King Kong en Asunción

Título Original

King Kong en Asunción

Lançamento

2 de setembro de 2021

Direção

Camilo Cavalcante

Roteiro

Camilo Cavalcante

Elenco

Andrade Júnior, Ana Ivanova, Juan Carlos Aduviri, Fernando Teixeira, Maycon Douglas e Georgina Genes

Duração

90 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA/Bolívia/Paraguai

Produção

Carol Vergulino e Neusa Rodrigues

Distribuidor

ArtHouse

Sinopse

Um velho matador de aluguel comete o seu último assassinato e se esconde na Bolívia. Após meses isolado, ele viaja para o interior do Paraguai para tentar conhecer sua filha.

Publicidade

King Kong en Asunción | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

A imagem de Andrade Júnior caminhando pelas ruas da Bolívia em direção ao Paraguai é recorrente em King Kong en Asunción. Encarnando um experiente matador de aluguel que agora busca uma reconciliação com o passado e uma reaproximação com tudo aquilo que deixou para trás em prol de uma vida sanguinária, Júnior é quase sempre visto pela câmera de Camilo Cavalcante (A História da Eternidade) como um andarilho em direção a um destino mais espiritual do que necessariamente físico/geográfico (embora este também exista). Na prática, contudo, as várias – e longas – cenas que enfocam o protagonista na estrada refletem uma condição pouco lisonjeira de King Kong en Asunción: a de uma obra que está o tempo todo fugindo de seus temas, perambulando sem rumo em direção a um objetivo que nunca entendemos muito bem e escapando da necessidade de se aprofundar nos assuntos e nas (boas) ideias que propõe.

Marcando a última aparição de Andrade Júnior no Cinema (ele faleceu em 4 de Maio de 2019 e foi homenageado com um prêmio póstumo no Festival de Gramado), King Kong en Asunción começa com o final da carreira do protagonista (cujo nome jamais sabemos): no meio de um deserto de sal, ele mata a sangue frio a última vítima de seu violento ofício. A partir daí, o sujeito – que raramente abre a boca – começa uma longa jornada que sai da Bolívia e parte em direção ao Paraguai, onde uma farta recompensa por seus anos de serviço o aguarda e uma antiga companheira agora parece morar em uma casa no interior junto à filha (que nunca conheceu o pai). Assim, à medida que narrativa avança, o protagonista vai se preparando não apenas para o fim de uma longa estrada de dor, violência e vidas interrompidas, mas também para uma tentativa de conhecer sua filha – e, claro, tentar repor todo o tempo perdido.

Infelizmente, estes conflitos são apenas pincelados ao longo dos 90 minutos de projeção, já que, de modo geral, o máximo que Camilo Cavalcante consegue fazer é propor ideias, discussões e arcos interessantes, mas que sempre terminam na superfície – e, se aqui e ali o filme cria alguns momentos que extraem (por pouco tempo) os conflitos internos do protagonista (o “King Kong” do título), estes acabam logo sendo sobrepostos pelas simples imagens dele nas ruas/estradas e por dois ou três diálogos carregados de exposição e que se encarregam de mastigar e abreviar facilmente, por exemplo, a dinâmica do personagem com velhos conhecidos (e só o fato de haver estes reencontros já sugere um potencial dramático que – de novo – o filme aborda de maneira rápida e superficial).

O mesmo vale, inclusive, para a narração em off de Ana Ivanova, que somente no fim da projeção revela se tratar da Morte e que, ao comunicar-se em guarani, parece tentar criar uma conexão entre o protagonista e as raízes sul-americanas das terras que ele percorre, mas que, no fim das contas, acaba servindo apenas para verbalizar tudo aquilo que as imagens por si só falham em transmitir, convertendo-se em um mero recurso expositivo – e a ligação entre ele e suas bases ameríndias, no entanto, jamais é desenvolvida a ponto de parecer algo além de uma perfumaria, como algo que faça o filme soar mais profundo do que é. E, se o fato de “King Kong” ter trabalhado para o establishment no passado poderia render um conflito interessante, com ele sendo obrigado a lidar com o peso de ter lutado contra seu(s) próprio(s) povo(s) em nome dos poderosos, na prática isto se resume a uma sequência dele urinando sobre os quadros de vários presidentes (de Deodoro da Fonseca a Michel Temer) que parece mais interessada em arrancar aplausos fáceis de plateias em festivais do que em contribuir para a narrativa.

Em compensação, a escolha de Andrade Júnior para o papel principal não poderia ser mais admirável, já que, corpulento como o título sugere que seu personagem será, ele consegue ao mesmo tempo sugerir a imponência de um matador experiente e, também, a decadência trazida por anos de más escolhas, soando simultaneamente ameaçador e vulnerável (como o próprio King Kong, afinal). Além disso, a grandeza de Júnior encontra-se também em sua performance, sendo brilhante como, mesmo limitado pelo roteiro e pela direção, ele ilustra o sofrimento, a culpa e os dilemas do protagonista através de poucas palavras e de sutilezas em sua composição – e a cena que o traz ensaiando o que dirá quando encontrar a filha pela primeira vez é não apenas tocante como também representa um dos poucos momentos em que o longa consegue retratar as complexidades do sujeito, nos levando a perceber a insegurança do personagem (mesmo com toda a vida que ele levou) e a lamentar tudo aquilo que perdeu (o crescimento da filha; uma família que talvez o amasse; etc) em prol de uma carreira ingrata.

Na maior parte do tempo, porém, King Kong en Asunción soa como uma oportunidade desperdiçada. E, considerando-se a magnitude dos temas propostos por Cavalcante e o potencial dramático do intrigante protagonista de seu filme, isto é uma pena.

Mais para explorar

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *