Vingadores Ultimato

Título Original

Avengers: Endgame

Lançamento

25 de abril de 2019

Direção

Anthony Russo e Joe Russo

Roteiro

Christopher Markus e Stephen McFeely

Elenco

Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Don Cheadle, Paul Rudd, Brie Larson, Karen Gillan, Zoe Saldana, Chadwick Boseman, Tom Holland, Tessa Thompson, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Gwyneth Paltrow, Sebastian Stan, Tom Hiddleston, Danai Gurira, Rene Russo, Evangeline Lily, Benedict Cumberbatch, John Slattery, Tilda Swinton, Hayley Atwell, Letitia Wright, Bradley Cooper e Josh Brolin

Duração

181 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Marvel Studios

Distribuidor

Disney

Sinopse

Depois dos devastadores eventos de Vingadores: Guerra Infinita, o Universo está em ruínas por conta dos esforços do Titã Louco, Thanos. Com a ajuda dos seus aliados restantes, os Vingadores devem se reunir mais uma vez para desfazer as ações de Thanos e restaurar a ordem do universo de uma vez por todas, não importam as consequências que os esperam.

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Vingadores: Ultimato | Crítica

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Foram 11 anos desde que Tony Stark foi mantido em cativeiro, fugiu após construir uma armadura superpoderosa, decidiu empregar sua tecnologia para proteger o mundo e disse “Eu sou o Homem de Ferro” diante de uma coletiva de imprensa, no fim daquele que se tornaria o primeiro filme de uma saga que depois se tornaria cada vez mais grandiosa, colorida e bem humorada. A partir dali, vieram mais de vinte produções que ajudaram a construir um universo envolvendo dezenas de personagens e franquias que se entrelaçavam de maneira surpreendente – o que, claro, resultava de um planejamento cuidadoso e ambicioso em termos de escala. Sim, é verdade que nem todas as apostas da Marvel foram bem-sucedidas, já que a necessidade de deixar o espectador interessado em conferir os próximos longas do estúdio frequentemente fazia os filmes perderem seu valor individual, soando mais como trailers de duas horas para um evento que não parecia vir nunca.

Ao assistir a Vingadores: Ultimato, porém, percebi que esta longa jornada tinha valido a pena. E, se os filmes da Marvel são experientes em gerar risadas e simpatia por seus personagens, este novo capítulo ainda assim conseguiu algo que nenhum de seus 21 antecessores havia feito: me arrepiar. E isto aconteceu várias vezes durante as três horas deste último longa.

Novamente escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely (responsáveis por outros cinco roteiros da Marvel), Ultimato continua a história a partir de onde a deixamos em Guerra Infinita, logo após o estalar de dedos que fez Thanos dizimar metade da vida existente no universo. É difícil falar mais sobre o que acontece na trama, já que os trailers fizeram questão de ser discretos neste sentido e a própria estrutura do roteiro toma caminhos que pegam o espectador de surpresa, então qualquer detalhe com relevância mínima pode ser considerado spoiler. Basta dizer, portanto, que os Vingadores que sobreviveram estão buscando uma forma de… consertar o que foi feito (estou tentando ser o mais vago possível), contando com a ajuda de duas figuras que, até então, estavam sumidas: o Homem-Formiga e a Capitã Marvel.

É interessante notar como o roteiro de Ultimato segue as tradições dos filmes de super-heróis, porém surpreende o espectador ao lidar com certas questões de maneira inesperada – e se você espera que a história se resumirá aos Vingadores correndo atrás de Thanos, esqueça: na maior parte do tempo, a narrativa se concentra não na luta contra o vilão, mas na estratégia que talvez leve os heróis a confrontarem as ações do vilão (o que, claro, não impede o longa de criar confrontos físicos que impressionam em sua grandiosidade). Além disso, o modo como os Vingadores buscam a solução para seus problemas envolve conceitos que são naturalmente associados à ficção científica, o que traz frescor a uma fórmula que já foi testada em dezenas de filmes de super-heróis.

