfica e o humor absurdo, destacando-se também ao serem dirigidas de maneira sempre dinâmica, bem ritmada e organizada em termos de mise-en-scène (se considerarmos que o trabalho anterior de Fleischer foi o pavoroso Venom, concluímos que houve, sim, uma melhora significativa).
Por outro lado, Zumbilândia 2 não demonstra nenhuma evolução notável quando comparado ao seu antecessor, soando anacrônico como se tivesse sido produzido em 2009 e guardado para ser lançado dez anos depois. Isto também se aplica ao roteiro de Reese, Wernick e Callaham, que, na maior parte do tempo, se preocupa não em criar algo novo, mas em reciclar os melhores momentos do original e reverenciá-lo na medida do possível, como se o fan-service compensasse a falta de imaginação (se antes tínhamos a velhinha vencedora do prêmio de “melhor morte da semana”, agora temos três vencedores do troféu “melhor morte do ano”, por exemplo). Como se não bastasse, o roteiro não exibe o menor cuidado ao construir a narrativa, enfiando à força um monte de desvios na história, personagens dispensáveis e situações que talvez devessem ter sido reservadas para um possível Zumbilândia 3 (como toda a sequência envolvendo os doppelgängers de Columbus e Tallahasse).
Isto, em parte, se deve a um problema central do filme: a necessidade que sente de fazer umas quinze piadinhas a cada minuto. (Não, o problema não está no humor – afinal, estamos falando de uma comédia assumidamente pastelão –, mas no desespero ao tentar fazê-lo.) Soando como uma metralhadora de comentários sarcásticos/referências pop/gags envolvendo peidos e arrotos, Zumbilândia 2 é um daqueles filmes que confundem “velocidade” com “bom humor”, investindo constantemente em cenas nas quais os personagens saem recitando seus diálogos com rapidez como se isto, por si só, fosse a coisa mais engraçada do mundo – e, para cada piada inspirada (como aquela que gira em torno da ideia do Uber), existem outras cinco que se estendem além do necessário (como aquela que traz dois personagens comparando seus manuais particulares de sobrevivência). Para piorar, o longa subestima a inteligência ao fazer questão de autoexplicar suas gags mais inteligentes, sendo particularmente ridículo, por exemplo, que Columbus faça uma menção ao ciborgue T-800 apenas para, em seguida, nos lembrar do filme ao qual ele pertence (O Exterminador do Futuro).
Ainda assim, Zumbilândia 2 não deixa de ser favorecido pelo carisma de seu elenco – mesmo que este seja frequentemente sabotado pela fragilidade do roteiro. Mais uma vez conferindo intensidade e inocência a Columbus, Jesse Eisenberg estabelece uma química eficiente com Emma Stone, que, por sua vez, encontra em Wichita a oportunidade perfeita para exemplificar seu timing cômico (constantemente esquecido pelos projetos dos quais participa), demonstrando um talento notável para o deboche. Já Woody Harrelson volta a retratar Tallahasse como uma figura divertidamente insana, ignorante e propensa à violência (ainda que as piadinhas envolvendo sua adoração por Elvis Presley soem eventualmente forçadas), ao passo que Abigail Breslin pouco tem a fazer sob a pele de Little Rock. Infelizmente, a irritante presença de Zoey Deutch arrasta o filme para baixo sempre que ela se encontra em cena, já que sua personagem se limita ao batido estereótipo da “loira burra”.
Longe de ser memorável como o original, Zumbilândia 2 é uma continuação divertidinha, mas que não corresponde à espera de dez anos que a antecipou. E é sempre um mau sinal quando a melhor cena de um filme é aquela que surge durante os créditos finais.