Homem-Aranha 1

Título Original

Spider-Man

Lançamento

17 de maio de 2002

Direção

Sam Raimi

Roteiro

David Koepp

Elenco

Tobey Maguire, Kirsten Dunst, Willem Dafoe, James Franco, Cliff Robertson, Rosemary Harris, J. K. Simmons, Ron Perkins, Joe Manganiello, Bill Nunn, Ted Raimi e Elizabeth Banks

Duração

121 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Laura Ziskin e Ian Bryce

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Depois de ser picado por uma aranha geneticamente modificada em uma demonstração científica, o jovem nerd Peter Parker ganha superpoderes. Inicialmente, ele pretende usá-los para para ganhar dinheiro, adotando o nome de Homem-Aranha e se apresentando em lutas de exibição. Porém, ao presenciar o assassinando de seu tio Ben e sentir-se culpado, Peter decide não mais usar seus poderes para proveito próprio e sim para enfrentar o mal, tendo como seu primeiro grande desafio o psicótico Duende Verde.

Publicidade

Homem-Aranha | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Sempre que penso neste Homem-Aranha, primeira superprodução baseada nos quadrinhos da Marvel depois do sucesso de X-Men, a cena que me vem à mente é a dele voando pelos céus de Manhattan pela primeira vez, numa montagem que intercala suas pequenas ações heroicas e as reações dos cidadãos nova-iorquinos diante do surgimento de uma figura daquelas. Há uma sequência, em especial, que é rápida, porém inesquecível: um close do rosto do herói que mostra os detalhes de sua máscara pela primeira vez, um plano-detalhe de sua mão disparando uma teia e um plano aberto que… bem, o traz voando de novo. Assim, a sensação provocada pelo cineasta Sam Raimi é a de total fascínio pela figura do herói, construída por um diretor que obviamente sabe estar lidando com um super-herói tão popular e que aproveita a oportunidade de ouro que reconhece ter em mãos – e é apropriado, portanto, que o filme exiba este mesmo fascínio ao criar um universo que escancara suas origens de quadrinhos.

Escrito por David Koepp (Jurassic Park), Homem-Aranha se apresenta como uma história de origem extremamente fiel àquela concebida por Stan Lee e Steve Ditko em 1962: Peter Parker é um adolescente tímido, desprezado pela maioria dos colegas de classe e que, órfão desde criança, mora com seus tios Ben e May. No entanto, tudo na vida do garoto muda depois que, durante uma excursão escolar, uma aranha geneticamente modificada o morde – e, no dia seguinte, Peter se descobre com superpoderes, como força sobre-humana, capacidade de escalar paredes e de disparar teias pelas mãos e um “sentido de aranha” que o permite identificar os perigos à sua volta. Assim, depois que um ato de orgulho coincidentemente leva ao assassinato de seu tio Ben, Peter reconhece a culpa que teve ao levá-lo ao cemitério e decide usar seus poderes para fazer o bem, assumindo a identidade secreta de Homem-Aranha – uma identidade que torna-se ainda mais necessária com a chegada do vilão, Duende Verde.

Hábil ao trazer para o Cinema a atmosfera lúdica, inocente e multicolorida dos quadrinhos (algo que Richard Donner também fez em Superman – não à toa, Raimi faz uma homenagem clara à cena em que Clark Kent vinha correndo, abria a camisa e estampava o “S” de sua logomarca, substituindo Christopher Reeve por Tobey Maguire), Homem-Aranha é uma adaptação que não teme assumir o caráter cartunesco que sempre fez parte da mitologia do personagem, mostrando-se diametralmente oposto, neste sentido, ao X-Men de Bryan Singer, que substituía as cores habituais do universo dos super-heróis por uniformes de couro preto e por cenas cinzentas e sombrias (o que talvez fosse consequência do fracasso do Batman & Robin de Joel Schumacher). Assim, o vermelho e o verde dos uniformes do herói e do vilão tornam-se saltados e supersaturados (o mesmo se aplica aos cabelos ruivos de Mary Jane), ao passo que as caracterizações do tio Ben, da tia May e de J. Jonah Jameson apresentam-se estilizadas, como se transportadas das páginas dos quadrinhos para a tela grande.

Tudo isso, é claro, se deve aos esforços do diretor Sam Raimi, que, aqui, cria um universo cuja lógica interna é bastante particular, flertando com a caricatura das HQs e permitindo que a entrada de elementos tão lúdicos torne-se natural (é espantoso, por sinal, que o Raimi deste filme seja o mesmo da trilogia Evil Dead: Uma Noite Alucinante, que, por melhor que fosse, nada tinha a ver com este longa). No entanto, ao abraçar a fantasia por trás do conceito do personagem, o cineasta confere à primeira metade da narrativa um sentimento de encantamento inequívoco, levando o espectador sentir-se contagiado pela alegria de Peter ao descobrir seus poderes, pela dor de vê-lo perder seu tio Ben e pela “grande responsabilidade” que assume ao surgir vestido de Homem-Aranha. Aliás, até a maneira de Raimi registrar as ações do herói se mostram coerentes com o fascínio demonstrado, alternando entre planos grandiosos que o trazem voando por Nova York e outros que apresentam o ponto de vista dos cidadãos diante do mesmo (e meu plano favorito do filme inteiro é aquele que enfoca os nova-iorquinos, na rua, observando de longe o Aranha enquanto este aparece voando com Mary Jane no colo).

Por outro lado – e isto é admirável –, Homem-Aranha se recusa a abrir mão dos dramas do protagonista: mesmo ambientado em um universo fantástico, claramente influenciado pela estética dos quadrinhos, as dores e os conflitos que sempre marcaram a persona de Peter Parker encontram-se presentes aqui; o que é fundamental, já que o motivo que tornou o herói tão querido pelos leitores sempre foi o fato de lidar, em sua vida privada, com problemas existentes no cotidiano de quaisquer pessoas. Assim, não apenas entendemos as inseguranças de Peter no colégio (ao ser ridicularizado pelos colegas e ao sentir dificuldades de falar com a garota da qual gosta), como também recebemos o impacto que a morte do tio Ben lhe causou (uma revolta seguida de uma culpa transformadora), nos fazendo captar o peso da responsabilidade que, afinal, fez o menino se tornar um super-herói – se não captássemos, suas ações posteriores soariam inconsequentes.

Claro que, por trás de Peter Parker, é importante que haja também um ator capaz de interpretá-lo, sendo um alívio, portanto, que Tobey Maguire dê conta do recado: se, em outros trabalhos, seu tom de voz monocórdio e sua expressão travada soam como limitações do ator, aqui tornam-se representações perfeitas de pequenos traços da insegurança de Parker, revelando-se, portanto, uma escalação apropriada para o personagem que Stan Lee e Steve Ditko criaram lá atrás. E, se James Franco nem sempre se sai bem ao encarnar as mágoas de Harry, o melhor amigo de Peter, Kirsten Dunst é competente ao encarnar o sentimento de fracasso que pesa na consciência de Mary Jane (e a torna mais humana), ao passo que Willem Dafoe retrata o Duende Verde como um vilão cartunesco, mas sádico, que aos poucos foge ao controle de seu alter-ego, Norman Osborne (o pai de Harry), para então dominá-lo.

Em contrapartida, Homem-Aranha também conta com sua parcela de problemas – e o principal destes é o fato de a segunda metade da narrativa não saber muito bem para onde ir, já que, depois de apresentar por completo a figura do herói, o filme parece ter dificuldades de encontrar uma história para contar, saltando de situação em situação e soando um pouco episódico no processo (um problema que, inclusive, viria a se tornar recorrente nos filmes de origem de super-heróis lançados nos anos seguintes). E se os efeitos digitais usados para criar o Aranha já eram problemáticos na época (lembrem-se: 2002 foi o ano em que conhecemos Gollum), o senso de humor irreverente e espontâneo que sempre caracterizou o personagem nos quadrinhos faz muita falta aqui: o que há de personalidade em Peter Parker, falta no caladão Aranha.

Embalado pela excelente trilha de Danny Elfman, que já tinha contribuído para o universo dos super-heróis com os Batmans de Tim Burton e que, desta vez, volta a criar um tema marcante para outro personagem (e para seu vilão), Homem-Aranha é uma experiência que funciona justamente por entender que o que torna uma adaptação eficiente é sua fidelidade não necessariamente à narrativa da obra original, mas ao estilo e à atmosfera da mesma. E não há como resistir ao inesquecível encantamento que sentimos quando vimos o Homem-Aranha disparar teias e se balançar por Nova York pela primeira vez – um encantamento que hoje, em função do número cada vez maior de outros filmes sobre super-heróis, é praticamente impossível de ser repetido.

Update, 2024: Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *