A Vastidão da Noite tinha tudo para ser mais um daqueles filmes cínicos que, sob a desculpa de “homenagearem” o estilo de décadas passadas (como a de 1980), acabam reduzindo toda a sua personalidade a uma série de referências tolas que buscam despertar uma nostalgia fácil no público – e, assim, quando esta estreia do diretor e roteirista Andrew Patterson teve início, temi estar diante de uma tentativa de evocar a aparência dos anos 1950 que fatalmente se tornaria apenas submissa à memória destes (uma coisa é homenagear uma época; outra é brincar de emular seu estilo sem desenvolver uma voz própria). Felizmente, à medida que a projeção foi avançando, me vi cada vez mais surpreso com o caminho adotado por Patterson, criando uma narrativa curiosa, pragmática e que se revela mais interessada no mistério por trás de uma ação do que na ação em si.
Escrito por Patterson (sob o pseudônimo de James Montague) e pelo estreante Craig W. Sanger, A Vastidão da Noite se passa nos anos 1950 quando, em plena corrida espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, o jovem aspirante a radialista Everett e a amiga telefonista Fay detectam uma estranha frequência que parece vir de ondas aéreas em direção ao Novo México (onde moram). Suspeitando que se trate da interferência de um OVNI, a dupla começa a correr pela cidade em busca de possíveis respostas para o mistério, entrevistando pessoas cujas revelações tendem a tornar a história muito mais estranha do que parecia a princípio – e, enquanto Everett e Fay prosseguem com a investigação, uma partida colegial de basquete atrai para si as atenções de todos os moradores locais.
Obviamente inspirando-se na atmosfera de séries como Além da Imaginação e A Quinta Dimensão (que giravam em torno não apenas da ficção científica, mas – e principalmente – das incertezas que a antecipavam), A Vastidão da Noite não aproveita esta inspiração apenas para brincar de recriar cinicamente as aberturas e as narrações em off que vinham no começo de cada episódio daqueles programas, utilizando-a, em vez disso, para mergulhar o espectador em uma narrativa que se baseia mais na preparação para um horror (que não revelarei) do que nele em si. Assim, em vez de mostrar detalhadamente os resultados da investigação feita por Everett e Fay (que, sim, aparecem no minuto final da projeção), o diretor Andrew Patterson prefere se concentrar em longas cenas que trazem os dois personagens somente conversando sobre o mistério que exploram e escutando os depoimentos de terceiros que surgem no processo.
Sim, pode ser que a decisão de Patterson tenha sido fruto de possíveis limitações orçamentárias do projeto, mas o fato é que isto não importa, pois o resultado, de qualquer forma, ajuda a cimentar a ideia de que, muitas vezes, os meios são mais marcantes do que os fins; as dúvidas acerca de um mistério (aquela sensação insuportável de não saber o que vai acontecer) podem ser muito mais dolorosas do que a resolução deste. Neste sentido, outra decisão importante por parte de Patterson (que também assina a montagem, sob o pseudônimo de Junius Tully) e do diretor de fotografia M.I. Littin-Menz é a de enfocar praticamente todas as cenas do filme através de planos longuíssimos que, além de servirem como um imenso desafio para os atores (que têm de atuar sem contar com o benefício dos cortes), ajudam a preparar o espectador para uma conclusão que propositalmente demora a vir. E, por mais que o plano-sequência que “acompanha” uma frequência sonora de um lado a outro do Novo México possa soar um pouco exibicionista, ao menos funciona ao fazer da telecomunicação uma espécie de “personagem” à parte.
Em contrapartida, a abordagem de Patterson traz também alguns problemas que, embora naturais, nem sempre são contornados pelo cineasta: se por um lado a ideia de antecipar mais a situação do que mostrá-la é interessante e bem executada, por outro é difícil conter o sentimento de que boa parte de A Vastidão da Noite simplesmente não consegue chegar a lugar algum, resumindo-se apenas aos personagens descobrindo e começando a investigar… algo, mas sem concluírem muita coisa – e, com isso, a sensação que fica é a de que o filme inteiro se resume a um primeiro ato de uma hora e meia de duração, o que é particularmente incômodo. Se somarmos isto (a eterna antecipação de uma resolução que nem chega perto de vir) ao fato de alguns planos serem excessivos em sua duração, o ritmo da narrativa torna-se um pouco problemático.
Ainda assim, A Vastidão da Noite não deixa de representar uma surpresa, digamos, curiosa em sua construção narrativa e estrutural, investindo em uma atmosfera que tinha tudo para se tornar tola e anticlimática, mas que acaba funcionando justamente por arriscar-se na ideia de anticlímax (ou, no mínimo, ao empurrar o clímax sempre que este parece próximo). E, se ainda não estou convencido de que Andrew Patterson é um gênio, ao menos tenho certeza de que sua carreira daqui para frente merece ser acompanhada de perto – afinal, sua estreia aqui provou que se trata de um cineasta, no mínimo, promissor.