Capitão Fantástico (1)

Título Original

Captain Fantastic

Lançamento

22 de dezembro de 2016

Direção

Matt Ross

Roteiro

Matt Ross

Elenco

Viggo Mortensen, George MacKay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Shree Crooks, Charlie Shotwell, Trin Miller, Frank Langella, Ann Dowd, Kathryn Hahn, Steve Zahn, Elijah Stevenson, Teddy Van Ee, Erin Moriarty e Missy Pyle

Duração

118 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Monica Levinson, Jamie Patricof, Shivani Rawat e Lynette Howell Taylor

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Ben tem seis filhos com quem vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia um triste acontecimento leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona velhos conflitos.

Publicidade

Capitão Fantástico | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Escrito e dirigido por Matt Ross (cuja experiência em ambas as funções inclui apenas 28 Hotel Rooms), Capitão Fantástico nos apresenta a Ben Cash, um sujeito que vive na floresta ao lado de sua amada família e mantém distância das convenções sociais que despreza. Eis que, um dia, sua esposa Leslie comete suicídio após ser internada graças à bipolaridade, o que leva Ben a reunir seus filhos e viajar rumo ao funeral – e uma onda de consequências complicadas é desencadeada quando o protagonista se revolta ao descobrir que sua falecida companheira não está sendo homenageada conforme exigiu em seu testamento.

Ao ler esta descrição, é comum antever que se trata de uma obra dramática e capaz de despertar um sentimento amargo no espectador – e aí que entra uma das maiores proezas da produção: embora conte com momentos dolorosos que possivelmente levarão boa parte do público às lágrimas (como aquele em que Ben anuncia aos filhos que a mãe acabou de morrer), Capitão Fantástico jamais se entrega à morbidez ou ao sentimentalismo excessivo e envolve uma trama conceitualmente triste numa roupagem agradável e surpreendente em sua energia. Por outro lado, Matt Ross é hábil ao nunca permitir que a leveza torne-se invasiva a ponto de aliviar o peso do que acontece na vida dos personagens, revelando uma noção bastante admirável de como dominar o tom da narrativa.

No entanto, um dos elementos que mais atraem no projeto é a eficiência com que apresenta o estilo de vida abraçado pelos Cash: logo na primeira cena, vemos os garotos caçando animais, aprendendo a sobreviver na floresta e praticando atividades comumente evitadas por muitas crianças sedentárias (como escalar uma montanha). Depois disso, os hábitos da família começam a indicar uma tendência curiosa a filosofias como “Poder ao povo; abaixo o sistema!” e incluem práticas inesperadas que vão de simular um fanatismo religioso para resolver um problema até comemorar o “Dia de Noam Chomsky”, passando por rejeições ao capitalismo e absorção de conhecimentos que, em certo momento, levam uma menina de oito anos a realizar algo que dois rapazes mais velhos não conseguiram fazer: explicar a “Bill of Rights”. Assim, Capitão Fantástico também apresenta um lado crítico e questionador, como se pusesse à prova todas as convenções que a sociedade segue mantendo sem tentar compreendê-las totalmente.

O que não quer dizer, em contrapartida, que o longa encare as ações de Ben como corretas ou aplauda seus métodos irresponsáveis: se vemos os garotos roubando um supermercado por influência do pai, este vem a arcar com consequências posteriores; se o protagonista pede que sua filha execute um ato perigoso que resulta num acidente, o arrependimento surge como um soco no rosto do personagem principal. Além disso, qualquer um que tenha o mínimo de bom senso vai reconhecer que Ben está longe de ser o melhor dos pais – todavia, o carinho que ele sente por suas criações é forte o suficiente para levar o espectador a sentir compaixão quando as consequências começam a aparecer. Pois o fato é que a família Cash pode até ser imperfeita, mas é digna de nota por esbanjar afeto e se esforçar para contrariar o que é cegamente seguido pelos outros.

Interpretado por Viggo Mortensen como um indivíduo coerente com suas ideologias incomuns e acostumado a responder às perguntas feitas por seus filhos de maneira objetiva (ao explicar o que é um estupro, ele não adota eufemismos e não exibe impaciência ao também ter que dizer o que são relações sexuais), Ben parece carregar uma intensidade em seu interior sem que deixe de soar como um homem cauteloso em seus discursos e atitudes, transformando-o numa figura complexa e, até certo ponto, enigmática. Da mesma forma, os outros integrantes da família Cash têm seu espaço – e se não são todos, ao menos a maioria dos garotos conta com suas especialidades ou arcos dramáticos próprios: um deseja ir entrar para uma faculdade das mais conceituadas, o que se opõe à vontade do pai (que é contra escolas e faculdades); outra se esforça para interpretar um livro; uma terceira é capaz de humilhar dois adolescentes que não sabem o que é “Bill of Rights” (como já foi dito); uma consegue escalar estruturas com uma eficácia impressionante; e, por fim, há aquele que vê o pai como o principal causador dos problemas familiares.

O mesmo cuidado que existe na concepção dos personagens também se aplica ao trabalho da diretora de fotografia Stéphane Fontaine, que registra a floresta ocupada pela família Cash com base em tons lúdicos e puros, conferindo uma aparência bastante lúdica às locações e às paisagens naturais. Ao mesmo tempo, o diretor Matt Ross é bem-sucedido ao desenvolver um breve suspense a partir de ruídos causados por telhas possivelmente bambas, no instante em que uma das garotas está andando pelo topo de uma casa. E se a montagem de Joseph Krings mantém um ritmo ágil e fluído, sem estender a narrativa além do necessário, a figurinista Courtney Hoffman é inteligente ao diferenciar os Cash do resto das pessoas através de visuais mais vibrantes – e o ápice disso ocorre numa sequência que envolve um velório, na qual a família entra vestindo roupas extravagantes e coloridas em meio a um mar de preto, branco e cinza.

Acertando ao investir num desfecho que dá uma aparência mais animada a situações que seriam encaradas com dor e pesar pela maioria das pessoas, Capitão Fantástico pode até pecar aqui e ali (há uma fuga de um supermercado que soa fácil demais), mas ainda assim surge como uma aventura emocionante e que questiona os valores socialmente tidos como “normais” ao mesmo tempo em que aborda temas como morte e luto de maneira admiravelmente alegre e otimista.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *