Watchmen

Há 30 anos, Watchmen mudava os quadrinhos

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ATENÇÃO: este texto contém SPOILERS!

1986 foi, para a Nona Arte, um daqueles anos que não voltam nunca mais. Apenas dois meses depois que Frank Miller concluiu seu magistral O Cavaleiro das Trevas, chegava a vez de Alan Moore e Dave Gibbons se juntarem para decretar o fim da inocência nos quadrinhos de super-heróis – e se hoje as publicações da DC Comics, Marvel e afins investem com tamanha frequência na obscuridade e no “realismo”, este efeito certamente deve ser atribuído a Watchmen, maxissérie em 12 edições cujo primeiro exemplar chegava às bancas e comic shops há três décadas. Tornando-se a única história em quadrinhos a ser listada pela revista Time como uma das 100 maiores obras da Literatura mundial, a graphic novel nos apresenta a um universo cruel e brutal onde o pessimismo impera de maneira absoluta enquanto uma resposta é encontrada para a seguinte pergunta: como seria a nossa realidade caso existissem “super-heróis” (não nos esqueçamos das aspas, por favor)?

Escrita por Moore em seu auge (que vinha de V de VingançaA Saga do Monstro do PântanoO Que Aconteceu ao Homem de Aço? e etc), a trama se passa num mundo alternativo onde o ano de 1939 contou com o surgimento dos Minutemen, um grupo de pessoas mascaradas que, inspiradas por quadrinhos de super-heróis, passaram a vestir uniformes espalhafatosos e adotar identidades secretas a fim de fazer justiça com as próprias mãos. O grupo de vigilantes era composto por Coruja, Espectral, Comediante, Capitão Metrópole, Justiça Encapuzada, Silhouette, Dollar Bill e Traça, mas aos poucos a equipe foi se desmantelando até encerrar suas atividades em 1949. Após 13 anos, porém, a Terra encara aquele que talvez seja o evento mais impactante da História: após um acidente numa câmara de testes nucleares, o jovem Jon Osterman transforma-se no Dr. Manhattan, um ser cujos poderes podem caracterizá-lo como uma deidade – o que, claro, leva a sociedade a experimentar múltiplas inovações tecnológicas e faz com que os Estados Unidos ganhem um aliado inigualável.

Partindo para a década de 1970, novos justiceiros passam a agir: Rorschach, Ozymandias, o pupilo do antigo Coruja e a filha de Espectral. Com isso, Capitão Metrópole propõe que estes quatro indivíduos se juntem a ele, Dr. Manhattan e Comediante para criarem uma segunda geração de Minutemen, mas a ideia não vai para frente. Por fim, chegamos a 1977, onde a “Lei Keene” é promulgada e o vigilantismo é proibido (os únicos que seguem na ativa são Dr. Manhattan e Comediante, que trabalham em nome do governo estadunidense) e os “super-heróis” caem no ostracismo por anos. Entretanto, os anos seguintes afundam a Humanidade numa tensão incalculável, onde a União Soviética expande cada vez mais sua influência e a Terceira Guerra Mundial já pode ser considerada uma iminência capaz de aniquilar a população global. Neste contexto, o Comediante é brutalmente assassinado, Dr. Manhattan se exila em Marte, Ozymandias sai ileso de um atentado contra sua vida e Rorschach é preso. Haveria uma perseguição contra antigos justiceiros mascarados ou será que a conspiração vai muito além disto, demonstrando potencial para atingir o planeta Terra inteiro?

