Megalópolis imagem de topo

Título Original

Megalopolis

Lançamento

31 de outubro de 2024

Direção

Francis Ford Coppola

Roteiro

Francis Ford Coppola

Elenco

Adam Driver, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Giancarlo Esposito, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Kathryn Hunter e Dustin Hoffman

Duração

138 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Francis Ford Coppola, Barry Hirsch, Fred Roos e Michael Bederman

Distribuidor

O2 Play

Sinopse

A cidade de Nova Roma é o cenário de um grande conflito entre Cesar Catilina, um artista idealista, e seu rival, o ganancioso prefeito Franklin Cicero. No meio deles está Julia Cicero, que deve escolher entre a lealdade ao pai e o amor por Cesar, enquanto decide que futuro a humanidade merece.

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Megalópolis | Crítica

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Em tempos em que as salas de cinema são cada vez mais monopolizadas por enlatados multimilionários de estúdios que já não demonstram mais o mínimo interesse em correr riscos ou permitir que vozes realmente autorais tenham vez no território dos grandes blockbusters, é louvável que Francis Ford Coppola tenha conseguido viabilizar uma obra como Megalópolis em plena Hollywood contemporânea. Projeto cuja grandiosidade só não é maior que sua ambição e que já vem sendo gestado pelo cineasta há nada menos que quarenta anos, este é um filme que angaria ao menos parte de minha admiração pelo simples fato de existir – ainda que a sua execução (que é o que importa, afinal) seja irregular a ponto de me impedir de apreciá-lo por completo.

Escrito, dirigido e co-produzido por Coppola, Megalópolis se passa em uma realidade alternativa e se concentra nos administradores da metrópole de Nova Roma, uma combinação da Nova York que bem conhecemos com heranças (que não se perderam) do Império Romano. No meio disso, há uma tensão cada vez maior entre o prefeito Franklyn Cicero, que gerencia Nova Roma na base da pura corrupção (e vê sua popularidade despencar frente à população), e Cesar Catilina, um arquiteto visionário responsável pela concepção visual da cidade e que sonha em revitalizá-la e transformá-la em uma capital futurista, batizada de “Megalópolis”. Enquanto isso, o artista se envolve com Julia, filha do prefeito que se vê dividida entre a fidelidade ao pai e a paixão crescente por Cesar – que também significa, em última instância, um compromisso com o plano utópico do sujeito.

Como experiência sensorial, eu embarquei totalmente na viagem de Megalópolis. Acho que Francis Ford Coppola ecoa muito bem o sentimento de desalento de um império em queda (talvez daqui a umas décadas, as pessoas olhem para esse filme como um ótimo registro do ressentimento que tomava conta dos EUA nesse momento de perda do protagonismo internacional). O ritmo da montagem e a cadência lenta, quase sussurrante, das falas imprime um tom de distanciamento, como se aquele mundo e aqueles personagens estivessem meio que suspensos no tempo (algo crucial tematicamente, inclusive).

Até o fato de a cidade em si parecer estéril, sem vida, como se não houvesse população ou mesmo uma “alma” ali, faz sentido para refletir esse ar de definhamento. Megalópolis é uma terra linda, mas oca, como se abandonada há um tempão. Além disso, há um caráter propositalmente artificial e “plástico” na maneira com que a cidade é apresentada, com que os atores recitam suas falas e com que as cenas se constróem. Isso ajuda a refletir esses tempos de capitalismo tardio em que a “cultura da futilidade” é o “espetáculo de aparências” ditam a tônica contemporânea. Combinado à melancolia que citei anteriormente, isso torna aquele universo ainda mais decadente do que já seria.

O problema é que, armadas as peças, do meio para o fim começa a ficar cada vez mais claro que o fato de Coppola estar há 40 anos trabalhando nesse projeto o fez sair incluindo um monte de referências/comentários sobre eventos que rolaram desde então sem dosá-los. Da queda do império estadunidense até a “indústria das aparências”, ele passa também pela dissolução da União Soviética, pelo 11 de setembro, pela crise econômica de 2008, pela volta do fascismo, pelo 6 de janeiro… Só que vários desses elementos parecem socados à força, sem darem tempo para Coppola desenvolvê-los além da mera citação casual. A escolha de passar a adotar o romance entre Cesar e Julia como centro das atenções, como uma espécie de fio condutor que perpassa todas essas discussões, não ajuda muito, já que toma mais tempo para si do que para o desenvolvimento das problemáticas em si.

Para concluir, embora eu ache bonitinho o otimismo com que Coppola enxerga o futuro da humanidade e o alcance fantástico de nossas possibilidades, há também uma certa ingenuidade que torna o discurso todo meio embananado, meio torto, até meio neoliberal demais. Me parece que, nessa virada (estranhamente muito abrupta) de Cesar de um canalha megalomaníaco e elonmuskiano para um cara idealista que passa a enxergar as virtudes de nossa condição, Coppola não só deixa de perceber a ameaça representada por esses multibilionários como também passa a depositar um voto de esperança neles, como se elucidassem algo na jornada humana. E, ainda que eu tenha elogiado essa ausência de “alma” da civilização de Megalópolis, acho também que ela cobra seu preço lá na frente: quando Cesar declara toda a sua esperança no futuro daquela sociedade, torna-se difícil sentir isso, uma vez que a mesma tinha sido retratada, nas duas horas anteriores, como algo “oco”, como uma casca vazia.

De todo modo, Coppola ter conseguido produzir e lançar isso já é, por si só, um grande feito a ser celebrado. Eu gostei do filme. Há uma discrepância entre a primeira metade (que acho sensacional, me conquistou por completo) e a segunda (que se embola bastante, infelizmente). Sensorialmente, é uma experimentação que aprecio muito; tematicamente, nem tanto.

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