Batman vs Superman (1)

Título Original

Batman v Superman: Dawn of Justice

Lançamento

24 de março de 2016

Direção

Zack Snyder

Roteiro

David S. Goyer, Chris Terrio

Elenco

Ben Affleck, Henry Cavill, Jesse Eisenberg, Amy Adams, Jeremy Irons, Diane Lane, Laurence Fishburne, Holly Hunter, Gal Gadot

Duração

153 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Charles Roven, Deborah Snyder

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

O confronto entre Superman (Henry Cavill) e Zod (Michael Shannon) em Metrópolis fez com que a população mundial se dividisse acerca da existência de extra-terrestres na Terra. Enquanto muitos consideram o Superman como um novo deus, há aqueles que consideram extremamente perigoso que haja um ser tão poderoso sem qualquer tipo de controle. Bruce Wayne (Ben Affleck) é um dos que acreditam nesta segunda hipótese. Sob o manto de um Batman violento e obcecado, ele investiga o laboratório de Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que descobriu uma pedra verde que consegue eliminar e enfraquecer os filhos de Krypton.

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Batman vs Superman: A Origem da Justiça | Crítica

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Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um filme relativamente bem-sucedido quando se concentra nos super-heróis cujos nomes vêm antes dos dois pontos do título: introduzindo com clareza as diferenças de personalidade entre o Cavaleiro das Trevas e o Homem de Aço, o longa inicialmente sugere uma dicotomia ideológica promissora entre os dois personagens. Infelizmente, quando entra a tal “origem da justiça”, isto rapidamente se torna um problema, já que o desespero da DC/Warner em preparar o terreno para o filme da Liga da Justiça tende a tornar Batman vs Superman uma experiência narrativamente dispersa e que parece não fazer a mínima ideia de onde quer chegar – e, com isso, até mesmo o espaço para desenvolver os lados de Batman e Superman torna-se minúsculo, reduzindo a tal dicotomia que citei anteriormente a… nada.

Tangencialmente inspirado na graphic novel O Cavaleiro das Trevas e em uma HQ famosa do Superman que prefiro não dizer qual é para evitar spoilers, o filme se inicia com o assassinato e funeral dos pais de Bruce Wayne (sim, pela milionésima vez) e, em seguida, salta imediatamente salta para uma excelente sequência que traz o personagem no meio da destruição causada por Superman e Zod em Metrópolis no clímax de O Homem de Aço. Enquanto o kryptoniano é tido como herói por uns e ameaça por outros, Wayne decide cobrá-lo pelos danos ocorridos e pelas milhares de vítimas deixadas no conflito, buscando uma forma de conter um ser cujos poderes parecem ilimitados. Ao mesmo tempo, o jovem e excêntrico bilionário Lex Luthor também se encontra interessado em destruir Superman, arquitetando então um plano para alimentar o ódio de Batman e levá-lo a combater o Último Filho de Krypton até a morte. Para piorar, os planos do vilão ainda incluem o surgimento do monstro Apocalipse, o que leva Batman e Superman a unirem suas forças às da Mulher-Maravilha para enfrentarem a criatura e salvarem a raça humana.

Quem leu esta pequena sinopse e concluiu que a quantidade de personagens e situações paralelas representam um excesso descontrolado está absolutamente correto – e o motivo por trás deste excesso é óbvio: vendo de longe o alto faturamento das produções da Marvel nas bilheterias, a Warner obviamente sentiu a necessidade de fazer o mesmo com os personagens da DC. O problema é que, se o estúdio concorrente construiu seu universo compartilhado com paciência ao longo de anos, apresentando cada herói em longas individuais antes de uni-los em Os Vingadores, aqui nota-se o desespero da Warner em alcançar sua rival de uma só única. Com isso, o roteiro escrito pelo irregular David S. Goyer e revisado por Chris Terrio espreme o que deveria ter sido realizado em mais de um filme em apenas duas horas e meia, não conseguindo lidar com tantas informações e deixando um monte de situações mal resolvidas no caminho – e o cúmulo chega quando descobrimos que a formação da Liga da Justiça tem como base… um e-mail.

