The Square

Título Original

The Square

Lançamento

4 de janeiro de 2018

Direção

Ruben Östlund

Roteiro

Ruben Östlund

Elenco

Claes Bang, Elisabeth Moss, Dominic West, Terry Notary e Christopher Læssø

Duração

142 minutos

Gênero

Nacionalidade

Suécia

Produção

Erik Hemmendorff, Philippe Bober e Kalle Boman

Distribuidor

Pandora Filmes

Sinopse

Um gerente de museu está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação. Entre as tentativas para isso, ele decide contratar uma empresa de relações públicas para fazer barulho em torno do assunto na mídia em geral. Mas, inesperadamente, isso acaba gerando diversas consequências infelizes e um grande embaraço.

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The Square: A Arte da Discórdia | Crítica

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Enquanto assistia a The Square – candidato da Suécia ao Oscar de melhor filme estrangeiro –, pensei constantemente em Toni Erdmann. Mesmo que gire entorno de temas distintos, o novo longa do cineasta Ruben Östlund (que dirigiu o aclamado Força Maior, em 2014) conta com um senso de humor bem parecido com o da alemã Maren Ade e sutilmente pega o espectador de surpresa com algum absurdo. Agora basta pegar essa abordagem inusitada e aliá-la à acidez das discussões levantadas pela obra para ter uma noção do que é The Square, uma divertida brincadeira que ao mesmo tempo questiona o valor real da Arte e ironiza a pose de uma elite que se pretende erudita.

Roteirizado também por Östlund, o filme gira entorno de Christian, que acaba de se tornar curador do Museu de Arte Contemporânea de Estocolmo e busca maneiras impactantes de divulgar “The Square”, um quadrado iluminado posicionado no chão que propõe uma convivência pacífica entre os que estão dentro da linha traçada. Mas a vida do sujeito vem a se tornar um inferno tanto pessoal quanto profissional, já que: 1) os responsáveis por promover a exposição começam a causar problemas após tentarem chocar o público de forma sensacionalista; e 2) o roubo de seu celular o leva a tomar medidas drásticas e questionáveis.

Organizado de maneira sempre inteligente por Ruben Östlund (notem, por exemplo, como a aparição inacreditável de um macaco acaba servindo quase como foreshadowing para algo que virá no terceiro ato), o roteiro de The Square acerta especialmente ao apostar num senso de humor que surge de modo inesperado e vai do sutil (como no momento onde a lataria de um carro é arranhada sem que isso seja mostrado) ao escrachado (é hilário ver até onde o protagonista se recusa a entregar uma camisinha recém-usada para a companheira), sendo uma proeza que ambas as abordagens funcionem tão bem. Além disso, Östlund frequentemente surpreende na forma como constrói a comicidade: quando Christian encontra-se numa festa e autoafirma que não vai transar com certa personagem, é claro que os dois irão para a cama logo em seguida – a diferença, porém, é que o diretor/roteirista reconhece a obviedade da piada e se aproveita disso para ir além das expectativas do espectador no decorrer da cena.

Mas o riso do público não é a maior conquista de The Square, pois Östlund faz questão de incluir, no meio das (muitas) gargalhadas, uma série de comentários ácidos e críticos a respeito do comportamento das classes economicamente favorecidas. Assim, quando Christian e seu colega Michael resolvem escrever uma carta teoricamente ameaçadora, os dois começam a cair num monte de futilidades que vão desde a escolha das palavras certas até a preocupação com a fonte do texto, o que confere um significado maior às risadas que o espectador dá. Por outro lado, existem também passagens onde o foco do diretor não é necessariamente a comédia, abraçando um lado mais dramático através de um monólogo que o protagonista grava no terceiro ato e de imagens que dão destaque a mendigos ignorados enquanto pedem dinheiro.

O que nos traz, inclusive, a outro tema recorrente do filme: a legitimidade da Arte e a maneira como os apreciadores devem enxergá-la – e, por este motivo, é bastante curioso (e importante) que The Square esteja chegando ao Brasil num momento como o atual, onde muitos passam a julgar o que é ou não é Arte baseado em critérios tão subjetivos que beiram o abstrato. Não é de hoje que discuto como tudo pode ser encarado como uma obra, já que a Arte se define como uma expressão da essência do indivíduo. Em compensação, é fundamental que o defensor de qualquer tipo de discurso possa sustentar sua argumentação, algo que Christian mostra-se incapaz de fazer logo na cena que abre a projeção, quando sequer consegue explicar direito o significado de uma obra em exposição – e o senso de humor de Ruben Östlund volta a marcar presença depois disso, despertando risadas através de situações como aquela onde o faxineiro varre uma obra achando que era lixo. E afinal, até onde vale o discurso de “tudo pela Arte”? O terceiro ato aponta para esta indagação através de uma sequência memorável onde conhecemos a brutalidade desenfreada de um “homem-macaco” (que, diga-se de passagem, é interpretado pelo mesmo Terry Notary que emprestou seus movimentos ao gorila de Kong: A Ilha da Caveira).

Há, no entanto, um aspecto que diminui um pouco o impacto de The Square: embora discuta seus temas muitíssimo bem, oferecendo posicionamentos sólidos ao mesmo tempo em que levanta indagações para que o próprio espectador chegue numa conclusão, o filme comete o erro de estender sua duração além do necessário, chegando aos 142 minutos mesmo que uns 20 pudessem ser limados. Sim, é verdade que o próprio roteiro comenta brevemente a liberdade que uma obra tem para tomar o tempo que quiser (o que talvez já prepare uma espécie de armadilha para essa minha reclamação), mas isso não muda o fato de que algumas sequências que ocorrem principalmente no terceiro ato poderiam contar com um ritmo mais ágil e objetivo.

Dito isso, The Square é uma obra que faz bom uso do tempo que quer tomar, levando o público a gargalhar e sentir agonia ao passo que põe a mão na consciência e reflete a respeito de determinados temas. Só isso já faz o longa merecer a indicação que certamente receberá ao Oscar de melhor filme estrangeiro, colocando-se ao lado do brilhante Uma Mulher Fantástica nessa disputa.

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