Festa da Salsicha (1)

Título Original

Sausage Party

Lançamento

6 de outubro de 2016

Direção

Conrad Vernon e Greg Tiernan

Roteiro

Seth Rogen, Evan Goldberg, Kyle Hunter e Ariel Shaffir

Elenco

As vozes de Seth Rogen, Kristen Wiig, Jonah Hill, Michael Cera, Salma Hayek, Nick Kroll, David Krumholtz, Edward Norton, Bill Hader, Craig Robinson, Paul Rudd, Danny McBride, James Franco, Anders Holm e Scott “Diggs” Underwood

Duração

89 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Seth Rogen, Evan Goldberg, Conrad Vernon e Megan Ellison

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Dentro de um supermercado, os alimentos pensam que as pessoas são deuses. Eles sonham em serem escolhidos por elas e serem levados para suas casas, onde pensam que viverão felizes. Mas eles nem suspeitam que serão cortados, ralados, cozidos e devorados! Quando Frank, uma salsicha, descobre a terrível verdade, ele precisa convencer os outros alimentos do supermecado e fazer com que eles lutem contra os humanos.

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Festa da Salsicha | Crítica

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Que Festa da Salsicha não é uma animação para crianças, isto nós já sabemos (ainda mais por conta da campanha de marketing, que fez questão de explicitar este fato sempre que podia). Ainda assim, admito que não esperava que fosse tão inapropriada para menores de idade, já que a produção traz um número impressionante de palavrões, drogas, alfinetadas em assuntos delicados e insinuações sexuais tão notáveis que não sei nem se deveriam ser descritas como “insinuações”. Por outro lado, o que eu realmente não antecipava era que, além de tremendamente divertida, esta película pudesse promover de maneira tão eficiente discussões relevantes e críticas ácidas ao comportamento da sociedade. E se “pervertido” e “bizarro” são termos facilmente atribuíveis a este novo longa de Seth Rogen e sua turma, “admirável” e “humanitário” também poderiam ser aplicados com a mesma precisão.

Escrito por Rogen e seu parceiro habitual Evan Goldberg junto a Kyle Hunter e Ariel Shaffir, o roteiro nos apresenta a um supermercado onde comidas (e alguns outros produtos) são seres vivos e aguardam ansiosamente para serem compradas pelos consumidores que são tidos como “deuses” para que, enfim, possam realizar aquilo que mais desejam: fazer sexo. No entanto, depois que alguns alimentos descobrem a verdade – os seres humanos esfaqueiam, queimam, torturam e devoram os pequenos indivíduos -, uma revolução começa a ser pensada e liderada pela salsicha Frank (que não vê a hora de se enfiar na bisnaga Brenda – vocês entenderam o que eu quis dizer com enfiar, certo?), que logo é visto como louco pelos seus colegas companheiros.

Concebendo um universo rico e criativo, os diretores Conrad Vernon (Shrek 2) e Greg Tiernan (Thomas e Seus Amigos) se destacam imaginando o estilo de vida das comidas, que vivem cultuando seres humanos como se fossem divindades e cantando uma música alegre ao início de cada dia. Aliás, o próprio fato dos alimentos serem vivos parte de um conceito que eles chamam de “quarta dimensão” – e por falar nisso, esperem só até descobrir o efeito que as drogas causam nas pessoas normais. Da mesma forma, a produção se diverte aludindo aos nazistas através do molho alemão, apresentando objetos falantes que vão além dos produtos alimentícios (aqui vai uma dica: um deles poderia “embrulhar” uma salsicha), criando uma versão esquisita de Stephen Hawking e trazendo uma dupla de inimigos claramente inspirados no conflito entre israelenses e palestinos, saindo-se igualmente bem ao referenciar filmes como O Resgate do Soldado Ryan (nunca pensei que fosse me sentir agoniado ao ver um biscoito recheado sem suas “costas”) ao passo que a edição de som é digna de nota ao incluir o barulho de um pescoço sendo quebrado quando uma garrafa de cachaça é aberta. Completando, o elenco de voice actors inclui figuras famosas que agradam graças ao carisma homogêneo e natural, especialmente Seth Rogen, Kristen Wiig e Edward Norton (não assisti à versão dublada pela equipe do Porta dos Fundos).

Todavia, o aspecto mais atraente de Festa da Salsicha consiste em suas críticas (pouco sutis) ao sistema em que a sociedade é situada e à maneira como a religiosidade vem moldando o estilo de vida da população (e não é por acaso que a jornada de Frank é uma clara alusão ao conhecido “Mito da Caverna”, de Platão). Assim, a ideia de que seres humanos são “deuses” prontos para levar as comidas para um lugar melhor é desenvolvida por líderes hierárquicos que conhecem a realidade como ela é, mas preferem escondê-la e criar dogmas e canções bonitinhas para manter as comidas sob controle em vez de desencadear pânico ou revoluções. Também é interessante que o roteiro encaixe, através de uma cena que remete à memorável sequência do telão em V de Vingança, uma mensagem que deveria ser enfatizada com mais frequência: é impossível levar as pessoas a reverem seus conceitos se você destratá-las e atacar suas visões de mundo (para entender o porquê deste tópico ser tão importante, basta entrar em qualquer rede social e encontrar a sucessão de xingamentos e baixarias motivadas por “debates ideológicos”). Para melhorar, o filme ainda condena a percepção de que a homossexualidade é algo “abominável” e que aqueles que se apaixonam por pares do mesmo sexo devem rejeitar este sentimento por ser “oposto à natureza”.

Em contrapartida, Festa da Salsicha também tropeça trazendo uma quantidade considerável de tentativas de humor que simplesmente não são bem-sucedidas (como os trechos onde Brenda canta); e a referência a O Exterminador do Futuro 2, por exemplo, teria sido bem mais efetiva se não remetesse de forma tão escancarada e óbvia à trilha sonora daquela produção. Além disso, mesmo para os padrões politicamente incorretos de Seth Rogen e companhia, o longa conta com alguns momentos exageradamente descontrolados que perdem a graça por conta do excesso – aliás, confesso que fiquei incomodado (e decepcionado) ao testemunhar a comicidade com que a obra encara uma situação envolvendo estupro. Para finalizar, é preciso destacar que, embora o filme jamais careça de ritmo, o montador Kevin Pavlovic mostra-se repetitivo na transição de uma cena para outra, apelando para clarões, cortes de fusão e instantes onde a câmera enfoca algum item que tem algo a ver com a sequência seguinte (e se isto pode parecer interessante, parte do encanto se perde quando os recursos são utilizados o tempo inteiro).

Melhorando progressivamente no decorrer da projeção, chegando até mesmo a redimir algumas falhas pequenas que existiam no início (o número musical que abre o filme pode soar tolo demais, mas depois é contextualizado de maneira genial), Festa da Salsicha é insano e pode acabar ofendendo boa parte do público, mas ainda assim é bastante divertido e surpreendentemente progressista quanto à sua visão de mundo. De minha parte, eu não imaginava que um longa estrelado por comidas tão interessadas em sexo, palavrões e drogas poderia representar um entretenimento tão instigante do ponto de vista temático.

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