Ad Astra (1)

Título Original

Ad Astra

Lançamento

26 de setembro de 2019

Direção

James Gray

Roteiro

James Gray e Ethan Gross

Elenco

Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland, Ruth Negga, Liv Tyler, John Ortiz, Greg Bryk, Loren Dean, John Finn e Kimberly Elise

Duração

123 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

James Gray, Brad Pitt, Rodrigo Teixeira, Dede Gardner, Jeremy Kleiner, Anthony Katagas e Arnon Milchan

Distribuidor

Fox

Sinopse

Roy McBride (Brad Pitt) é um engenheiro espacial, portador de um leve grau de autismo, que decide empreender a maior jornada de sua vida: viajar para o espaço, cruzar a galáxia e tentar descobrir o que aconteceu com seu pai, um astronauta que se perdeu há vinte anos atrás no caminho para Netuno.

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Ad Astra: Rumo às Estrelas | Crítica

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James Gray é um cineasta inquestionavelmente ambicioso: dono de uma filmografia relativamente curta (agora chegando ao seu sétimo longa), o diretor costuma empregar os gêneros, as reconstruções de época e as premissas de seus filmes como pretextos para discussões bem mais humanas do que poderíamos supor. Se Z: A Cidade Perdida, por exemplo, usava a aventura e a busca pela cidade em si como meros pontos de partida para a obsessão de seu protagonista, este belíssimo Ad Astra compara a imensidão do espaço sideral às possibilidades infinitas que existem dentro da cabeça do Homem – até porque a quantidade de galáxias existentes no universo pode até ser imensurável, mas duvido que se iguale ao número de sinapses, memórias e/ou pequenos pulsos que ocorrem na mente de um ser humano.

Co-escrito Ethan Gross e pelo próprio James Gray, o roteiro se passa em um futuro próximo (que nunca é especificado) e nos apresenta a uma versão da Terra na qual os avanços da tecnologia já foram suficientes para levar a Humanidade a estabelecer bases na Lua e em quase todos os planetas do Sistema Solar, faltando chegar somente a Netuno (considerado o último da galáxia desde 2006, quando Plutão foi rebaixado a planeta-anão). Na trama, o engenheiro espacial Roy McBride se lança em uma jornada, no mínimo, ousada: cruzar o espaço sideral em busca de seu pai, Clifford, um astronauta que se perdeu há vinte anos em uma missão que visava chegar a Netuno. À medida que viaja pelo Sistema Solar, Roy se vê diante de uma série de reflexões existenciais, chegando a questionar a existência de vida extraterrestre e sendo surpreendido por situações que ninguém seria capaz de antever.

Imersivo desde a cena inicial (que acompanha Roy em meia a uma missão espacial cujo fracasso pode levá-lo da exosfera ao solo terrestre em questão de segundos), Ad Astra é dirigido por James Gray de maneira notavelmente intimista: sim, o diretor se preocupa com o espetáculo visual que será criado a partir da dimensão infinita do espaço, mas a principal ênfase encontra-se, acima de tudo, nas reações de Roy McBride, não sendo à toa o fato de Gray manter a câmera frequentemente próxima ao rosto do protagonista (algo mais ou menos parecido com o que Damien Chazelle tentou fazer em O Primeiro Homem, mas sem os excessos que comprometeram aquela tentativa). Desta maneira, o foco de Ad Astra passa a ser não as viagens interplanetárias, as estações espaciais ou a busca por alienígenas (embora todas estas estejam presentes na narrativa), mas os sentimentos e nas ambições de Roy – e, claro, do próprio ser humano.

