O sonho do diretor Joe Johnston sempre foi ser Steven Spielberg – e digo isso não como análise negativa, mas como dedução óbvia: basta observar títulos como The Rocketeer, Jurassic Park 3 e Capitão América para chegar nessa conclusão. Talvez o filme que melhor indica isso seja Jumanji, que, lançado em 1995 com base no livro de Chris Van Allsburg (também responsável por Zathura e O Expresso Polar), era uma aventura bastante divertida e simpática que levava o espectador a se apegar aos personagens e se interessar pelos absurdos que giravam em torno destes (sem contar, é claro, a presença do brilhante e saudoso Robin Williams, que fortalecia ainda mais o projeto). Aliás, confesso que não entendo por que tantas pessoas criticam aquele longa, já que funcionava muitíssimo bem dentro de sua proposta descompromissada e escapista.
Eis que 23 anos se passaram e uma continuação chega às telonas, sendo então uma surpresa que, mesmo longe de qualquer brilhantismo, este Jumanji: Bem-Vindo à Selva consiga divertir sem menosprezar a inteligência do espectador ou usar sua nostalgia de maneira oportunista, indo na contramão de tudo aquilo que transformou Jurassic World em uma imensa decepção. Escrito por Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner, o roteiro acerta ao investir em uma trama simples, mas que escapa da tentação de repetir o que deu certo no longa anterior (um erro muito comum em sequências): se a premissa do original envolvia um jogo de tabuleiro que expelia seu conteúdo para o mundo real, desta vez acompanhamos quatro adolescentes que são sugados para dentro de um video game – e se antes apenas ouvíamos falar no que ocorria na terra mágica de Jumanji, agora finalmente podemos vê-la com os próprios olhos, o que dá novos ares à história.
Claro que, por contar com uma premissa deste tipo, é de se esperar que o filme constantemente incorpore elementos dos games à linguagem do Cinema, o que acaba se transformando num dos principais atrativos de Jumanji 2: ao brincar com conceitos como os de múltiplas vidas, histórias estruturadas em fases, personagens que ficam dizendo frases programadas, técnicas de combate aprendidas através da repetição e heróis que têm habilidades e fraquezas específicas, o roteiro cria um universo imaginativo que se torna ainda mais convincente graças ao trabalho do designer de produção Owen Paterson, que ganha a oportunidade de conceber Jumanji como uma terra repleta de florestas fantásticas, montanhas detalhadamente esculpidas e masmorras cheias de armadilhas absurdas. Assim, um dos prazeres oferecidos pelo filme é descobrir o que os heróis podem fazer com suas especialidades específicas, já que estão num mundo onde comer um bolo pode resultar na autodestruição e dançar é tão útil quanto lutar caratê – e esse descompromisso com a realidade permite que o diretor Jake Kasdan crie sequências de ação que, além de eficazes, abraçam o impossível e o exagero sem abalar a suspensão da descrença do espectador.
Por outro lado, é sintomático que Bem-Vindo à Selva pareça se orgulhar do conhecimento que tem a respeito do universo dos games, introduzindo conceitos como os de NPCs, cutscenes e missões secundárias de modo apelativo – nisso, o filme soa mais como um leigo que acabou de aprender alguns termos técnicos e faz questão de usá-los o tempo todo. Mas esse nem é o maior dos impasses, pois as dificuldades que o roteiro tem de apresentar suas ideias tornam-se evidentes logo no primeiro ato, quando os protagonistas e seus dilemas particulares são estabelecidos de maneira tremendamente artificial (e o vício que certa personagem tem por seu celular consiste num comentário social tolo e forçado). Por fim, se alguns diálogos surgem falsos e expositivos demais, existem também certas piadinhas que simplesmente não alcançam a graça almejada (aquela onde certo herói surge carregando outro nas costas, por exemplo, pôde ser prevista com segundos de antecedência).
Felizmente, depois do primeiro ato problemático, a aventura enfim se inicia e Jumanji 2 começa a melhorar progressivamente. Muito disso se deve à força do elenco, que é cuidadosamente selecionado para desconstruir os estereótipos criados no início – desta forma, é engraçadíssimo ver Dwayne Johnson parodiando a fama de brucutu que construiu ao longo de sua carreira, dando vida a um sujeito que, apesar de grandalhão, guarda uma personalidade de nerd tímido em seu interior e se impressiona com os músculos que ganha subitamente (seu olhar intenso, em especial, é hilário). E se Karen Gillan confere energia e carisma a uma heroína que precisa aprender a lidar com sua falta de confiança (sem contar as alfinetadas que dá no sexismo e na objetificação que as mulheres vivem sofrendo na cultura pop), Jack Black consegue arrancar boas risadas ao ironizar a clássica figura da adolescente fútil e popular (pois é) ao passo que Kevin Hart (comediante do qual não costumo gostar) encontra um ou outro momento de inspiração no meio de seus gritinhos recorrentes.
Referenciando o filme original de maneira pontual e orgânica, citando um nome conhecido aqui e mostrando uma imagem familiar ali, Jumanji: Bem-Vindo à Selva ainda lida com questões típicas da adolescência (a insegurança; o nariz empinado; a primeira paixão) de forma contagiante, resultando em uma diversão que pode até não ser perfeita, mas é honesta e cheia de vitalidade.