Hellboy (1)

Título Original

Hellboy

Lançamento

16 de maio de 2019

Direção

Neil Marshall

Roteiro

Andrew Cosby

Elenco

David Harbour, Milla Jovovich, Ian McShane, Sasha Lane, Daniel Dae Kim, Thomas Haden Church, Penelope Mitchell, Sophie Okonedo, Mark Stanley, Brian Gleeson, Alistair Petrie, Laila Morse, Stephen Graham, Douglas Tait, Emma Tate

Duração

121 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Lawrence Gordon, Lloyd Levin, Mike Richardson, Philip Westgren, Carl Hampe, Matt O’Toole, Les Weldon, Yariv Lerner

Distribuidor

Imagem Filmes

Sinopse

Uma antiga feiticeira volta à vida decidida a vingar-se de uma traição do passado. Dividido entre o mundo sobrenatural e humano, o lendário meio-demônio Hellboy recebe a missão de conter essa ameaça e salvar o mundo.

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Hellboy (2019) | Crítica

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Ao sair da exibição do novo Hellboy, conversei com alguns colegas sobre o que tínhamos acabado de ver e comentei que não era familiarizado com os quadrinhos que originaram este longa, limitando-me apenas às duas (divertidas) adaptações que Guillermo del Toro dirigiu na década passada. Depois que ressaltei isso, me disseram que esta nova versão está mais próxima das HQs do que os filmes anteriores, já que o cineasta mexicano havia feito um monte de mudanças ao levar a obra de Mike Mignola para o Cinema. Se isso for verdade, então… prefiro manter distância dos quadrinhos e continuar só com os trabalhos de del Toro, pois este reboot comandado por Neil Marshall e produzido por nada menos que oito pessoas é um fiasco absoluto.

Escrito por Andrew Cosby a partir dos primeiros arcos de HQs escritos por Mike Mignola, o novo filme começa com um prólogo que resume a história de Nimue, uma feiticeira poderosa que deseja liberar os demônios para atacarem a Humanidade, mas que logo é esquartejada e trancada em caixas espalhadas ao redor do mundo. Depois que algo prenuncia um possível retorno de Nimue, o protagonista Hellboy – um fortão irreverente e carrancudo que veio do Inferno à Terra quando ainda era bebê – é convocado para detê-la, partindo numa missão que contará também com a presença da jovem Sasha Lane e do soldado Ben Daimio (que, mais tarde, revelará um “superpoder” bem estranho).

Verdade seja dita: a trama de Hellboy está longe de ser das mais elaboradas, revelando-se bobinha, simplória e nada original – o que não representaria um problema tão grande se o filme soubesse desenvolvê-la direito e não duvidasse tanto da inteligência do espectador. Em vez disso, porém, o roteiro acredita estar lidando com um material complexo (não está) e faz questão de parar a qualquer momento para explicar o que está acontecendo na história, sobrecarregando os personagens (e os atores) de diálogos pavorosamente expositivos e de frases de efeito tolas que ninguém perderia tempo dizendo. Assim, não é surpresa que o longa conte com tantos flashbacks, que, além de interromperem o ritmo da narrativa, também irritam por serem frequentes e excessivamente didáticos – é sintomático, por exemplo, que o filme chegue ao terceiro ato e ainda se sinta obrigado a parar tudo que está fazendo para mostrar o passado de certo personagem.

E o mais bizarro é que, mesmo tratando o espectador como uma criatura incapaz de entender qualquer informação básica sem depender de ilustrações e falas expositivas, a trama de Hellboy continua não fazendo o menor sentido: enfiando à força um monte de personagens, detalhes e sugestões de arcos dramáticos que servem somente para inchar a narrativa, o roteiro de Andrew Cosby perde tempo com um monte de informações desnecessárias e que eliminam o pouco de coesão que poderia haver na história – o que é agravado pela montagem de Martin Bernfeld, que, ao criar um ritmo excessivamente frenético, acaba fazendo com que tudo no filme se atropele. Como se não bastasse, Cosby praticamente inventa um conceito que chamei de merlin ex machina: não quero entrar em spoilers, mas basta dizer que, quando alguém é gravemente ferido, os heróis invocam um mago bem famoso para tentar reverter a situação.

Tentando atingir um público um pouco mais velho do que aquele almejado pelas adaptações de Guillermo del Toro (que sequer continham sangue, palavrões ou insinuações sexuais), o novo Hellboy parece acreditar que o adulto de hoje vai se derreter por qualquer piadinha imbecil que envolva violência, palavrões, baixarias e menções a redes sociais e/ou a aplicativos populares – o que o filme não entende é que, para estas tentativas de humor funcionarem, elas precisam ser engraçadas (duh!). Além disso, o diretor Neil Marshall falha naquilo que obras como Kick-Ass e Deadpool conseguiram com eficácia: encontrar um equilíbrio entre a violência gráfica e as constantes piadas (o holandês Paul Verhoeven, por exemplo, é um mestre neste sentido) – e, por consequência, as várias mutilações que ocorrem no terceiro ato acabam soando gratuitas, artificiais e sensacionalistas.

Por falar em Neil Marshall, é inacreditável que o diretor responsável por dois dos episódios mais memoráveis de Game of Thrones (“Blackwater” e “Os Patrulheiros da Muralha”) seja capaz de realizar algo tão… insípido quanto Hellboy. Aqui e ali, o cineasta compõe um plano que até poderia funcionar caso não fosse limitado pelo baixo nível da produção. Um exemplo disso encontra-se na sequência em que o protagonista luta contra três criaturas gigantes: sim, a ideia de rodar o confronto em planos longos é boa, porém os efeitos visuais se encarregam de estragar o resultado da cena. Para completar, o filme desaponta em seus quesitos técnicos, já que o designer de produção Paul Kirby sequer tenta fazer algo que chegue aos pés da imaginação visual dos longas de Guillermo del Toro, ao passo que a fotografia de Lorenzo Senatore se contenta em apenas mergulhar tudo em sombras.

E há, claro, o Hellboy em si: concebido através de uma maquiagem razoavelmente satisfatória (embora menos que a da versão de del Toro), o protagonista é encarnado por David Harbour como um brucutu descerebrado, sem personalidade e que vive fazendo piadinhas sem graça, jamais apresentando um único conflito que o torne tão interessante (ou humano) quanto a versão interpretada por Ron Perlman nos filmes anteriores. Não que Harbour não se esforce: dá para ver que o ator realmente quer que tudo funcione; o problema é que contornar a pobreza dos diálogos e a mediocridade da direção é uma tarefa aparentemente impossível. Já Milla Jovovich se vê presa a uma vilã ridícula que quase leva o espectador às gargalhadas – e se eu disse “quase”, é porque o babuíno monstruoso que acompanha Nimue é chato e constrangedor a ponto de eliminar qualquer possível risada que a feiticeira possa despertar.

Investindo em uma trilha sonora explosiva e frequentemente pautada em heavy metal (sempre com o objetivo de fazer o filme parecer “radical” ou “marrento”), Hellboy ainda traz duas cenas pós-créditos que preparam o terreno para uma possível continuação. O que não deixa de ser meio deprimente, pois basta assistir ao desastre que antecedeu estas duas cenas para constatar que a tal sequência dificilmente verá a luz do dia. Agora, resta torcer para que Guillermo del Toro aproveite o status que A Forma da Água lhe concedeu e finalmente produza o Hellboy 3 que todos nós gostaríamos de ver.

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