Espiral (1)

Título Original

Spiral: From the Book of Saw

Lançamento

17 de junho de 2021

Direção

Darren Lynn Bousman

Roteiro

Oren Koules e Mark Burg

Elenco

Josh Stolberg e Peter Goldfinger

Duração

93 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Oren Koules e Mark Burg

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

O detetive Ezekiel “Zeke” Banks se une ao seu parceiro novato Willem para desvendar uma série de assassinatos terríveis que estão acontecendo na cidade. Durante as investigações, Zeke acaba se envolvendo no mórbido jogo do assassino. Ele percebe que o serial killer é um imitador determinado a seguir os passos do assassino Jigsaw.

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Espiral: O Legado de Jogos Mortais | Crítica

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Quando a série Jogos Mortais chegou ao fim, em 2010, ninguém acreditou de fato que aquele sétimo filme seria o derradeiro de uma saga lucrativa como aquela – e não é à toa que, durante muitos anos, ouvi (na escola, na Internet ou onde fosse) várias piadinhas acerca do subtítulo que o filme seguinte teria que ter (se o último se chamava Jogos Mortais: O Final, o próximo seria… Jogos Mortais: O Novo Final? O Final para Valer? That’s All, Folks?). Assim, para a surpresa de absolutamente ninguém, a franquia originalmente concebida por James Wan em 2004 (num longa que ainda se mantém eficiente e interessante, diga-se de passagem) retornou sete anos após seu “desfecho” com Jigsaw e, agora, ganha mais uma sobrevida com Espiral. Infelizmente, com maus resultados.

Marcando o retorno de Darren Lynn Bousman (Jogos Mortais 2, 3 e 4) à série, Espiral: O Legado de Jogos Mortais começa estabelecendo a chegada de um novo serial killer que, inspirando-se nos escape rooms fatais criados por Jigsaw nos oito capítulos anteriores, adota policiais e agentes criminais como vítimas preferenciais. Com isso, ao perceber que vários de seus amigos estão caindo nas garras deste novo assassino, o detetive Ezekiel “Zeke” Banks decide tomar o caso para si e investigá-lo por conta própria – o que só não acontece porque seu departamento o obriga a unir-se ao novato Willem. A partir daí, o filme se divide entre a operação comandada por Banks e, claro, as cenas de tortura que são a marca registrada da franquia e que aqui envolvem dedos sendo lentamente arrancados, afogamento com cera quente, chuvas de cacos de vidro e por aí vai.

Em outras palavras: é a mesma história de sempre, com os mesmos tipos de personagens de sempre e contada sob a mesma abordagem estética de sempre, acrescentando apenas um ou outro ingrediente que dê a impressão de frescor (a influência mais assumida de filmes policiais, por exemplo), mas que nunca é usado com o afinco necessário para ser considerado uma grande novidade – e, se em teoria o fato de o novo assassino inspirar-se claramente em Jigsaw poderia soar como um comentário interessante acerca de alguma coisa (a reverência de Hollywood por velhas franquias; sua dificuldade de se reinventar; a forma como um ato de violência pode/costuma inspirar outro; etc), na prática torna-se apenas uma desculpa fácil para a falta de criatividade dos roteiristas Oren Koules e Mark Burg. Da mesma forma, os detalhes sobre o passado de Zeke que tentam transformá-lo num protagonista mais denso e dramático (seu divórcio traumático; o fato de não poder se aproximar da filha; seus problemas com o pai; a amizade que tinha com o policial morto na abertura; etc) soam menos como dilemas reais e mais como clichês enfiados de qualquer jeito para facilitar o envolvimento do público com o personagem, sendo apenas comentados da boca para fora em vez de desenvolvidos com cuidado.

Reforçando a ideia de que a franquia parou no tempo e nunca saiu do mesmo lugar (por mais que este filme tente nos convencer do contrário), há o fato de Darren Lynn Bousman seguir à risca exatamente a mesma abordagem que James Wan estabelecera há 17 anos, com os planos em velocidade acelerada, a câmera que circunda os atores durante as cenas de tortura e a montagem que rapidamente intercala algum momento no presente com flashbacks que explicam o que levou os personagens àquelas situações (aliás, a mentalidade do filme é tão datada que até suas referências de humor soam deslocadas em uns 10 anos no tempo, com direito a uma piadinha envolvendo a má reputação da saga Crepúsculo). Mas o pior, contudo, é perceber como Bousman jamais consegue equilibrar o suspense da trama policial, o humor que surge às vezes para quebrar o gelo e as cenas de violência gráfica á la James Wan, fazendo um enfraquecer o outro a ponto de nos levar ao riso em momentos supostamente dramáticos.

O que nos traz ao grande problema de Espiral (e que ajuda a ilustrar o desequilíbrio que mencionei): a escalação de Chris Rock para o papel principal. Comediante talentoso que há muito se destacou no stand-up em função de seu bom timing (e recomendo muito seu especial Tamborine, disponível na Netflix), Rock fracassa aqui não por demérito seu, mas por decisões equivocadas de casting e, principalmente, de direção de atores, que falharam em indicar para o ator o tom que seu personagem exigia e em conciliar o bom humor do comediante e a atmosfera tensa do filme em si. Dito isso, não nego que Rock me fez rir em vários momentos de Espiral – o problema é que nenhuma destas risadas era intencional; apenas resultavam da sensação de que o ator estava de brincadeira o tempo todo (e o momento em que ele diz “Você tem que me deixar pegar este filho da puta” e termina apertando dramaticamente os olhos me fez lembrar do Joey Tribianni de Friends atuando).

Tão sádico quanto o próprio Jigsaw na maneira pornográfica com que explora a violência gráfica das torturas e mortes que retrata (uma questão que faz parte da essência da série e que considero moralmente complicada; não é problemático que um público se divirta ao ver corpos serem mutilados e que haja uma saga inteiramente dedicada a estimular este tipo de divertimento?), Espiral: O Legado de Jogos Mortais é o tipo de filme que trata o espectador como idiota a ponto de trazer um flashback relembrando algo que vimos 10 minutos antes. E, depois de nove longas que sugaram até as últimas instâncias o que James Wan tinha apresentado em 2004, a hora de parar já chegou há muito tempo.

Jigsaw, seu copycat e os responsáveis por esta franquia já foram longe demais.

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