Aliás, se o final de Guerra Infinita não chegou a me impactar tanto quanto poderia (afinal, eu sabia – e ainda sei – que a maioria dos personagens que sumiram ali já tinham presença garantida nos próximos longas da Marvel), Ultimato compensa este detalhe ao explorar as consequências que vieram depois daquilo – e isto não se aplica somente aos protagonistas, mas à forma como o mundo inteiro teve que seguir adiante. Desta maneira, o mal estar que se instalou a partir do desfecho do filme anterior continua a se manifestar através do desânimo coletivo, já que os sobreviventes não se animam mais para lotar um estádio de futebol ou mesmo para manter as ruas limpas e/ou “apresentáveis” – e gosto particularmente do olhar respeitoso que a Humanidade passou a conferir às bilhões de vítimas de Thanos, se referindo a elas através de um apelido grandioso (“The Vanished“) e construindo grandes monumentos que homenageiam os nomes de cada desaparecido.

O mais importante, contudo, é perceber como os heróis foram impactados pela tragédia: investindo em uma atmosfera surpreendentemente triste e melancólica (ainda mais comparada à leveza habitual dos projetos da Marvel), os diretores Anthony e Joe Russo tomam uma atitude corajosa ao dedicar o primeiro ato inteiro às lamentações dos personagens, não se sentindo obrigados a acelerar o ritmo da narrativa apenas para adiantar a ação. Assim, Ultimato permite que acompanhemos a dor dos Vingadores após falharem justamente no objetivo que sempre os uniu: garantir a proteção da Humanidade – e, por mais icônicos que sejam, nenhum deles foi capaz de superar completamente o trauma que aconteceu: o Gavião Arqueiro perdeu o único elemento que ainda o conectava ao mundo real (sua família) e tenta compensar a derrota caçando mafiosos no Japão; a Viúva Negra, encarnada por Scarlett Johansson com um peso dramático bem maior que em suas aparições anteriores, faz de tudo para preservar os entes queridos que conquistou depois de muitos anos (afinal, foram eles que a fizeram entender que era um ser humano em vez de uma máquina de matar); e o Homem-Formiga… bem, se estabelece como um outsider que, ao ser atirado no presente após alguns anos mantido em uma dimensão paralela, diverte graças ao timing cômico sempre eficiente de Paul Rudd. (Por outro lado, Brie Larson pouco tem a fazer sob a pele da Capitã Marvel, o que é uma pena.)

Mas se há dois personagens que surgem em caraterizações inesperadas, estes são Thor e Hulk: o primeiro é vivido por Chris Hemsworth como um sujeito que há muito preferiu esquecer seus traumas e dedicar-se a uma vida descompromissada, evitando qualquer tipo de desconforto – o que serve tanto para despertar o riso quanto para fazer o espectador compreender os dilemas pessoais do herói, sendo admirável que Hemsworth ilustre esta diferença ao sugerir ironia em sua fala e mudar rapidamente para um tom de voz mais grave assim que ouve o nome “Thanos” pela primeira vez –; já o segundo permite que Mark Ruffalo se expresse através de (excelente) performance capture e ainda exiba um bom humor que, embora frequente, jamais faz Bruce Banner parecer menos inteligente do que realmente é, soando como uma evolução orgânica do personagem que conhecemos nos filmes anteriores.

O bom humor, por sinal, é algo que sempre fez parte das produções da Marvel – e mesmo apresentando ambições mais dramáticas do que de costume, Ultimato revela-se hábil ao encontrar espaço para uma ou outra gag pontual e para criar alívios cômicos que provocam o riso, porém evitam chamar a atenção para si (e, com isso, nunca quebram a seriedade dos momentos mais cruciais da trama). Aliás, os irmãos Russo demonstram total controle acerca da narrativa que desejam construir, permitindo que os constantes diálogos ocupem o melhor tempo de tela possível e reservando as piadas e as sequências de ação para os instantes em que ambas servirão à história – algo que é enriquecido pelo brilhante trabalho dos montadores Jeffrey Ford e Matthew Schmidt, que sabem reconhecer a importância das sensações que cada sequência deverá despertar (o que permite, por exemplo, que o filme empregue pausas entre uma ação e outra) e ainda executam a complexa tarefa de saltar entre personagens, situações paralelas e tempos completamente diferentes, costurando as três horas de projeção de maneira ágil e dinâmica.

Novamente comprovando sua habilidade no comando das sequências de ação (lembrem-se: são os mesmos cineastas que surpreenderam com Capitão América 2 e que não desapontaram desde então), os irmãos Russo impressionam ao criar um terceiro ato que serve de clímax não apenas para este filme, mas para todos os 22 que a Marvel produziu até agora – e, por isso, o momento que mais me arrepiou foi justo aquele (vocês o reconhecerão) em que, preparando o cenário para a batalha que virá a seguir, os diretores revelam a totalidade de sua escala. Mas é claro que o que faz este clímax funcionar é mesmo o vínculo emocional entre o espectador e aqueles personagens; se aquele confronto não contasse com construção dramática alguma, certamente se resumiria a um monte de barulhos, efeitos visuais e explosões insignificantes. É nesta hora que os irmãos Russo põem à prova todo o investimento prévio feito pelo público, já que o tal vínculo que citei há pouco é algo que obviamente veio sendo lapidado com paciência ao longo dos últimos 11 anos.

Não à toa, existem vários momentos em Ultimato que foram claramente concebidos com o propósito único de satisfazer os fãs que acompanharam esta jornada desde o início (ou que passaram a acompanhá-la em algum momento) – e isto nos traz a mais uma virtude inesperada do longa: sua capacidade de fazer o que a Internet costuma chamar pejorativamente de fan-service, mas sempre fazendo questão de integrá-lo à narrativa. Desta maneira, o roteiro de Markus e McFeely busca – e encontra – razões orgânicas para que estes momentos façam parte da história: ora, se os personagens precisam revisitar ambientes e situações familiares (é difícil dizer sem nenhum spoiler), é apenas natural que acabem também relembrando passagens memoráveis dos filmes anteriores. Mas o mais importante é perceber como estas recordações movem a trama e os arcos de cada personagem em vez de interrompê-los, sendo curioso também que, ao comparar o passado com o presente, fique claro para o espectador o quanto o Universo Marvel evoluiu com o tempo – e basta ver uma gag envolvendo Hulk e uma escada de emergência, por exemplo, para notar como o primeiro Vingadores, em retrospecto, era bem mais lúdico, colorido e ingênuo que o filme de agora.

Para completar, Ultimato é particularmente eficaz ao pôr um ponto final nas histórias de dois personagens: o Capitão América e o Homem de Ferro. Novamente vivido por Chris Evans como um bastião do bom mocismo, Steve Rogers é um indivíduo que, mesmo depois de tantas perdas, continua lutando até onde for possível para defender e apoiar alguém que esteja precisando de ajuda – e, quando seu arco chega ao fim, percebemos a dimensão de tudo que aquele herói vivenciou e realizou, podendo enfim desfrutar de um merecido reconhecimento. Já Tony Stark (o protagonista do filme que deu início ao Universo Marvel, vale lembrar) é encarnado por Robert Downey Jr. como um sujeito que sucumbiu ao egoísmo não por arrogância, mas por medo – e, ainda assim, ouvi-lo dizer “Eu sou o Homem de Ferro” pela última vez, conferindo um significado novo a estas palavras, comprova lindamente o quanto ele amadureceu com o passar dos anos.

A jornada chegou ao fim. Sim, o Universo Marvel pode até continuar depois de Ultimato, mas o ciclo iniciado lá no primeiro Homem de Ferro foi completado – e faz todo o sentido, portanto, que o estúdio tenha finalmente rompido aqui com a tradição de encerrar suas produções com uma cena pós-créditos. Desta vez, não é necessário deixar o espectador interessado em conferir um filme que ainda está por vir; o que importa é celebrar as amizades que fizemos nestes últimos 11 anos e o encerramento de um longo projeto que, felizmente, fez jus às suas ambições.

Assista também aos vídeos SEM e COM spoilers que gravei sobre o filme:

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