O mais impressionante de tudo, no entanto, é que embora seja interrompido múltiplas vezes apenas para lembrar o espectador de que existem mais produções estreladas pelos personagens da DC vindo por aí (há duas cenas que provavelmente levarão os fãs de Injustice Flashpoint à loucura, mas que em nada contribuem para a narrativa deste filme), Batman vs Superman ainda assim parece contar com uma duração bem mais longa que o necessário; algo que certamente se deve ao ritmo arrastado e, é claro, a todas as sequências de sonhos, imaginações e flashbacks que ocorrem o tempo inteiro e que servem somente para inflar os já excessivos 151 minutos de projeção (e, mais uma vez, para preparar o público para Liga da Justiça). Como se não bastasse, a montagem de David Brenner (que tinha feito um bom trabalho em O Homem de Aço) se revela uma profunda decepção: sem jamais estabelecer fluidez ao transitar entre uma cena e outra, o montador provoca estranheza ao saltar entre sequências completamente diferentes e ao criar erros lógicos que chegam a ser engraçados de tão absurdos (notem, por exemplo, que Batman deve ter ficado um longo tempo debaixo da chuva esperando por Superman).

Enquanto isso, Zack Snyder continua mostrando-se hábil ao transportar imagens de HQs para a linguagem cinematográfica – e a montagem que compila vários atos heroicos feitos por Superman, entrecortados com opiniões a respeito deste em telejornais, inclui diversos planos esteticamente belíssimos, posicionando o herói como uma deus salvador que caminha entre os meros mortais. Mas este é um dos poucos acertos de Snyder, já que, desta vez, a ação se mostra pouco imaginativa: com exceção da boa cena que traz Batman em um armazém (e que parece saída de um game da série Batman: Arkham), as lutas e perseguições vistas aqui são atrapalhadas pelos cortes ininterruptos e pelos movimentos de câmera histéricos, tornando, por exemplo, sequência envolvendo o batmóvel em uma confusão ininteligível (e o que diabos é aquela zona que ocorre no terceiro ato?). E, tirando uma ou outra composição plasticamente, a fotografia de Larry Fong se revela repetitiva ao pesar na paleta cinzenta e dessaturada, cansando com o passar do tempo e voltando a prejudicar as cenas de ação ao mergulhá-las em sombras e dificultar a compreensão do espectador acerca do que nelas ocorre. Por sua vez, a trilha sonora de Hans Zimmer e Junkie XL embaraça no piano que acompanha Lex Luthor (ainda que o tema da Mulher-Maravilha seja marcante), ao passo que o designer de produção Patrick Tatapoulos frustra por não apresentar diferença alguma entre Metrópolis e Gotham em termos de estilo.

Já como experiência sensorial, Batman vs Superman obviamente diverte por trazer dois (ou, ok, três) dos heróis mais populares da História dos quadrinhos juntos pela primeira vez no Cinema – e confesso que senti um leve arrepio ao ver o Batman dividindo um mesmo quadro com o Superman (e também não nego que ver Batman, Superman e Mulher-Maravilha juntos no terceiro ato me fez abrir um sorrisinho de canto de boca). Por outro lado, a verdade é que Snyder nunca foi o cineasta ideal para extrair drama dos roteiros com os quais trabalhava, tendo sido sempre um cineasta que priorizava estilo acima de substância (o que é comprovado, por exemplo, por 300, Watchmen e Sucker Punch). Assim, o diretor emprega aqui um tom sombrio e “realista” claramente influenciado pelo sucesso do Batman de Christopher Nolan, mas sem a eficácia deste ao saltar dos momentos mais emotivos aos mais tensos. Como consequência, Batman vs Superman transforma-se numa obra insípida e que raramente obtém resultados competentes quando tenta explorar o lado mais emocional de seus personagens – nem o grande acontecimento dramático visto no terceiro ato impacta, pois é fácil prever que “aquilo” possivelmente será desfeito nos próximos projetos da Warner/DC.

