Viva (1)

Título Original

Coco

Lançamento

4 de janeiro de 2018

Direção

Lee Unkrich

Roteiro

Adrian Molina e Matthew Aldrich

Elenco

As vozes de Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt, Alanna Ubach, Renée Victor, Jaime Camil, Alfonso Arau, Herbert Siguenza, Gabriel Iglesias, Ana Ofelia Murguía, Edward James Olmos, Natalia Cordova-Buckley, Selene Luna, Sofía Espinosa, Cheech Marin e John Ratzenberger

Duração

109 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Darla K. Anderson

Distribuidor

Disney

Sinopse

Miguel é um menino de 12 anos que quer muito ser um músico famoso, mas ele precisa lidar com sua família que desaprova seu sonho. Determinado a virar o jogo, ele acaba desencadeando uma série de eventos ligados a um mistério de 100 anos. A aventura, com inspiração no feriado mexicano do Dia dos Mortos, acaba gerando uma extraordinária reunião familiar.

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Viva: A Vida é uma Festa | Crítica

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Em certo momento de Viva – A Vida é uma Festa, um personagem vira para o protagonista e diz “Espero que você morra logo“. Trata-se de uma frase que, tirada de contexto, obviamente soa como um insulto perigoso numa animação voltada para um público mais jovem, podendo até propagar sentimentos autodestrutivos. Assim, é uma surpresa que essa linha de diálogo específica surja no roteiro de Adrian Molina e Matthew Aldrich como uma legítima declaração de afeto, o que serve para evidenciar a eficácia do novo projeto da Pixar. Mesmo lidando com temas comumente encarados com pesar, Viva – A Vida é uma Festa exibe uma maturidade digna de nota ao abordá-los, encontrando a oportunidade de se divertir com os assuntos que pretende discutir sem jamais cair na irresponsabilidade (o que, convenhamos, é uma proeza e tanto).

Comandado pelo mesmo Lee Unkrich do excepcional Toy Story 3 (contando também com a ajuda de Adrian Molina, que estreia como co-diretor aqui), o filme se passa em Santa Cecília, no México, e acompanha o pequeno Miguel Rivera, que sonha em se tornar um músico mesmo que sua família tenha um repúdio pessoal com essa vocação. Quando chega o Dia dos Mortos mexicano, Miguel descobre que seu falecido tataravô teve ligações diretas com o mundo da Música, o que leva o garoto a uma série de impulsos que incrivelmente o mandam para a terra dos finados. Com isso, Rivera parte numa jornada a fim de conseguir a benção de um familiar já falecido e enfim retornar ao universo dos que ainda vivem.

Já deu para perceber, portanto, que Viva – A Vida é uma Festa faz algo cada vez mais prudente no cenário artístico: abraçar a diversidade e celebrá-la através da inclusão. Assim, em vez de se concentrar mais uma vez no “American Way of Life” que a maioria das obras hollywoodianas enaltecem exaustivamente, o filme permite que o espectador olhe para culturas (no caso, a mexicana) que estão longe de ter a mesma visibilidade, algo extremamente bem-vindo em tempos onde figuras de autoridade insistem em direcionar ódio contra outros povos. E que bom que existe essa possibilidade, pois sair da mesmice e enriquecer o conhecimento através de observações etnográficas é sempre um privilégio – e há também o alívio de constatar que tanto Unkrich quanto a dupla de roteiristas faz um trabalho que realmente funciona como estudo antropológico, oferecendo uma forma diferente de enxergar a morte e mostrando inúmeros componentes de tradições mexicanas sem sucumbir aos estereótipos.

Claro que o fato de abordar uma cultura tão característica faz com que Viva – A Vida é uma Festa passe a depender pesadamente de um estilo estético apurado – algo que felizmente está presente desde a sequência inicial, que conta a história pregressa da família do protagonista usando papeis coloridos tipicamente associados ao que se vê no México. Além disso, o designer de produção Harley Jessup se sai muitíssimo bem tanto ao criar as ruas de Santa Cecília quanto ao (re)imaginar o mundo dos mortos, apostando em cores intensas que vão de encontro com o que costumamos esperar de uma história envolvendo luto e realçam o aspecto lúdico de uma terra que abriga casas empilhadas, arquiteturas que não têm nenhum comprometimento com a Física, esqueletos que obviamente remetem às pinturas corporais do Dia dos Mortos (com direito a “pontas” de figuras conhecidas, como Frida Kahlo) e criaturas aladas que, de tão brilhosas, quase soam como animações 2D. (Aliás, é fundamental elogiar mais uma vez o trabalho dos animadores da Pixar, que dão atenção a detalhes como a textura da pele dos personagens e as folhas que se iluminam sobre uma ponte quando tocadas por quem a atravessa.) Para completar, a trilha sonora do sempre excelente Michael Giacchino (em seu sexto trabalho com o estúdio) acerta ao empregar os instrumentos de corda que fazem parte da tradição musical mexicana.

Beneficiado por um roteiro surpreendentemente adulto que não só toca em temas importantes (como lidar com a morte de maneira menos dolorida e mais otimista) como também inclui reviravoltas chocantes (com direito a uma traição fatal motivada pelo ego e pela ganância), o diretor Lee Unkrich novamente exibe sua capacidade de mexer com os sentimentos do público após levar o mundo às lágrimas com Toy Story 3, alcançando um clímax emocional que certamente fará com que muitos espectadores se identifiquem com a situação retratada na tela. O mais admirável, no entanto, é perceber como Unkrich consegue adicionar toques pontuais de comédia sem subtrair este peso dramático, se permitindo rir, por exemplo, das brincadeiras feitas pelo cão Dante e das maluquices que o morto Héctor acaba estrelando de vez em quando.

Por outro lado, os poucos problemas de Viva – A Vida é uma Festa também fazem parte do roteiro, que, apesar das muitas virtudes, carece de imaginação na hora de construir sua premissa, desenvolver momentos-chave da narrativa e estabelecer o universo onde a trama se situa (e acho pouco provável que quem já assistiu a obras como A Noiva Cadáver ou Festa no Céu se surpreenda com algo aqui; por falar na animação produzida por Guillermo del Toro, este é outro projeto que, além de envolver a cultura mexicana e o universo dos mortos, ainda conta com um protagonista que sonha em se tornar cantor a contragosto de sua família). Por fim, Adrian Molina e Matthew Aldrich utilizam uma fórmula exaustivamente repetida nos filmes da Pixar: aquela que traz um herói saindo de sua zona de conforto e sendo obrigado a reencontrá-la após inevitáveis lições de moral – e até mesmo o jeito como o vilão é vencido depende de conveniências e clichês.

De todo modo, o fato é que Viva – A Vida é uma Festa é mais um grande acerto da Pixar, mantendo-se completamente distante de obras embaraçosas como Carros 2 e O Bom Dinossauro. Contando também com canções originais que se tornam ainda mais poderosas graças às vozes do ótimo elenco (não consigo imaginar Remember Me em português), esta é uma animação que, embora menos inventiva que Divertida Mente, funciona tanto como olhar antropológico quanto como entretenimento, conseguindo emocionar o espectador ao mesmo tempo em que deixa nele a vontade de expandir seu conhecimento.

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