Preocupando-se em conceber um universo que soe verossímil quanto à tensão atenuante e ao pessimismo cada vez maior, Alan Moore e Dave Gibbons unem seus talentos para empregar centenas de detalhes que corroboram para que o mundo de Watchmen torne-se rico, consternado e realista: existem silhuetas de um casal se beijando grafitadas numa parede que remetem às sombras deixadas pela cauterização das vítimas no bombardeio de Hiroshima; as ruas de Nova York sempre parecem ter saído de Taxi Driver; a frase “Who watches the watchmen?” (do latim, “Quis custodiet ipsos custodes“, que significa “Quem vigia os vigilantes?“) é vista em pichações o tempo todo; há uma nítida rivalidade entre o New Frontiersman (um jornal de direita a favor do vigilantismo) e a Nova Express (uma revista de esquerda que se posiciona contra as ações dos justiceiros); a empresa de Adrien Veidt (Ozymandias, que revelou sua identidade secreta ao público e enriqueceu com merchandising) pensa em substituir o perfume que vende (Nostalgia) por outro (Millennium) caso a Terceira Guerra Mundial seja impedida; as notícias que vêm a respeito dos conflitos internacionais jamais deixam de preocupar a população; o presidente Richard Nixon não só manteve seu cargo como ainda se reelegeu várias vezes graças ao misterioso assassinato dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein (aqui fica um adendo: assistam a Todos os Homens do Presidente); e, para completar, os Estados Unidos venceram a Guerra no Vietnã devido à presença de Dr. Manhattan e Comediante.

Além disso, Moore é sábio ao incluir personagens quaternários estrelando mini-arcos dramáticos numa esquina de Nova York (estou me referindo ao jornaleiro, ao rapaz que lê quadrinhos de piratas na banca, ao casal de lésbicas, à dupla de detetives e o psiquiatra da prisão onde Rorschach se encontra), pois quando boa parte da cidade é obliterada no fim da graphic novel, conseguimos sentir o impacto que aquela destruição causou aos cidadãos comuns. Como se não bastasse, tanto Moore quanto Gibbons merecem destaque pela genialidade com que inserem diversos detalhes pequenos e simbólicos que invariavelmente tendem a enriquecer a obra: em certo ponto da trama, alguns personagens brigam numa banca de jornal até que chega uma notícia que é de interesse em comum e, por conta do interesse mútuo, o confronto é apartado (situação esta que, de certa forma, serve como uma “rima narrativa” com aquilo que virá a acontecer no desfecho da HQ). E se citei no parágrafo anterior que a companhia de Veidt pensava em substituir o perfume Nostalgia por outro chamado Millennium caso não houvesse uma guerra, é brilhante notar que uma das últimas páginas da HQ traz um outdoor promovendo esta segunda marca.

Mais interessante ainda é notar como o trabalho de Moore e Gibbons é complexo ao ponto de levar o leitor a captar novas informações à medida que relê a história (e me chama a atenção que o octópode alienígena sintético que aparece no último capítulo tenha seu design esboçado em certo ponto da narrativa). E, claro, temos o relógio que serve como um trocadilho para Watchmen (que, em tradução literal, seria “vigilantes”; mas também poderia ser “homens-relógio”), surgindo desde os acidentes que levaram à criação de Dr. Manhattan até bombas e o contador do “juízo final” (e aqui cabe uma pequena observação: esta maxissérie conta com uma dúzia de edições, assim como o número de ponteiros de um relógio, que são 12). Concluindo, há a icônica carinha sorridente manchada com sangue – um símbolo que, por si só, já resume perfeitamente o fenômeno cultural que Watchmen representa: a ingenuidade sendo corrompida com um traço notável de ferocidade. Se antes os super-heróis eram lúdicos e pitorescos, depois as editoras passariam a mergulhar cada vez mais na sisudez e em abordagens adultas.

Melhor ainda é constatar que uma das maiores forças de Alan Moore marca presença aqui da melhor maneira possível: encarando o roteiro como algo feito exclusivamente para a Nona Arte, o autor realiza um trabalho que dificilmente poderia ser traduzido para outros meios artísticos (como Cinema, tevê e etc) sem perder boa parte de sua complexidade – e se V de Vingança contava com um capítulo que trazia uma partitura original (ou seja: quem soubesse lê-la poderia imaginar uma “trilha sonora” para a HQ), Watchmen se aventura em exercícios de metalinguagem fabulosos que não só enriquecem o universo onde a trama se passa como ainda estabelecem paralelos instigantes com a história principal. Foi assim que Moore e Gibbons concluíram que, caso existissem no mundo real, os super-heróis não seriam tão interessantes dentro da ficção e, por isso, não permaneceriam nos quadrinhos por tantas décadas; e aí o ilustrador sugeriu que, nesta graphic novel, os contos estrelados por piratas dominariam das HQs. Daí nasceram os Contos do Cargueiro Negro, que dividem as páginas que enfocam as conversas entre o jornaleiro e outras pessoas que temem uma guerra nuclear, servindo para fortalecer a ideia de que a Terra está isolada (principalmente com o exílio de Dr. Manhattan) e localizada num cenário absolutamente caótico onde o pessimismo se justifica através do pânico.

Para tornar a experiência ainda mais densa, Moore e Gibbons tomam outra decisão que, em outra mídia, certamente resultaria num fracasso amargo: ao final de cada capítulo (com a exceção do último), há a inclusão de trechos de livros, jornais, revistas, cartas e fichas criminais fictícias existentes dentro da realidade de Watchmen. Assim, sempre que chegamos ao fim de uma das 11 edições da obra, encontramos, por exemplo, algumas páginas extraídas de Sob o Capuz, a autobiografia que Hollis Mason (o primeiro Coruja) lançou revelando várias facetas a respeito de sua vida pessoal e dos Minutemen (e a história de Moe Vernon, em especial, é de cortar o coração). São diversas informações que tornam a HQ bem mais realista e verossímil que o esperado, expondo detalhes como as negociações que levaram à produção de um filme sobre Espectral I, abordando o impacto que Dr. Manhattan causou no estilo de vida do mundo inteiro, apresentando uma entrevista bem intrigante com Ozymandias (onde o repórter, inclusive, se impressiona com o fato de que aquele ícone super-heroico fez uma piadinha informal envolvendo cocaína) e desenvolvendo as intrigas ideológicas que existem entre o New Frontiersman e a Nova Express.

Ainda assim, o motivo que realmente faz de Watchmen o clássico revolucionário que é encontra-se na natureza mundana e, por vezes, imperfeita daqueles “super-heróis”: alguns destes personagens exibem comportamentos sociopatas e tomam atitudes que não podem ser descritas como “heroicas”; a primeira Espectral, Sally Juspeczyk, errou ao tentar criar sua filha Laurie para ser uma vigilante; Hollis “Coruja I” Mason escreveu uma autobiografia revelando que um bandido quase o matou ao puxar sua máscara e tampar seu campo de visão; Silhouette foi afastada dos Minutemen depois que se declarou lésbica, algo que poderia “manchar” a reputação da equipe (lembrem-se: estamos na década de 1940, onde a sociedade era ainda mais injusta e discriminatória); Dollar Bill foi trabalhar para um banco e morreu baleado quando sua capa ficou presa numa porta giratória (aposto que isso influenciou a Edna Mode de Os Incríveis); Traça foi internado num hospício depois de anos; e, como já foi dito, Adrian Veidt encontrou meios de capitalizar em cima de sua imagem de Ozymandias. E afinal, como não admirar uma obra que traz um justiceiro mascarado deixando um criminoso escapar porque precisou urinar urgentemente? É aí que surge Edward “Comediante” Blake, um “herói” (agora as aspas são mais que necessárias) que tentou estuprar Espectral I, matou mulheres grávidas a sangue frio, agrediu pesadamente manifestantes e se envolveu em assassinatos bastante nebulosos – e o mais peculiar no personagem é sua visão de mundo distorcida onde tudo não passa de uma mera piada, algo que se reflete em sua personalidade tremendamente arrogante e debochada que jamais deixa de menosprezar o que está à sua volta.