Divertindo graças a uma ou outra referência visual a O Cavaleiro das Trevas (da forma com que o assassinato dos pais de Bruce Wayne é retratado até uma imagem que traz Superman flutuando moribundo e esquelético no espaço), Batman vs Superman é favorecido, claro, pela presença dos dois personagens-título: visto como uma figura messiânica com frequência, Clark Kent mostra-se claramente indeciso entre a humanidade que deveria assumir e as condições físicas que o transformam numa quase deidade, resultando num personagem cujos dilemas pessoais soam intrigantes embora a mania de Henry Cavill manter a testa sempre franzida seja um pouco irritante desde O Homem de Aço. Mas, por incrível que pareça, o destaque do projeto é mesmo Ben Affleck: calando a boca de todos que duvidaram de seu potencial (eu fui um deles), o ator oferece uma performance minuciosa e detalhista de um Bruce Wayne envelhecido e cujo olhar exala uma frieza que contribui para tornar o personagem mais mórbido. Além disso, este Batman parece ter saído diretamente das páginas das HQs e é cercado por uma atmosfera soturna (e, até certo ponto, gótica) que, acredito, será bem-aceita pelos fãs do morcegão – e mais: o fato de ele se entregar a filosofias perturbadas (“Se houver 1% de chance dele ser nosso inimigo, temos que considerar isso uma certeza absoluta“) o torna um reflexo curioso da paranoia e da xenofobia dos Estados Unidos pós-11 de setembro.

Da mesma forma, se reclamei da falta de sutileza por trás das referências bíblicas de O Homem de Aço, aqui elas são introduzidas de modo bem mais eficiente – e notem que um dos itens utilizados por um dos personagens remete à lança que garantiu que Jesus Cristo estava morto. Mas ainda que o filme chegue a iniciar alguns debates interessantes a respeito do papel do super-herói na sociedade, tais questionamentos jamais são aprofundados com cuidado, já que Zack Snyder aparenta não ter interesse algum em discussões mais complexas. Para o cineasta, basta trazer uma cena do Superman no Capitólio para que seu comentário social possa ser considerado “relevante” (mesmo que a cena em questão jogue no lixo todo o potencial temático acerca da situação). E, se Gal Gadot tem pouco tempo de tela para se destacar, já que sua Mulher-Maravilha é atirada na narrativa da forma mais artificial possível, Lex Luthor é reduzido a um sub-Coringa genérico e cuja motivação para odiar os super-heróis beira o inexistente (aliás, os tiques exagerados, maneirismos forçados, falas aceleradas e vozes afinadas praticamente garantem a indicação de Jesse Eisenberg ao próximo Framboesa de Ouro).

Se atropelando em furos estapafúrdios e em soluções ridiculamente convenientes, Batman vs Superman finalmente desaponta em seu aspecto mais esperado: a luta entre os dois heróis. Sim, é empolgante vê-los trocar socos e pontapés, mas a razão pela qual o fazem, por outro lado, se resume a um mal entendido tolo e que poderia ser facilmente solucionado caso um dos personagens tivesse se dado ao trabalho de parar e explicar a real situação antes de partir para a briga (comparem ao que Frank Miller escreveu em O Cavaleiro das Trevas, no qual transformou o encontro entre Batman e Superman numa alegoria para uma hipotética guerra entre povo e Estado, e percebam como a motivação oferecida pelo filme soa tematicamente tola em retrospecto).

É verdade que só o fato de trazer dois dos maiores ícones dos quadrinhos se encontrando pela primeira vez na tela grande é o suficiente para Batman vs Superman mereça, ao menos, ser visto. Ainda assim, é difícil negar que se trata de uma oportunidade desperdiçada – e, se esta bagunça for a tal “origem da justiça”, então o prognóstico do universo cinematográfico da DC não é dos melhores.

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