booksmart

Título Original

Booksmart

Lançamento

20 de junho de 2019

Direção

Olivia Wilde

Roteiro

Emily Halpern, Sarah Haskins, Susanna Fogel, Katie Silberman

Elenco

Beanie Feldstein, Kaitlyn Dever, Skyler Gisondo, Molly Gordon, Billie Lourd, Jessica Williams, Diana Silvers, Noah Galvin, Austin Crute, Lisa Kudrow, Will Forte

Duração

102 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Megan Ellison, Chelsea Barnard, David Distenfield, Jessica Elbaum, Katie Silberman

Distribuidor

Imagem Filmes

Sinopse

Duas garotas extremamente esforçadas do ensino médio decidem compensar o tempo perdido e juntar quatro anos de diversão em uma única noite.

Publicidade

Fora de Série | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Capturar o verdadeiro espírito da adolescência é uma tarefa complicada para qualquer cineasta– não é à toa que muitas das obras que tentam fazer isso (e que constituem um subgênero conhecido como coming of age) acabam falhando no processo, já que os dilemas habituais desta fase muitas vezes podem soar como clichês. Ao menos, é isto o que acontece quando estas produções são escritas, dirigidas e/ou interpretadas por adultos que encaram a juventude de maneira esquemática, como se não conseguissem resgatar com naturalidade aquilo que de fato experimentaram quando adolescentes.

Assim, foi com surpresa que vi nos primeiros minutos de Fora de Série, que marca a estreia de Olivia Wilde na direção, uma cena que só poderia ter sido concebida por alguém que realmente lembra não do que aconteceu, mas do que sentiu em seus últimos dias de colégio: ao descobrir que os alunos “desleixados” estão prestes a ir para faculdades conceituadas, a estudiosa Molly Davidson percebe que talvez pudesse ter curtido mais festas em vez de passar o tempo todo grudada em materiais escolares. Ao contrário do que muitas instituições de ensino querem fazer parecer, estudar mais não torna um aluno “melhor” do que o outro – da mesma forma, o fracasso acadêmico nem sempre é fatal como costumam sugerir.

Contando uma história que provavelmente será rotulada como um “Superbad para meninas” por boa parte dos espectadores (o que considero injusto, já que, além de ser radicalmente diferente do – excelente – filme de Greg Mottola em termos de tom e ritmo, este novo trabalho ainda retrata dramas e situações que não serão identificadas exclusivamente pelo público feminino), Fora de Série nos apresenta à dupla Molly Davidson e Amy Antsler, que, amigas inseparáveis durante quase toda a vida escolar, agora estão prestes a terminar o ensino médio e a ingressar no mundo universitário. Depois de passarem anos estudando e dispensando as festas organizadas pelos colegas mais populares, as duas descobrem que uma última comemoração ocorrerá na casa de um garoto e decidem compensar, em uma única noite, a diversão que perderam ao longo do período escolar inteiro. Em outras palavras: Molly e Amy vão se meter em uma série de confusões.

Aliás, um detalhe que não mencionei é que o roteiro de Fora de Série foi escrito por nada menos que quatro roteiristas: Emily Halpern, Sarah Haskins, Susanna Fogel e Katie Silberman – e, como já apontei em outras ocasiões, muitas pessoas envolvidas em uma única função costuma ser um mau sinal. Neste caso, porém, o resultado é surpreendentemente positivo, dando a impressão de que as quatro mulheres se reuniram para compilar um monte de experiências pessoais num mesmo roteiro e amarrá-las de maneira coesa; algo que já funciona no papel, mas que ganha um fôlego ainda maior graças à direção de Olivia Wilde, que revela uma sensibilidade admirável ao enfocar a necessidade que as protagonistas (e, digamos, 95% dos adolescentes) sentem de se provar para as pessoas ao seu redor e como isto indica a baixíssima autoestima das garotas. Além disso, Wilde e as roteiristas demonstram entender, por exemplo, os sentimentos conflitantes – e, às vezes, dolorosos – que tomam conta do jovem quando vê um interesse amoroso ficando com outra pessoa, ao passo que a intensidade que muitas vezes leva o adolescente a se relacionar com alguém inesperado também está presente aqui.

Mas é impossível discutir Fora de Série sem falar sobre as personagens que ancoram a trama (e, consequentemente, as atrizes que as interpretam): conferindo bom humor, espontaneidade e energia à (co-)protagonista, Beanie Feldstein explora com cuidado cada uma das nuances de Molly, que, embora seja determinada a ponto de torna-se mandona em diversos momentos (a própria Amy reconhece isso), está sempre fazendo de tudo para ser aceita pelos que estão ao seu redor (ou seja: seu comportamento prepotente é, de certa forma, fruto de sua baixa autoestima); por sua vez, Kaitlyn Dever transforma Amy numa personagem ainda mais profunda, já que, mesmo contando com o apoio de seus pais ao assumir-se lésbica, frequentemente se sente presa à rotina conservadora imposta por eles, o que leva a menina a sentir-se insegura para desbravar novas aventuras, temerosa em relação ao que está prestes a experimentar e menos capaz de encontrar alguém que retribua seu amor.

Exibindo segurança total em sua estreia na direção, Olivia Wilde encontra um equilíbrio perfeito (e surpreendente) entre o bom humor e os momentos dramaticamente carregados – e as sequências mais engraçadas, por sinal, flertam com a comédia absurda que vimos no próprio Superbad, chegando a incluir linhas de diálogos particularmente inspiradas, personagens que surgem de repente num lugar inesperado e deuses ex machina (como o “Malala”, um meio de transporte secreto que só pode ser usado uma vez ao ano) que, de tão inusitados, tornam-se hilários. Mas o mais espantoso é que este mesmo filme traga uma cena absolutamente brilhante na qual Wilde enfoca uma briga através de um longo plano e que vai ficando cada vez mais tensa – aliás, trata-se de outro momento em que a diretora e as roteiristas demonstram entender a mentalidade instável dos adolescentes, que, por melhores amigos que sejam, podem ser levados a uma discussão acalorada (e triste) de uma hora para a outra.

Pecando apenas em seus dez minutos finais, que exageram na quantidade de situações aleatórias e que fazem a história chegar a um desfecho conveniente e apressado demais, Fora de Série inclui também outra sequência memorável e que não pode ser ignorada aqui: aquela onde as protagonistas são “transformadas” em… bonecas numa animação stop-motion. Assim que me deparei com a inventividade deste momento específico, tive certeza de que Olivia Wilde era uma diretora que veio mesmo para ficar.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *