A Família Addams

Título Original

The Addams Family

Lançamento

31 de outubro de 2019

Direção

Conrad Vernon e Greg Tiernan

Roteiro

Matt Lieberman

Elenco

As vozes de Charlize Theron, Oscar Isaac, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard, Nick Kroll, Allison Janney, Elsie Fisher, Bette Midler, Conrad Vernon, Tituss Burgess, Pom Klementieff, Chelsea Frei e Jenifer Lewis

Duração

87 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Conrad Vernon, Gail Berman, Alex Schwartz e Alison O’Brien

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Para ir de mal a pior, a Família Addams precisa se preparar para receber uma visita de parentes ainda mais arrepiantes. Mas a misteriosa mansão deles parece estar com os dias de maldade contados. O clã assustador mais querido dos cinemas está de volta nessa animação baseada nos quadrinhos de Charles Addams.

Publicidade

A Família Addams (2019) | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Criada em 1938 pelo cartunista Charles Addams como uma crítica absurda aos costumes da sociedade norte-americana (tomando como base, é claro, o comportamento macabro de seus personagens-título), a Família Addams tornou-se mundialmente conhecida em função do humor peculiar de seus carismáticos integrantes, mantendo-se viva na memória de várias gerações graças às inúmeras adaptações para outras mídias que foram produzidas desde então, como a série dos anos 1960 (quando mais novo, eu costumava vê-la nas madrugadas do canal Nickelodeon e até gostava de seus episódios – ainda que preferisse Os Monstros, outro seriado feito na mesma época e que dividia a mesma temática), os divertidos longas que Barry Sonnenfeld dirigiu em 1991 e 1993, a peça musical encenada na Broadway e uma penca de quadrinhos, desenhos animados e especiais para a TV.

Aliás, a resistência da Família Addams ao longo das décadas pode ser constatada pelo fato de terem produzido um novo longa a seu respeito 81 anos depois de sua criação. Dirigido pelos mesmos Conrad Vernon e Greg Tiernan do divertido (e pesadão) Festa da Salsicha, esta animação aproveita seus primeiros 15 minutos para mostrar um pouquinho da origem dos personagens como conhecemos, passando rapidamente pelo casamento de Morticia e Gomez, pela interação com a Vovó e com o Tio Fester, pelo início das atividades do mordomo Tropeço e pelo nascimento dos pequenos Feioso e Wandinha. Há anos morando em um casarão no topo de uma montanha, os Addams mantêm um cotidiano relativamente pacato e tranquilo (ao menos, para os seus padrões) – no entanto, tudo muda quando Margaux Needler, a apresentadora de um renomado reality show sobre redecoração, aparece querendo destruir a mansão dos personagens-título para “embelezar” a paisagem da cidade na qual eles vivem.

Contando com uma série de vozes marcantes para compor os personagens, A Família Addams é bem-sucedido ao retratar as personalidades de cada um deles: Gomez se revela um marido excessivamente romântico e apegado a tradições antiquadas (características que Oscar Isaac faz questão de incluir em sua performance), ao passo que Morticia adota a serenidade como modus operandi mesmo que isto não a impeça de soar sinistra como os demais (sendo admirável, portanto, que Charlize Theron faça jus à esquisitice de sua calmaria). Além disso, o filme é eficiente ao estabelecer as crianças da família como uma tentativa desta de conectar-se ao mundo exterior, fazendo os arcos dos filhos refletirem os dos pais: se o interesse de Wandinha (dublada por Chloë Grace Moretz com uma impassividade hilária) pelo estilo de vida mais… “tradicional” das outras famílias deixa Morticia cada vez mais preocupada, o desinteresse de Feioso pelas regras impostas por antepassados faz Gomez perceber aos poucos a importância de sempre atualizar seus costumes. Por outro lado, se Mãozinha e Tropeço ao menos protagonizam um ou outro momento inspirado, Tio Fester acaba ficando preso a uma única piada repetitiva, o que é uma pena.

Por falar em piadas, os diretores Conrad Vernon e Greg Tiernan fizeram questão de aplicar aqui um senso de humor que, embora não se iguale à imaginação espontânea de Barry Sonnenfeld, se mostra condizente com o comportamento mórbido e gritante que sempre caracterizou a Família Addams. Assim, tanto os adultos quanto as crianças passam a maior parte do tempo praticando atividades leves, tranquilas e esperadas em qualquer família comum, como… atirar dardos e facões na direção de um tio, explodir foguetes no gramado, espremer a cabeça do pai com um esmagador a ponto de quase fazer seus olhos saltarem para fora, guardar morcegos e baratas dentro das roupas, lamber doces que estão colados nos dedos dos pés da avó e/ou disparar poeira nos móveis em fez de sugá-la com um aspirador de pó. O sadismo dos Addams, no entanto, é inegável: logo no início, quando o carro de Gomez e Morticia atropela Tropeço, o casal se entreolha e diz “Nós acertamos alguma coisa!” com um imenso sorriso no rosto – o que, ok, é engraçadíssimo.

Infelizmente, o roteiro de Matt Lieberman está longe de ser dos mais coesos, apresentando alguns problemas estruturais que são difíceis de ignorar: demorando a introduzir o conflito que servirá como ponto de partida para a trama em si, o filme parece muito mais interessado em pequenos momentos de humor protagonizados pelos Addams do que na história que pretende contar, fazendo a narrativa soar frouxa, episódica e excessivamente dependente de situações e gags isoladas – e, por mais que várias delas funcionem, chega uma hora em que começam a se tornar repetitivas, como se tentassem esconder a incapacidade de Lieberman de concentrar-se na trama principal (no caso, aquela envolvendo a ameaça representada por Margaux Needler). E vejam bem: não é que não exista uma história (o que talvez não fosse um problema, já que nem todo Cinema precisa ser narrativo); o roteiro é que não parece se interessar muito pela história que pretende contar.

Como se não bastasse, A Família Addams é bastante irregular em seus aspectos técnicos: por um lado, é admirável que o design dos personagens busque reproduzir os traços originais concebidos por Charles Addams (e mantidos na série animada produzida pela Hannah Barbera em 1973), sendo interessante também que o casarão no qual eles vivem se apresente como uma criação totalmente assimétrica, sombria e empoeirada, contrastando-se ao visual multicolorido e harmonioso das casas das outras famílias; por outro, a animação em si deixa a desejar, fazendo os personagens parecerem bonecos de borracha ultrapassados e pouco fluidos em seus movimentos, tornando-os “duros” e mecânicos na maior parte do tempo. Aliás, há vários movimentos de câmera que, justamente por soarem tão falsos, acabam denunciando ainda mais a artificialidade de certas composições digitais (um pecado que certamente deve ser atribuído ao trio de diretores).

Trazendo uma referência bacana à clássica série dos anos 1960 durante os créditos finais, A Família Addams ainda traz um subtexto que, embora baseado no velho clichê do “Seja você mesmo”, alcança um bom resultado ao mostrar como as pessoas têm a mania de julgar as outras apenas por terem adotado um estilo de vida completamente diferente – e, além de estimular o ataque contra determinados grupos, esta postura preconceituosa também é facilmente manipulável por figuras poderosas interessadas em usar o ódio coletivo para atender aos seus interesses particulares, não sendo à toa, portanto, que toda a ação de Margaux Needler consista em criar uma ojeriza popular contra os protagonistas somente para enriquecer (ainda mais) em cima disso. Neste sentido, a Sociedade pode ser infinitamente mais alucinante, arrepiante e chocante do que a própria Família Addams.

E não deixa de ser curioso que, ao marchar em direção à mansão dos personagens-título, a turba de cidadãos ditos “comuns” apareça segurando não tochas, mas celulares exibindo videozinhos de tochas em suas telas. Afinal, a Internet e a tecnologia podem ter sido uma bênção em termos de proliferação de informação, mas também deram voz a um exército de odiosos que, além de barulhentos, são incapazes de perceber como são massa de manobra.

Mais para explorar

Gladiador II | Crítica

Mesmo contado com momentos divertidos e ideias interessantes aqui e ali, estas quase sempre terminam sobrecarregadas pelo tanto de elementos simplesmente recauchutados do original – mas sem jamais atingirem a mesma força.

Ainda Estou Aqui | Crítica

Machuca como uma ferida que se abriu de repente, sem sabermos exatamente de onde veio ou o que a provocou, e cujo sofrimento continua a se prolongar por décadas sem jamais cicatrizar.

Wicked | Crítica

Me surpreendeu ao revelar detalhes sobre o passado das personagens de O Mágico de Oz que eu sinceramente não esperava que valessem a pena descobrir, enriquecendo a obra original em vez de enfraquecê-la.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *