Moonlight

Título Original

Moonlight

Lançamento

23 de fevereiro de 2017

Direção

Barry Jenkins

Roteiro

Barry Jenkins

Elenco

Alex Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, André Holland, Jharrel Jerome, Jaden Piner, Naomi Harris, Mahershala Ali, Janelle Monáe e Patrick Decile

Duração

111 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Adele Romanski, Dede Gardner e Jeremy Kleiner

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem.

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Moonlight: Sob a Luz do Luar | Crítica

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Mais que um estudo de personagem, Moonlight é uma mensagem de empatia para o resto da Humanidade: sim, na superfície, é um filme sobre homossexualidade – porém, o que estee longa de Barry Jenkins aborda mesmo é o potencial que a discriminação e o preconceito têm de destruir vidas promissoras. Aqui, o centro da trama é um garoto cujo caráter é dos mais louváveis, mas que é massacrado por todos à sua volta a ponto de ter sua intimidade oprimida, o que basicamente destrói boa parte da índole bondosa que o rapaz tinha. Este é o real perigo de tais circunstâncias: quando uma pessoa caracterizada pela ternura sofre injustamente nas mãos podres daqueles que estão à sua volta, essa aptidão para praticar o bem pode ser comprometida de modo fatal. E é por causa deste tipo de situação que o mundo está tão aquém do que poderia ser de fato.

Dirigido e roteirizado por Barry Jenkins a partir da peça teatral In Moonlight, Black Boys Look Blue, o filme nos apresenta a três fases da vida do homossexual Chiron: na primeira, ele também é conhecido como “Little”, sofre bullying da maioria de seus colegas, é criado por uma mãe terrivelmente problemática chamada Paula e conhece um traficante de crack chamado Juan, que acaba guiando o menino nos caminhos que trilhará; na segunda, acompanhamos o dia a dia de Chiron em plena adolescência, quando começa a ter uma noção mais clara de sua orientação sexual e, por isso, é hostilizado com crueldade por um rapaz de sua sala de aula; na terceira, reencontramos o protagonista em sua fase adulta e sendo chamado de “Black”, quando ele já se converteu num traficante de drogas bem-sucedido e que reencontra Kevin, um parceiro bastante significativo ao longo de sua vivência.

Sensível em seu modo de desenvolver as descobertas experimentadas pelo personagem principal, Moonlight é profundo ao abordar a repressão sofrida por Chiron: no decorrer de toda a sua vida, o rapaz foi obrigado a esconder sua sexualidade para diminuir ao máximo possível o sofrimento e a discriminação que invariavelmente sofre por ser atraído por homens (e o mais importante é que o público teve a oportunidade de ver esta crueldade assombrando o jovem ao longo de sua infância e adolescência, fazendo com que Chiron seja distanciado da liberdade de maneira ininterrupta). Desta forma, o trabalho do cineasta Barry Jenkins sempre leva o espectador a se importar com o personagem e vibrar diante de alguns atos que, na realidade, não deveriam ser descritos como “corretos” (para evitar spoilers, digo apenas que a cena em questão envolve uma cadeira). Além disso, o realizador é hábil ao criar sequências poéticas que funcionam ainda mais graças à falta de obviedade – um bom exemplo encontra-se no momento onde Juan banha “Little” numa praia, como se estivesse submetendo o menino a um batismo que renova todas as suas energias.

O que nos traz ao brilhante e sutil design de produção elaborado por Hannah Beachler: a partir do momento em que Juan cita a frase “Sob a luz do luar, meninos negros tornam-se azuis“, começa uma predominância do azul em grande parte dos elementos que compõem as sequências de Moonlight, desde as paredes do colégio onde Chrion estuda até um produto de limpeza que surge em certo instante, passando também pela mochila usada pelo personagem principal, pela camiseta vestida por Kevin e, claro, pelas águas da praia onde o pequeno protagonista “renasce”. E se o diretor de fotografia James Laxton acerta ao incluir uma forte luz azul num diálogo entre “Black” e seu amigo de infância, a produção demonstra um brilhantismo fantástico na cena em que o menino Chiron questiona o significado de “faggot” (algo pejorativo como “veado”): no início, o garoto estava na frente de uma parede roxa (que se torna a cor característica de Paula, a mãe abusiva); sendo assim, Juan logo sugere que ele mude de lugar e o traz para um canto mais azul daquele cenário.