Pois eis que vem o questionamento: como uma sociedade – acostumada com vigilantes que nada mais são que pessoas normais – reagiria à chegada de um ser superpoderoso cujas habilidades especiais se equivalem a de divindades? É assim que começam as discussões entorno de Dr. Manhattan, que não só traz avanços tecnológicos impressionantes (agora, os carros elétricos existem graças ao lítio sintético produzido pelo personagem) como ainda altera drasticamente o curso da História (afinal, foi graças a ele que os Estados Unidos venceram a Guerra do Vietnã). Em outras palavras, pode-se dizer que o repórter que usou a frase “Superman existe, e ele é americano” para descrever a criatura azul na qual Jon Osterman se transformou esteve certo ao se corrigir posteriormente, dizendo que a afirmação correta seria “Deus existe, e ele é americano“; e não é por acaso que, nas últimas páginas do capítulo final, ele aparece caminhando sobre águas como se fosse Jesus Cristo (e isso antes de assumir a postura de um Criador ao anunciar que procurará outra galáxia para criar vida). Não é difícil entender, portanto, o porquê da população internacional se sentir vulnerável depois que Dr. Manhattan abandona a Terra e parte para Marte – e se considerarmos que a União Soviética estava expandindo monstruosamente sua influência, podemos dizer que Osterman basicamente trocou um mundo vermelho por outro.

E com tanto poder em mãos, não é de se espantar que o “herói” (se é que podemos descrevê-lo assim) aos poucos comece a de desapegar da raça humana e das convenções sociais; algo que se reflete em suas roupas, que, de 1959 até 1985, começam a surgir em menor escala até o personagem estar completamente nu. Enxergando as pessoas como uma coisa tão prosaica que chega a ser irrelevante (“Um corpo humano vivo e um morto tem o mesmo número de partículas. Estruturalmente, não há diferença discernível“), Dr. Manhattan só é convencido da real importância que a vida tem depois que percebe o quão fisicamente excepcional ela é em sua concepção, definindo-a como um “milagre termodinâmico” – e imprevistos não faltam na trajetória de Osterman, que só foi convertido num indivíduo superpoderoso graças a uma série de pequenos acidentes envolvendo relógios (percebam o simbolismo mais uma vez) que, no fim das contas, resultaram em consequências extraordinárias. Este item que representa o tempo é tão significativo em sua vida que, ao se exilar em Marte, ele logo cria uma imensa arquitetura de vidro cuja aparência é notavelmente inspirada em engrenagens de relógios; encerrando aquele que é, para mim, um dos melhores capítulos da HQ.

Por sua vez, Walter “Rorschach” Kovacs pode ser interpretado como uma leitura mais realista do Batman: remetendo ao Travis Bickle de Taxi Driver, o vigilante ilegal vê a sociedade como um esgoto imundo prestes a transbordar e explora o submundo de Nova York com um repúdio imenso contra tudo que ele considera “podre”, como crime e sexo – e se isto poderia soar raso, o roteiro de Alan Moore desenvolve as motivações por trás do personagem com uma morbidez que, querendo ou não, se aplica à realidade em que vivemos. Desta maneira, a aversão ao sexo provém do trauma carregado a partir do momento em que Walter, quando era criança, viu sua mãe se prostituindo e esta deu um tapa na cara do menino dizendo que deveria “tê-lo abortado“. Enquanto isso, a filosofia que o anti-herói carrega de que “o mal deve ser punido mesmo quando o mundo está para acabar” foi plantada na cabeça de Kovacs desde que ele testemunhou um estupro seguido de assassinato e decidiu assumir a identidade de Rorschach, cobrindo seu rosto com um tecido com manchas que se movem criado pelo Dr. Manhattan antes de fracassar no salvamento de uma menina sequestrada e devorada por cachorros; evento este que levou Walter a “sumir”. Daí em diante, Kovacs seria a identidade secreta de Rorschach – e se a maioria dos super-heróis esconde seus nomes e informações civis para evitar que inimigos atentem contra a vida de seus entes queridos, este personagem de Watchmen repele Walter Kovacs porque, para ele, é Rorschach quem realmente importa e está vivo em seu âmago.

