O Corvo 1

Título Original

The Crow

Lançamento

13 de maio de 1994

Direção

Alex Proyas

Roteiro

David J. Schow e John Shirley

Elenco

Brandon Lee, Rochelle Davis, Ernie Hudson, Michael Wincott, Bai Ling, Sofia Shinas, Anna Levine, David Patrick Kelly, Angel David, Laurence Mason, Michael Massee, Tony Todd, Jon Polito, Bill Raymond e Marco Rodríguez

Duração

102 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Edward R. Pressman e Jeff Most

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Na noite antes de seu casamento, o músico Eric Draven e sua noiva são brutalmente assassinados por membros de uma gangue violenta do centro da cidade. No aniversário da sua morte, Eric sai de sua sepultura e assume o manto gótico do Corvo, um vingador sobrenatural, rastreando os bandidos responsáveis pelo crime que os assassinaram impiedosamente. Eric finalmente confronta o líder gangster Top Dollar para completar sua missão macabra.

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O Corvo (1994) | Crítica

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É óbvio que eu já tinha ouvido falar em O Corvo, adaptação de 1994 dos quadrinhos independentes criados cinco anos antes por James O’Barr. Já vi por aí um milhão de imagens promocionais do filme pipocando Internet afora e, claro, cresci ouvindo falar na trágica história de seu astro principal, Brandon Lee (filho de Bruce), que, como todos sabem, morreu acidentalmente baleado no set deste longa. Porém, mesmo sabendo de toda a mística por trás do projeto (e do status cult que conquistou ao longo dos anos), confesso que nunca tinha assistido a O Corvo até agora. E o resultado é que gostei tanto do filme que fiquei até arrependido por não tê-lo visto antes!

Escrito por David J. Schow e John Shirley, o roteiro acompanha Eric Draven, um roqueiro vítima de homicídio que, na Noite do Demônio (uma data às vésperas do Halloween em que os criminosos de Detroit começam a incendiar vários pontos da cidade), retorna dos mortos para se vingar dos bandidos que, um ano antes, mataram violentamente ele e sua noiva, Shelly. Para isso, Eric conta com o apoio de um corvo místico que ajuda a guiá-lo pela cidade enquanto localiza seus assassinos – e, ao longo de sua jornada de vingança, o protagonista conta com a parceria do sargento Albrecht e de Sarah, uma menina que se envolve na trama de forma inesperada.

De minha parte, confesso que fiquei encantado já no plano que abre a projeção, com a câmera sobrevoando Detroit tomada por um vermelho/laranja hiper estilizado (sem medo algum de soar artificial) até aproximar-se de uma janela e atravessar o vidro desta. Daí para frente, O Corvo é uma fábula gótica tão expressiva e impactante visualmente que fica difícil não se deixar levar pela ambientação daquela história e pela abordagem cartunesca do diretor Alex Proyas (que quatro anos depois dirigiria Cidade das Sombras). Ao mesmo tempo que há um senso de pesar e melancolia em cada plano do filme (fazendo jus à própria premissa da trama, que parte de uma tragédia), há também um interesse muito claro em abraçar as origens fabulescas, absurdas e até caricatas das HQs. Lembra um pouco o que Tim Burton fez em seus dois Batmans (a associação é inevitável; são adaptações – góticas! – quase da mesma época), mas eleva aquilo a um nível de crueza/agressividade um pouco maior, que transborda mais raiva.

E, assim como os longas de Burton, O Corvo é um filme cuja construção plástica enche os olhos do primeiro ao último plano; a união de Proyas e do diretor de fotografia Dariusz Wolski resulta numa sucessão de planos que sempre se mostram sempre imaginativos em sua composição (na distribuição dos elementos em cada canto do quadro, a fim de produzir um impacto imagético). Por um lado, eles usam brilhantemente as luzes e as sombras para construir uma atmosfera fúnebre, que exala uma energia simultaneamente triste e macabra; por outro, eles também não temem explorar os efeitos visuais, os chroma keys (por mais artificiais que sejam) e as cores gritantes (como o vermelho/laranja daquele mundo em chamas) a fim de criar uma vibe cartunesca. Não importa se vai soar “cafona”; é um mundo de quadrinhos que, portanto, não deveria ter medo algum de explorar suas possibilidades gráficas até o limite (quer algo mais icônico do que aquele plano do Eric formando o desenho de um corvo de fogo no chão?).

E é justamente por se entregar tanto ao absurdo, por assumir com tanto afinco a sua origem fabulesca e deixar claro que não se passa num mundo real, que O Corvo pode se permitir ser tão direto ao ponto em seu desenrolar narrativo/dramático. Não há qualquer tipo de enrolação nem qualquer tentativa fútil de explicar o inexplicável: Eric Draven e sua noiva são assassinados, o protagonista retorna dos mortos, por algum motivo ele agora é praticamente indestrutível (à prova de balas e expert em táticas de luta), um corvo ajuda a guiá-lo em busca de seus assassinos… e é isso, não precisa de mais do que isso; não precisa de porquês. Se o filme tentasse se calcar num pretenso “realismo”, ele não teria a mesma liberdade para se entregar aos seus aspectos mais absurdos; como se declara desde o início como uma autêntica fábula, não precisa ficar perdendo tempo com pormenores. Até a decisão de já começar a história a partir do assassinato de Eric e Shelly, mostrando praticamente nada da relação prévia deles, acaba não sendo um problema, porque o longa se constrói dramaticamente muito mais a partir do luto e de objetivos/conflitos mais práticos (o que importa não é o passado, com a companheira de Eric, mas o presente/agora, com os vilões que ele deve caçar).

É um longa tão bacana e tão interessante que, enquanto estava se desenrolando, eu simplesmente esqueci da história terrível que o envolveu e que o tornou mundialmente conhecido (a morte de Brandon Lee). Não ficou aquela aura macabra/sombria pairando no ar; o que tinha diante de meus olhos era… um filme bom o suficiente para eu não ficar pensando em tragédias extra-fílmicas. (A não ser quando chega no clímax e Albrecht diz a Eric que seu plano é “deixá-lo ir na frente para ir recebendo todos os tiros dos inimigos, já que é invulnerável“, no que Eric responde “Eu já não sou mais invulnerável; agora, quando alguém me dá um tiro, me atinge para valer“. Eita…)

Por fim, um dos aspectos que mais me chamaram a atenção foi… a performance propriamente dita de Brandon Lee. Todas as vezes que vi fotos do personagem dele aqui, eram sempre imagens dele (com aquela maquiagem icônica) fazendo carão. Cara fechada, de bravo. Daí veio minha surpresa em conferir o filme e descobrir que o trabalho de Lee vai muito além disso! Sim, Eric Draven é uma figura obviamente sofrida e atormentada – e isso fica muito claro na composição do ator. Mas ao mesmo tempo, Eric Draven é um personagem surpreendentemente divertido, engraçado, que tem senso de humor, que faz vozes bizarrinhas, que usa de gracinhas para assustar suas presas e exibir seus “poderes” (quando toma um tiro, ele fica uns segundos fingindo estar em agonia apenas para, logo em seguida, virar para o bandido que o baleou e mostrar seu ferimento cicatrizando em poucos segundos. É um (anti-)herói operático em um filme idem.

Até mesmo o vilão, que poderia se limitar a uma casca vazia, tem a chance de se tornar mais interessante graças ao primeiro diálogo do qual participa, em que ele relembra uma frase pesada de seu pai (“A infância termina quando você percebe que vai morrer“). Enfim, O Corvo é sensacional – e como eu gostaria de ter descoberto isso antes…

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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