As Golpistas

Título Original

Hustlers

Lançamento

5 de dezembro de 2019

Direção

Lorene Scafaria

Roteiro

Lorene Scafaria

Elenco

Constance Wu, Jennifer Lopez, Julia Stiles, Keke Palmer, Lili Reinhart, Lizzo, Cardi B., Mercedes Ruehl, Trace Lysette, Wai Ching Ho, Mette Towley, Madeline Brewer, Frank Whaley e Brandon Keener

Duração

110 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Jennifer Lopez, Will Ferrell, Adam McKay, Elaine Goldsmith-Thomas e Jessica Elbaum

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Em entrevista concedida a Elizabeth (Julia Stiles), jornalista da New York Magazine, a ex-stripper Destiny (Constance Wu) conta em detalhes como conseguiu o emprego e conheceu Ramona (Jennifer Lopez), ícone do meio que logo se tornou sua grande amiga. Devido à crise financeira que abalou Wall Street em 2008, Destiny e Ramona viram o declínio na quantidade de clientes na boate em que trabalham afetar sua própria rentabilidade. Com isso, decidem elas mesmas iniciar um plano onde, juntamente com algumas amigas, vão atrás de homens em restaurantes para, após dopá-los, faturar em cima de seus cartões de crédito.

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As Golpistas | Crítica

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As Golpistas tinha tudo para se transformar em mais uma obra dedicada à objetificação do corpo feminino – e, se fosse dirigido por um homens, as chances disso acontecer subiriam consideravelmente (afinal, estamos falando sobre um filme protagonizado por strippers). Assim, é um alívio assistir ao longa e constatar o bom desempenho da cineasta Lorene Scafaria: jamais exibindo um olhar explorador ao retratar o dia a dia das protagonistas (ainda que, sim, existam momentos que buscam exalar sensualidade a partir de suas danças), a diretora usa o striptease em si como um ponto de partida para uma história de assalto que, situada em meio a uma das crises econômicas mais dramáticas da História recente, fala sobre como as consequências do capitalismo descontrolado podem se converter em estímulos perigosos para a Sociedade como um todo.

Baseado no artigo The Hustlers at Scores: The Ex-Strippers Who Stole From (Mostly) Rich Men and Gave to, Well, Themselves, publicado pela jornalista Jessica Pressler em 2015, As Golpistas nos apresenta à stripper Destiny, que, buscando alguma forma de conseguir dinheiro para sustentar sua avó doente, faz sua estreia em uma casa noturna pequena, mas movimentada de Nova York. No processo, Destiny é apresentada a Ramona, a stripper mais popular e desejada do estabelecimento – e que logo se torna não só amiga, mas mentora da novata, ensinando a ela um monte de técnicas que aperfeiçoam seu desempenho entre os clientes. Mas aí, chega a fatídica crise econômica de 2008 e o número de visitantes começa a diminuir drasticamente, levando Destiny, Ramona e as demais strippers a inventarem um jeito novo, porém arriscado de ganhar dinheiro: chamar a atenção dos poucos clientes que ainda restam na casa, dopá-los de maneira discreta e roubar seus cartões de crédito.

Hábil ao mostrar como funciona boa parte do submundo do striptease, retratando as técnicas adotadas pelas dançarinas em geral e a frequência com que grandes empresários visitam as tais casas noturnas com o intuito de se sentirem poderosos, Lorene Scafaria demonstra cuidado ao estabelecer a diferença entre as performances das strippers no palco e a condição difícil de suas vidas pessoais. Assim, quase sempre que enfocam a intimidade das personagens, Scafaria e o diretor de fotografia Todd Banhazl empregam a câmera na mão com o intuito de trazer visceralidade ao cotidiano de todas elas, dispensando qualquer tipo de glamour nesta abordagem. Além disso, a estrutura adotada por Scafaria (tanto na direção quanto no roteiro) deixa o espectador ciente desde o início de que aquela história teve um final amargo – algo que se reflete na paleta cinzenta que Banhazl confere ao retratar este desfecho.