Já Coruja II representa o que talvez seja o lado mais amargo dos justiceiros: fascinado pelo super-heroísmo desde que era criança, Daniel Dreiberg parece estar tentando realizar seu sonho de infância sem nunca obter o êxito que esperava; algo que tende a torná-lo desiludido e desgostoso. É interessante que, às vezes, uma frase é o suficiente para definir toda a síntese de um personagem: ao dizer que os apetrechos que utiliza “são um exagero para quem quer prender prostitutas e trombadinhas“, Dan explicita que tentou viver numa fantasia onde armas tecnológicas, naves, exoesqueletos e uniformes variados o transformariam no super-herói que sempre quis ser – e ao notar que estes esforços seriam de pouca relevância e se inutilizariam após a sanção da “Lei Keene”, Dreiberg vive pesaroso e sente-se incompleto ao ponto e broxar tentando fazer sexo com Espectral II. Não é por acaso que, após um ato heroico num prédio em chamas, Coruja II prontamente supera sua impotência e preenche o vazio que havia em seu interior. Por falar em Espectral II, Laurie Juspeczyk complementa o panorama dos heróis complexados ao deixar bem claro que, ao contrário do que é de esperar, ela não se mostra nem um pouco atraída pela ideia de vestir uma roupa cafona e lutar contra bandidos, carregando um peso nas costas por conta da sensação de que não está realizando suas vontades, mas as de sua mãe.

Finalizando os personagens, temos aquele que é um dos mais complexos e subversivos: Ozymandias, um herói/empresário inteligente ao ponto de perceber as situações que a Terra enfrentará num futuro próximo e aproveitar para obter dinheiro através da Terceira Guerra Mundial ou do impedimento da mesma. Visando seguir os mesmos passos de Alexandre da Macedônia, Adrian Veidt enriquece sozinho graças ao seu intelecto majestoso e põe em prática a ideia de “mundo unificado” – aproveitando as circunstâncias para aproveitar e salvar a Humanidade: provocando uma tragédia impactante ao ponto de induzir as potências globais a desistirem dos conflitos nucleares para que pudessem se unir em prol de um objetivo em comum. O curioso é que, por mais narcisista e egocêntrico que pareça – ou talvez até seja mesmo -, Ozymandias não encara com frieza ou superioridade o fato de que terá de matar milhões de pessoas para salvar o resto do planeta (algo que se comprova preservando quando analisamos que, desde o princípio, Veidt preserva uma expressão triste e melancólica, como se estivesse triste graças à desgraça que conceberá).

Criando imagens absolutamente imponentes (como aquela onde um gigantesco Dr. Manhattan mata vietcongues minúsculos) e reverenciando a Era de Ouro dos heróis através das roupas trajadas pelos Minutemen (que lembram o visual da Sociedade da Justiça), o ilustrador Dave Gibbons merece aplausos pela profundidade de detalhes que existem em cada quadro da HQ, destacando-se os pôsteres de um filme onde alienígenas invadem a Terra (algo que tem a ver com o que ocorre no fim da graphic novel) e as imagens divulgando um mecânico “especialista em modelos ultrapassados” (o que reflete a condição emocional de Coruja II e do vigilantismo de modo geral). Aliás, o trabalho do colorista John Higgins é digno de nota por fugir da obviedade e, de quebra, remeter ao passado dos super-heróis nos quadrinhos: se o mais previsível seria investir em tonalidades sombrias que indicassem o quão séria e adulta é a obra, Higgins acerta ao apostar em cortes fortes que enchem os olhos do início ao fim – e o quinto capítulo (intitulado Terrível Simetria), por exemplo, é genial ao manter uma lógica no uso de cores nos quadros da primeira e última páginas (e o que se vê nas ilustrações iniciais é bem parecido com o que é encontrado nas finais).

A partir de Watchmen (e O Cavaleiro das Trevas), nada seguiria sendo a mesma coisa nos quadrinhos de heróis. E o que torna a graphic novel tão poderosa é o simples fato de que, quando a lemos, somos capazes de imaginar aqueles suntuosos combatentes do crime agindo nas ruas de nosso mundo, questionar se a presença de um Super-Homem seria genuinamente benéfica no mundo real e descobrir que, antes de ícones, estes justiceiros são seres humanos falhos como os que encontramos a cada esquina.

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