dor_e_gloria

Título Original

Dolor y gloria

Lançamento

12 de junho de 2019

Direção

Pedro Almodóvar

Roteiro

Pedro Almodóvar

Elenco

Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Penélope Cruz, Leonardo Sbaraglia, Raúl Arévalo, Cecilia Roth, Nora Navas, Julieta Serrano

Duração

113 minutos

Gênero

Nacionalidade

Espanha

Produção

Agustín Almodóvar

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Salvador Mallo, diretor de cinema em declínio, relembra sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60. Salvador tem lembranças vívidas de seus primeiros amores, seu primeiro desejo, sua primeira paixão adulta na Madrid dos anos 80 e seu interesse precoce no cinema.

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Dor e Glória | Crítica

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Pedro Almodóvar é um cineasta com um currículo invejável – e, para entender isso, basta dar uma breve olhada na lista de filmes que ele dirigiu da metade dos anos 1980 para cá: MatadorMulheres à Beira de um Ataque de NervosAta-me!, Tudo Sobre Minha MãeFale com ElaMá EducaçãoVolverA Pele que Habito… isso porque estou citando apenas os mais óbvios. Sim, é verdade que, nos últimos dez anos, Almodóvar andou cometendo alguns tropeços (Os Amantes Passageiros, por exemplo), mas nada que diminua seus vários acertos. E é natural que, aos 69 anos de idade (quase um septuagenário), o diretor esteja começando a analisar sua carreira em retrospecto – o que nos traz a este Dor e Glória, que, mesmo sem se declarar como autobiografia, soa como uma espécie de “terapia” na qual Almodóvar discute seu papel como indivíduo e, acima de tudo, como realizador.

Estabelecendo-se como um legítimo estudo de personagem (a trama em si nem é o elemento que mais interessa ao roteiro), Dor e Glória acompanha o dia a dia de Salvador Mallo, um diretor de Cinema que fez bastante sucesso no passado, mas que agora parece ter sido esquecido pela indústria e vive relembrando os trabalhos que dirigiu nos melhores anos de sua carreira. Tudo começa a mudar depois que a Cinemateca espanhola resolve restaurar um de seus primeiros longas e exibi-lo para o grande público, convidando Mallo para apresentar uma sessão de perguntas e respostas ao lado do ator Alberto Crespo, com quem está brigado desde o lançamento do filme. A partir daí, o cineasta embarca em uma série de reflexões a respeito de sua obra e de memórias que o levam de volta à sua infância, no interior da Espanha.

Alcançando um equilíbrio perfeito entre a delicadeza e a comédia irreverente, Almodóvar se sai bem ao criar momentos pontuais de bom humor sem permitir que estes comprometam o peso dramático exigido por algumas passagens mais graves – e por mais que o fato de Salvador Mallo ser viciado em heroína renda alguns momentos engraçados, isto não diminui o perigo que o vício em si certamente representa para o protagonista. Além disso, a própria reflexão de Mallo acerca de sua obra é ilustrada pelo filme de maneira suficientemente madura: há três anos sem apresentar um novo trabalho, o cineasta enfrenta aqui o famoso “bloqueio criativo”, sentindo-se perdido e desestimulado apesar de todo o prestígio que recebeu ao longo de sua carreira. Mas o mais interessante é perceber como o tempo pode afetar a percepção de Mallo acerca de seus projetos: quando terminou o tal filme com Alberto Crespo, o diretor detestou o resultado final; ao revisitar o longa depois de muitos anos, no entanto, ele passou a gostar do que havia criado.

O que mudou de lá para cá? Será que Mallo amadureceu como profissional e, agora, tornou-se capaz de admirar algo que rejeitava quando era menos experiente? Para entender isso, Dor e Glória faz um importante mergulho nas memórias do protagonista – e, a partir daí, o filme começa a soar mais autobiográfico: sempre fotografadas por José Luis Alcaine (que trabalhou com Almodóvar em Má EducaçãoVolver A Pele que Habito) a partir de cores quentes e nostálgicas, as sequências que enfocam a infância de Salvador ajudam o espectador a compreender diversos detalhes sutis que, mais tarde, se tornariam fundamentais para o desenvolvimento do lado artístico do protagonista, como seu interesse por leitura, por imagens e por cores em geral. Aliás, a interação entre o pequeno Salvador e o pedreiro Federico também desempenha uma função importante, pois sugere (e, de certa forma, define) boa parte dos prazeres que o protagonista viria a sentir quando chegasse à vida adulta.

Mas é impossível discutir Dor e Glória sem comentar a bela performance de Antonio Banderas: encarnando Salvador Mallo como um homem calejado, mergulhado em um oceano de inseguranças e abatido pelas dores (físicas e emocionais) que sente em função de vários problemas crônicos, Banderas é bem-sucedido ao transformar o protagonista em um artista que há muito parece ter perdido o impulso de produzir a Arte em si, como se a estagnação criativa fosse um mal incapaz de ser combatido. Por outro lado, à medida que Mallo vai se reaproximando de Alberto Crespo, ele começa a passar por uma série de reflexões que, para o bem ou para o mal, o levam a uma nova etapa em sua jornada – e Banderas se sai bem ao retratar a evolução do personagem, que começa tomado pela amargura, mas que aos poucos descobre uma pequena (e surpreendente) chama de esperança.

No fim das contas, a obra de Salvador Mallo nada mais é do que um reflexo de suas experiências de vida – e eu não ficaria surpreso se descobrisse que Dor e Glória também é um reflexo daquilo que o próprio Almodóvar viveu. Afinal, o bom da Arte é que ela permite que o artista expresse seus sentimentos e, ao mesmo tempo, deixe um espaço para que o público tire suas conclusões.

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