Uma paleta cinzenta que se contrasta, no entanto, ao charme e às cores das sequências que mostram não apenas as apresentações (e as “danças privadas”) das strippers, mas também os furtos praticados por estas. Nestes momentos, Scafaria e Banhazl substituem a sobriedade que haviam empregado ao ilustrar a intimidade das personagens e passam a investir em uma atmosfera mais lúdica e estilizada, trazendo às cenas um monte de luzes de neon coloridas, enfocando várias ações em câmera lenta e enfeitando-as com músicas pop. E esta abordagem funciona justamente por se distanciar do que apontei no parágrafo anterior – por outro lado, chega uma hora em que as decisões estéticas de Scafaria começam a soar como mero exibicionismo, já que estas cenas (coloridas; em câmera lenta; com músicas pop; etc) se repetem sem acrescentarem nada de particularmente novo à narrativa. Aliás, o filme como um todo poderia ser mais curto do que é de fato (mesmo durando menos de duas horas), o que se deve principalmente ao fato de sua segunda metade ser bem mais redundante e cansativa que a primeira.

Apesar destes tropeços, porém, As Golpistas funciona graças não apenas à direção de Lorene Scafaria, mas também aos bons desempenhos de seu elenco – e, entre todas as atrizes envolvidas no projeto, há duas que se destacam mais que as outras: a primeira é Constance Wu, que estrelou o bem-sucedido Podres de Ricos no ano passado e que, desta vez, surge sob a pele de uma protagonista constantemente dividida entre a ética das ações das quais participa e a necessidade que sente de participar delas mesmo assim, posicionando Destiny como a novata que custa a se sentir à vontade com o estilo de vida das colegas; e a segunda, por incrível que pareça, é Jennifer Lopez, uma atriz da qual não costumo gostar (só este ano, ela estrelou o insuportável Uma Nova Chance, por exemplo), mas que aqui faz um excelente trabalho ao retratar Ramona como uma stripper experiente, impressionante em sua performance no palco (a fisicalidade de Lopez, em especial, é uma demonstração de sua entrega ao papel) e que sabe exatamente o que fazer para atingir seus objetivos.

O mais curioso, no entanto, é que a precisão e a autoconfiança que Ramona exibe como stripper nem sempre se aplicam à sua vida fora da casa noturna – e confesso que fiquei surpreso quando vi, em dado momento, ela trabalhar no galpão de um estabelecimento e pedir uma folga ao chefe para buscar a filha na escola, mas tendo seu pedido prontamente negado. Ora, ali está uma personagem capaz de demonstrar controle absoluto de suas ações quando cumpre a função de stripper golpista, mas que, por outro lado, é massacrada ao exercer um emprego mais “corriqueiro”. Na prática, isto não só confere dimensão dramática à personagem como também faz o espectador entender melhor o porquê de Ramona se dar tão bem ao lidar com ações criminosas: suas condições financeiras e de trabalho tornaram os furtos mais práticos, de certa maneira.

Querendo ou não, Ramona foi induzida a isto. O mundo ao seu redor se mostrou tão complicado que o crime, para ela, acabou se tornando uma alternativa mais viável – e o mesmo se aplicou às suas colegas strippers. Claro que o que movia as personagens não era só a busca por um ganha-pão, mas também a vontade própria de… consumir; elas queriam dinheiro não apenas para sustentar suas vidas, mas também para comprar tudo aquilo que a Sociedade e o mercado determinava como objetivo de vida, aspirando a um status socioeconômico mais elevado.

E isto, obviamente, faz parte do problema: o estímulo ao consumo é tão grande que correr atrás de determinado padrão de vida/comportamento torna-se uma verdeira obsessão, como se o tal “American Way of Life” fosse uma obrigação para qualquer pessoa. Neste sentido, As Golpistas não poderia ser mais revelador.

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