Desta forma, fica evidente que, embora só marque presença de fato no primeiro ato da projeção, Juan continua acompanhando Chiron ao longo de toda a sua vida – e não é à toa que, quando reencontramos o rapaz em sua fase adulta, percebemos que ele se transformou numa figura bastante semelhante à do traficante de drogas sensível que o apoiou tanto na infância, como se fosse permanentemente inspirado por aquele homem que acabou servindo como uma figura paterna. Neste sentido, o trabalho de Mahershala Ali é mais que apropriado: por mais que possa soar intimidador ou respeitável à primeira vista, Juan gradualmente se revela doce e altruísta a ponto de conquistar a simpatia do espectador (e de Chiron, é claro). E se Patrick Decile consegue caracterizar um “valentão de escola” bizarramente agressivo sem que jamais pareça artificial em seus esforços (o que é uma proeza), Naomi Harris domina boa parte das cenas em que participa graças à sua composição repleta de intensidade e energia (que se contrapõe, diga-se de passagem, ao peso que a personagem aparenta carregar no terceiro ato da projeção).

Para completar, temos os três atores que interpretam Chiron durante infância, adolescência e vida adulta – e a escalação do elenco não poderia ser mais apropriada: é possível acreditar que Alex Hibbert cresceu e assumiu a aparência de Ashton Sanders, que, por sua vez, também convence como uma versão menos evoluída de Trevante Rhodes. Além disso, é instigante perceber como cada representação do protagonista conta com características em comum ao mesmo tempo em que exibem traços de personalidade próprios, indicando que, ainda que tenha crescido e amadurecido como pessoa, Chiron nunca deixou de ser quem realmente é. Alex Hibbert, em especial, brilha ao retratar “Little” como um menino tremendamente fechado e que se expressa muito mais pela intensidade de seu olhar do que pelas palavras (que quase nunca saem da sua boca). Já Ashton Sanders sugere um pouco de leveza em sua composição, principalmente nos momentos onde interage com seu amigo Kevin – o que não significa, por outro lado, que o adolescente não seja dominado por uma insegurança crescente que é motivada pelo bullying absurdo sofrido na escola e que leva Chiron a se tornar extremamente calado e introvertido. Por fim, Trevante Rhodes é inteligente ao subverter as expectativas do público ao transformar “Black” num adulto intimidador, mas que no fundo revela uma vulnerabilidade surpreendente; carregando, com isso, alguns traços idênticos aos da personalidade de Juan e aos do desempenho de Mahershala Ali.

Criando momentos esteticamente interessantes que funcionam como uma ferramenta para que o filme jamais soe óbvio (como a cena onde todos os sons diegéticos são interrompidos e vemos a mãe de Chiron o chamando de algo, mas este “algo” só vem a ser revelado no dia seguinte, quando o menino pergunta “O que é um ‘faggot‘?” – ou talvez isso tenha sido impressão minha, pois pode ser que eu seja péssimo em leitura labial), o diretor Barry Jenkins define o tom da narrativa com uma precisão digna de aplausos: para cada momento impactante e dramático como aquele que ilustra Paula no auge de seu vício em drogas (berrando e roubando seu filho), existem outros que revelam uma sensibilidade tocante – como a cena que traz o protagonista e Kevin numa praia à noite ou então a já mencionada sequência do “batismo”.

Encerrando-se com um terceiro ato emocionalmente profundo que sabe reconstruir a relação entre Chiron e Kevin através de recursos sutis (como alguns gestos ocasionais e diálogos que nunca tendem para a obviedade), Moonlight é um estudo de personagem exemplar que não só faz com que o público se importe com o destino do protagonista como ainda envolve temas complexos, da aceitação dos diferentes tipos de pessoa até o drama vivido por alguém que é forçado a abdicar da sua liberdade individual para ser socialmente aceito.

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