Assassino por Acaso (2)

Título Original

Hit Man

Lançamento

12 de junho de 2024

Direção

Richard Linklater

Roteiro

Richard Linklater e Glen Powell

Elenco

Glen Powell, Adria Arjona, Austin Amelio, Retta, Sanjay Rao, Gralen Bryant Banks, Molly Bernard e Evan Holtzman

Duração

115 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Richard Linklater, Glen Powell, Dylan King, Jason Bateman e Michael Costigan

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Um policial que se disfarça de assassino de aluguel quebra o protocolo para ajudar uma mulher desesperada que tenta fugir de seu marido.

Publicidade

Assassino por Acaso | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Gary Johnson é um cara para o qual não daríamos muita bola. Professor que leciona em uma faculdade de Psicologia e vive num apartamento solitário na companhia apenas de dois gatos, o sujeito surge constantemente sob uma postura retraída, para dentro, evitando chamar atenção para si. No entanto, é muito revelador que, ao começar a trabalhar num emprego secundário (que lhe permite ser mais expansivo e, principalmente, atuar fingindo ser quem não é), ele logo incorpore um alter ego infinitamente mais atraente, autoconfiante e encantador, que projeta charme e vitalidade por onde anda – algo mais ou menos similar ao contraste entre o desastrado Clark Kent e o imponente Superman, ou entre o bonachão Henry Jones Jr. e o carismático Indiana Jones. E, afinal, no que consiste o emprego secundário de Gary Johnson? Trabalhar para a polícia fingindo ser um assassino de aluguel e marcando encontros com pessoas interessadas em contratá-lo para um serviço a fim de pegá-las em flagrante e, então, prendê-las. Esta é a base inusitadíssima de Assassino por Acaso, um projeto que justamente conquista por ser tão inspirado.

Parcialmente inspirado em fatos reais (inclusive, os créditos finais esclarecem – de forma divertida – quais aspectos da trama aconteceram ou não), este novo trabalho de Richard Linklater se apresenta, a partir de sua premissa, como uma obra profundamente interessada pelo ato de interpretar, de performar algo que não é. Não é à toa que, ao longo da narrativa, Gary Johnson se empolga com a ideia de passar-se por um assassino fictício a ponto de criar múltiplos disfarces, figurinos, maquiagens e até histórias pregressas diferentes para cada missão (ele chega a estudar, na Internet, maneiras de compor sotaques mais convincentes), encarando cada “matador de aluguel” que finge ser como… um papel a ser interpretado – e a “entrega” de Gary é tão notável que é laureada até mesmo com o reconhecimento de uma certa audiência (no caso, seus colegas de trabalho que ficam impressionados com seu desempenho). E se o protagonista se empenha tanto, é por perceber que a farsa lhe permite um universo de possibilidades que o mundo real, por si só, não é capaz de oferecer – algo que atinge o auge naquela que talvez seja a cena mais memorável do longa: aquela em que Gary e seu par romântico, Madison, têm que encenar de improviso uma discussão (falsa) enquanto são monitorados pela polícia, comprovando de vez o talento da dupla.

Mas é claro que a cena em si – e, consequentemente, o filme inteiro – não funcionaria sem a eficácia dos intérpretes por trás do casal, sendo fascinante, portanto, que ambos representem uma explosão de carisma e apresentem uma química contagiante entre si. Nome que há algum tempo vem ganhando espaço cada vez maior em Hollywood, Glen Powell (que produziu e co-escreveu o roteiro ao lado do próprio Linklater) revela um timing cômico fundamental não só para “comprarmos” a ideia de que Gary (ou melhor: seu alter ego, Ron) é um sujeito simpático, mas também para sinalizar a empolgação do protagonista durante as missões e a surpresa com que recebe alguma informação que temporariamente o “tira” de seu personagem, sendo especialmente hábil, ainda por cima, ao demarcar as diferenças entre o introvertido Gary e o tentador Ron. Enquanto isso, a ótima Adria Arjona exibe um domínio impressionante de sua performance ao introduzir Madison como uma figura aparentemente doce, retraída e inofensiva para, mais tarde, aos poucos revelar energia, intensidade e autoconfiança que demonstram como, em retrospecto, aquela leitura inicial que tivemos da personagem era uma farsa (tal qual a de Gary), construindo bem a transição de uma à outra e, mais importante, tornando-a imprevisível a ponto de nos surpreender com o alcance de suas ações.

Dito isso, acredito que o nome que mais se destaque em Assassino por Acaso seja mesmo o de Richard Linklater, um diretor incrivelmente eclético que aqui realiza algo como Boyhood ou a trilogia Antes… (uma das minhas séries cinematográficas favoritas), ali cria uma obra “para toda a família” como o divertidíssimo Escola de Rock (um dos filmes que mais vi na infância) e acolá dirige animações estilisticamente ambiciosas como Waking Life O Homem Duplo. Aqui, contudo, Linklater volta a demonstrar ser um diretor de comédia autoral (algo que Hollywood deveria estimular mais, considerando a riqueza e o alcance do gênero em si), conferindo ao projeto uma energia particular que ajuda a tornar o texto (já afiadíssimo) ainda mais divertido ao ser retratado com um dinamismo singular – e o cineasta conduz a narrativa com o mesmo controle/domínio de suas intenções que o próprio Gary Johnson, levando a história do riso à apreensão, do bom humor à ansiedade (por não saber o que ocorrerá em seguida), que desarma o espectador e, com isso, intensifica ainda mais a reação deste a cada novo momento da trama.

Para completar, é interessante perceber como Linklater não teme explorar os aspectos (i)morais de seus personagens a fim de extrair simpatia, divertimento e, sim, risadas. Sim, o protagonista e sua namorada são sujeitos obviamente corrompidos, que reagem a certos acontecimentos pavorosos (que manterei em segredo) com a frieza e o calculismo dos mais sádicos. No entanto, o filme não se sente obrigado a ficar se desculpando/explicando por isso; ele entende que aqueles indivíduos são sórdidos e infames, mas não se proíbe de encontrar graça neles – afinal, eles não são (nem precisam ser) “exemplos” de absolutamente nada.

E é nestas horas que Assassino por Acaso volta a demonstrar um controle e uma autoconfiança e sobre suas intenções dignas de seus excelentes personagens.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

Mais para explorar

Cidade; Campo | Crítica

Um filme que funciona sempre que se concentra nos toques, detalhes e respiros mais íntimos de suas personagens,

O Corvo (2024) | Crítica

É uma pena que essa nova adaptação seja tão fraca, já que o projeto como um todo parte de ideias interessantes, que tinham tudo para dar certo.

O Corvo (1994) | Crítica

Uma fábula gótica tão expressiva e impactante visualmente que fica difícil não se deixar levar pela ambientação daquela história e pela abordagem cartunesca do diretor Alex Proyas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *