Alice Através do Espelho

Título Original

Alice Through the Looking Glass

Lançamento

26 de maio de 2016

Direção

James Bobin

Roteiro

Linda Woolverton

Elenco

Mia Wasikowska, Johnny Depp, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Rhys Ifans, Matt Lucas, Lindsay Duncan, Leo Bill e vozes de Alan Rickman, Stephen Fry, Michael Sheen, Barbara Windsor, Timothy Spall e Matt Vogel

Duração

113 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Tim Burton, Joe Roth, Suzanne Todd e Jennifer Todd

Distribuidor

Disney

Sinopse

Alice (Mia Wasikowska) retorna após uma longa viagem pelo mundo, e reencontra a mãe. No casarão de uma grande festa, ela percebe a presença de um espelho mágico. A jovem atravessa o objeto e retorna ao País das Maravilhas, onde descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) corre risco de morte após fazer uma descoberta sobre seu passado. Para salvar o amigo, Alice deve conversar com o Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar às vésperas de um evento traumático e mudar o destino do Chapeleiro. Nesta aventura, também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne Hathaway) e Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).

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Alice Através do Espelho | Crítica

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Não dá para entender a razão que levou a Disney resolveu produzir uma sequência da insuportável versão de Alice no País das Maravilhas que Tim Burton comandou em 2010 tanto tempo após seu lançamento. Claro que poderíamos supor que o motivo foi o sucesso comercial daquele que foi o sexto filme a atingir a marca de US$ 1 bilhão nas bilheterias mundiais, mas a pergunta prevalece do mesmo jeito: por que o estúdio esperou seis anos para retomar as aventuras da Alice mais velha no País das Maravilhas, oferecendo um período mais que razoável para que o público pudesse se esquecer completamente daquele longa? Ainda assim, isso não justifica a incompetência deste Alice Através do Espelho, já que até mesmo a mais tola das ideias pode obter resultados bastante eficazes – o que, infelizmente, não passa nem perto de acontecer aqui e o saldo final consegue ser ainda mais reprovável que o da película passada, além de jamais conseguir esconder o fato de que, no fim das contas, não é nada mais que um produto feito sob encomenda.

Novamente roteirizado por Linda Woolverton com base no livro homônimo de Lewis Carroll (o que não faz muito sentido, pois o filme anterior já era um amálgama de Alice no País das Maravilhas com Alice Através do Espelho), o novo projeto se inicia acompanhando as batalhas navais que a agora capitã Alice desbrava quando não está amargando o sexismo que era ainda maior em 1874. Circunstâncias do destino fazem com que a protagonista atravesse um espelho e retorne ao País das Maravilhas, onde se depara com a preocupação de seus antigos amigos diante de um evento pesaroso: o Chapeleiro Maluco encontrou um item relativo à sua infância e entrou em depressão ao lembrar de sua família. Com isso, sua companheira Alice decide voltar no tempo para tentar salvar o seu querido parceiro, confrontando mais uma vez a ameaça da Rainha Vermelha e burlar as regras do Tempo (sim, ele é um personagem). Pois é, esta é a trama – aliás, a fragilidade do longa em termos de história é tão grande que Woolverton nem tenta solucionar, algo que resulta num terceiro ato sem sentido que nem mesmo a própria roteirista parece entender muito bem.

Mas o fracasso narrativo não se restringe somente à premissa ou à conclusão, visto que Alice Através do Espelho ainda se perde constantemente no desenvolvimento dos personagens e de seus arcos particulares (algo que é evidenciado ainda no primeiro ato, quando a protagonista passa o tempo inteiro reafirmando seu interesse em superar o “impossível” sem se dar conta, poucos minutos depois, de sua incredulidade quanto à remota possibilidade da família do Chapeleiro ainda estar viva). Como se não bastasse, o roteiro ainda menospreza e duvida da capacidade do espectador de compreender tudo aquilo que ocorre em tela, incluindo uma série de explicações que apelam para o máximo da obviedade e carrega em diálogos ofensivamente expositivos – e quando a personagem-título descobre que é difícil mudar o passado e diz em voz alta “Não se pode mudar o passado” , minha vontade foi de responder “Sim, eu já entendi! Não precisa me explicar!”. Contudo, poucas atrocidades se igualam a falas específicas que vão de lamentações hilárias de tão teatrais (“Desistir do navio Maravilha, desistir do impossível… O que será de mim?“) até frases de efeito irritantes que surgem o tempo todo (“O único jeito de conquistar o impossível é acreditando que é possível“).

Sim, seria injusto negar que o longa tem alguns atributos (além de acabar): embora também seja retratado a partir de uma caracterização excessivamente cartunesca, tudo aquilo que é relacionado ao Tempo costuma apresentar um grau de criatividade interessante, algo que se aplica aos figurinos trajados pelo personagem, ao seu estilo de vida (sempre arrancando um relógio contido num arsenal paradisíaco para simbolizar a morte de algum ser humano) e ao design de produção de sua moradia e apetrechos. E se ao escrever sobre o primeiro Alice reclamei do filtro que eliminava qualquer charme que poderia haver nas tonalidades do País das Maravilhas, aqui faço questão de destacar o visual vibrante e a paleta de cores que enche os olhos, privilegiadas acertadamente por James Bobin e pelo diretor de fotografia Stuart Dryburgh. Em contrapartida, a computação gráfica – que já soaria irregular em 2010 – revela-se tenebrosa na composição artificial dos cenários e dos personagens digitais, decepcionando tanto quanto o chroma key horroroso que destaca os atores quando estão na frente de paisagens pós-produzidas ou viajando no tempo. Para completar, se as maquiagens surgem bem menos eficientes desta vez e nunca conseguem esconder o fato de que são… maquiagens, o diretor concebe um trabalho que parece mais adequado à linguagem televisiva, capturando os atores através de planos limitados e fechados demais (e o que dizer do instante onde Bobin enfoca um espelho apenas para escancarar que Alice virá a utilizá-lo mais tarde na mesma cena?).

Enfraquecido por um ritmo terrivelmente monótono e entendiante (quando achamos que já se passou meia hora, logo constatamos que só vimos 10 minutos), Alice Através do Espelho traz atores cuja maioria trabalha como se fossem aqueles adultos que fazem palhaçadas tentando agradar bebês como se eles fossem mentalmente problemáticos: Mia Wasikowsa ao menos tenta abandonar a inexpressividade que comprometeu seu desempenho na película anterior, mas peca adotando as expressões faciais mais esquemáticas e novelescas que se pode imaginar; Johnny Depp irrita com uma voz estranhamente fina e um sotaque que parece ter sido inspirado na Sra. Doubtfire de Uma Babá Quase Perfeita (e a maior parte do arco do Chapeleiro Maluco se resume a uma tentativa de extrair drama a partir de situações cuja inofensividade pode ser percebida por qualquer um); Sacha Baron Cohen se esforça e surge como o único personagem com algum tipo de ambiguidade (ele pode ser tanto vilão quanto anti-herói); Helena Bonham Carter beira o intolerável com os gritos incessantes e as expressões faciais histriônicas que sempre incluem biquinhos ou olhos arregalados; e Anne Hathaway desperta raiva com entonação e maneirismos exageradíssimos que parecem pertencer a alguém sob efeito de bebidas alcoólicas. Quanto à presença da voz de Alan Rickman, pode-se dizer que ela gera impacto mais pelo apreço sentido por um voice actor que faleceu há alguns meses do que pelo que ele realmente está falando.

Prejudicado também pela trilha sonora repetitiva e exagerada de Danny Elfman (não há praticamente nenhum instante onde as composições são pausadas ou deixem de querer mastigar cada sensação que o espectador deve sentir ao longo da projeção), Alice Através do Espelho é uma produção que acredita que o conceito de “filme para crianças” se resume a uma coletânea de caretas, diálogos ridículos e ideias ruins disfarçadas de “inocência”.

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