Não que esta abordagem diminua o espetáculo representado pelo filme: obviamente dotado de efeitos visuais que revelam-se instrumentais na composição do espaço no qual a trama se passa (pecando apenas na criação digital de um grupo de macacos que surgem em dado momento), Ad Astra apresenta o espectador a uma versão da Terra que corresponde ao que esperaríamos dela caso a tecnologia já pudesse levar a Humanidade a outros planetas, tornando-se ainda mais eficiente graças ao excepcional trabalho do designer de produção Kevin Thompson, que se destaca ao criar, por exemplo, uma base lunar que remete a um shopping center (com direito a lojinhas e a escadas rolantes) e uma sala de projeção feita com o objetivo de acalmar o protagonista (isso me lembrou um pouco a sala das memórias de Blade Runner 2049). Além disso, a trilha de Max Richter mostra-se não apenas rica em termos de orquestração, mas também delicada ao complementar a história, ao passo que a fotografia de Hoyte van Hoytema (que trabalhou com Christopher Nolan em outro “filme de espaço” relativamente recente: Interestelar) demonstra elegância ao ilustrar, no terceiro ato, o distanciamento entre Roy e… certo personagem (não direi quem é) através de cores diferentes, banhando o primeiro em amarelo e o segundo, em azul.

Ainda assim, é impossível discutir Ad Astra sem falar sobre Brad Pitt, que certamente merece ser indicado a prêmios por seu desempenho aqui: carregando boa parte do filme nas costas (afinal, ele passa metade da narrativa tendo que contracenar com o vazio), o ator estabelece Roy McBride como um sujeito que desde o início se mantém distante do mundo ao seu redor, evitando contato físico na medida do possível e fazendo somente o básico do que lhe ensinaram para preservar um mínimo de convivência social – e sua personalidade fechada se reflete no fato de ser um homem de poucas palavras, expressando-se de maneira direta e pontual. Aliás, a narração em off de Roy (que faz parte da composição de Pitt, claro) funciona não apenas ao situar o espectador na narrativa, mas também ao criar um contato direto entre ele e o protagonista, o que é fundamental. Já Tommy Lee Jones aproveita ao máximo o pouco tempo que lhe foi concedido, conseguindo uma verdadeira proeza ao entregar sua melhor performance dos últimos anos em questão de alguns minutos.

Aliás, para um filme que se dedica a analisar objetivamente as ambições do ser humano, Ad Astra se apresenta surpreendentemente tocante em vários de seus momentos-chave, se revelando basicamente aquilo que Interestelar gostaria de ter sido e não foi: uma ficção científica tematicamente complexa, mas que ainda trouxesse um centro emocional forte (neste sentido, é curioso que tanto o longa de Christopher Nolan quanto o de James Gray girem em torno de núcleos familiares que há muito se separaram e que agora estão em busca de um possível reencontro). E o mais importante é que, mesmo em seus momentos mais emocionantes, Ad Astra não abre mão de suas ideias, encarando a imensidão do espaço sideral como uma forma de discutir a pequenez do Homem diante daquilo que ele desconhece. Assim, o roteiro de Gray demonstra como o universo pode nos pegar desprevenidos a qualquer momento, nos colocando subitamente diante de uma situação que ninguém poderia antever e que, a princípio, não faz o menor sentido – e há dois momentos no filme que podem soar inicialmente dispensáveis (e que, de fato, nada acrescentam à trama principal), mas que funcionam justamente por ilustrarem a lógica do acaso: aquele que traz um grupo de piratas na Lua e aquele que mostra um trio de macacos invadindo uma espaçonave.

Eficiente também ao retratar a constante teimosia do ser humano (cuja mania de grandeza sempre o leva a querer expandir seu alcance até ultrapassar todos os limites), Ad Astra se sai bem ao comentar a obsessão da Humanidade contrapondo os arcos de Roy e Clifford – e recomendo que só leia o restante do parágrafo quem já tiver assistido ao filme. Por um lado, o protagonista se recusa a aceitar o desaparecimento do pai, lançando-se em uma longa jornada física/existencial a fim de encontrá-lo e que só vai terminar quando chegar a uma resposta definitiva; por outro, seu pai não admite morrer sem ter alcançado seu maior objetivo (encontrar vida extraterrestre), o que se deve ao medo não apenas do fracasso, mas também de perceber que seus horizontes são limitados. É esta vontade de descobrir e de conquistar nos torna tão… humanos.

E mais humano do que isto é saber reconhecer que nem todas as nossas perguntas precisam de respostas. Pois o que Ad Astra demonstra é que o universo pode até ser infinito, mas sua dimensão ainda assim não se compara à da mente e à das ambições do Homem.

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