Borat Fita de Cinema Seguinte

Título Original

Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan

Lançamento

22 de outubro de 2020

Direção

Jason Woliner

Roteiro

Sacha Baron Cohen, Peter Baynham, Jena Friedman, Anthony Hines, Lee Kern, Dan Mazer, Erica Rivinoja e Dan Swimer

Elenco

Sacha Baron Cohen e Maria Bakalova

Duração

96 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Sacha Baron Cohen, Anthony Hines e Monica Levinson

Distribuidor

Amazon Prime Video

Sinopse

Rodada em sigilo durante a pandemia de COVID-19, esta continuação traz o jornalista Borat Sagdiyev sendo obrigado pelo governo do Cazaquistão a viajar de volta aos Estados Unidos para entregar um “presente” ao vice-presidente Mike Pence, buscando melhorar a imagem do país 14 anos depois do lançamento do primeiro filme manchá-la. O presente: Tutar, a filha adolescente de Borat.

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Borat: Fita de Cinema Seguinte | Crítica

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14 anos se passaram desde que Borat chegou aos cinemas, transformou o britânico Sacha Baron Cohen em uma estrela mundialmente conhecida e revolucionou o gênero mockumentary ao expor, através de seu excêntrico protagonista, um lado sombrio, nacionalista, intolerante, odioso e falso moralista que até então era escondido pela sociedade norte-americana. De lá para cá, muitas coisas degringolaram no mundo: uma onda neofascista alimentada por mentiras e por discursos raivosos tomou conta de boa parte do planeta, líderes que jamais mereciam qualquer projeção se elegeram às presidências de suas nações e o ódio que antes as pessoas ao menos tentavam disfarçar agora passou a ser berrado aos quatro ventos sem vergonha alguma. Pois o fato é que o mundo é um lugar pior para se viver em 2020 do que era em 2006 – e, assim, só mesmo um personagem absurdo como aquele criado por Cohen seria capaz de retratar a realidade na qual vivemos hoje, sendo surpreendente, mas também fundamental que o ator tenha decidido resgatá-lo neste Borat: Fita de Cinema Seguinte.

Escrita pelo próprio Sacha Baron Cohen ao lado de outros sete roteiristas, esta continuação volta a se concentrar no jornalista Borat Sagdiyev, que, exatos 14 anos após o original, continua sendo mantido em prisão pelo governo do Cazaquistão depois que o documentário que realizou em 2006 levou o planeta Terra inteiro a enxergar o país como uma piada. Para compensar a vergonha, contudo, o primeiro-ministro cazaque decide enviar Borat de volta aos Estados Unidos, agora governados por Donald Trump, a fim de tentar melhorar a relação com o país, entregando ao vice-presidente Mike Pence um “presente”, digamos, fora do comum: o macaco Johnny, ministro da Cultura do Cazaquistão e maior ator pornográfico do país (pois é). No entanto, alguns percalços no caminho obrigam Borat a mudar de presente, trocando o macaco por… Tutar Sagdiyev, sua própria filha de apenas 15 anos de idade – e é claro que, no caminho, o repórter desenvolve uma relação especial com a menina.

Mas claro que, como o sucesso do primeiro filme elevou Sacha Baron Cohen ao status de “estrela mundialmente famosa”, a missão de repetir as pegadinhas de Borat sob a luz do dia certamente se tornou mais difícil, já que todas as suas possíveis vítimas o reconheceriam de antemão (e foi isto, inclusive, que levou o ator a abandonar o formato de “falso documentário” – repetido no razoável Brüno – em O Ditador). Felizmente, Cohen e os demais roteiristas encontraram uma solução perfeita para contornar o problema: obrigar o protagonista a assumir vários disfarces ao longo de sua jornada – e, se em teoria isto poderia tirar parte da graça de ver Borat em sua “forma” tradicional, na prática acabou permitindo que o personagem se reinventasse, exercendo sua imaginação, por exemplo, ao criar sub-personagens absurdos como John Chevrolet e até um “judeu” que… bem, só vendo para crer. Além disso, a decisão de disfarçar Borat do início ao fim da projeção acaba servindo, de certa forma, como uma espécie de sobre o próprio gênero mockumentary, refletindo parte desta relação entre farsa e realidade (o que está na nossa frente e o que não percebemos estar na nossa frente) que define o “falso documentário”.

No entanto, o mais importante nesta questão dos disfarces é o fato de estes permitirem que Borat agora tente se passar por um legítimo norte-americano – e pior: consiga. Equipado de macacões, camisetas quadriculadas, perucas, barbas postiças e um linguajar tão ofensivo que nem seu sotaque cazaque faz parecer menos americano, o protagonista consegue levar os cidadãos comuns que cruzam seu caminho a acreditarem que ele é como eles – o que ainda assim não é surpresa, já que o mundo nos últimos anos (como é mostrado nos cinco minutos iniciais) se mostrou capaz de eleger psicopatas que parecem saídos de uma esquete do Saturday Night Live, como (Mc)Donald Trump e seu cachorrinho tropical, Jair Bolsonaro. Assim, as atrocidades que saem da boca de Borat agora não parecem mais espantar as pessoas ao seu redor (como comprova a confeiteira que não hesita em escrever uma mensagem antissemita em um bolo), sendo chocante, por exemplo, que a memorável cena do rodeio no primeiro filme tenha virado fichinha perto da apresentação para um comício de trumpistas nesta continuação.

Neste sentido, é interessante como Sacha Baron Cohen parece encarar seu Borat quase como uma espécie de super-herói cujo traje resolveu voltar a vestir ao constatar o quanto o mundo piorou nos últimos 14 anos, empregando sua Arte como uma forma prática de tentar fazer… bom, alguma coisa (afinal, as eleições norte-americanas estão logo ali e a chance do problema representado por Trump se prolongar por mais quatro anos é algo que Cohen sente que precisa – e pode – combater apenas retornando ao personagem que o consagrou). Assim, se a cena com Mike Pence diverte pelo absurdo (e a cara de “Que porra é essa?” do vice-presidente será para sempre a primeira imagem que me virá à mente quando pensar nele), todo o clímax envolvendo Rudy Giulliani causa um imenso desconforto que, ainda assim, mostra-se útil ao escancarar o comportamento predatório e hipócrita que o republicano adota por trás das câmeras e que vivia escondido até então.

Menos caótico que o primeiro (não há nenhuma cena que se equipare, por exemplo, àquela em que o protagonista e seu produtor, Azamat, brigavam pelados num quarto de hotel), Borat 2 ainda assim traz o brilhante Sacha Baron Cohen em uma performance que, em vez de apenas repetir o que já havia feito em 2006, reinventa o personagem ao trazê-lo interpretando outros sub-personagens (e sua incapacidade de “sair” do papel mesmo nos momentos mais arriscados da narrativa continua impressionante). No entanto, o grande destaque desta continuação é mesmo a jovem Maria Bakalova, que não apenas encarna Tutar com uma entrega física que em nada fica devendo à de Cohen (basta ver o que os dois conseguem na sequência que se passa num baile de debutantes), como também confere à personagem uma ingenuidade notável e que, convertida em uma vontade genuína de fazer o que é certo (para si e para as outras mulheres), torna-se fundamental para o desfecho do longa.

E é aí que Borat 2 realmente pega o espectador de surpresa, revelando um coração imenso e oferecendo uma resolução tocante para os arcos tanto do protagonista quanto de sua filha – mesmo que o filme em si não resista a criar um ou outro momento meloso que trai um pouquinho a proposta anárquica do projeto e que indica que a “domesticação” que Cohen sofreu de Hollywood em O Ditador (lembram-se do dispensável romance entre o general Aladeen e a norte-americana vivida por Anna Farris?) ainda encontra-se em maior ou menor grau. Ainda assim, o otimismo de Cohen ao encerrar a narrativa com aquele desfecho não deixa de ser contagiante, sugerindo acreditar que mesmo as culturas mais intolerantes do mundo têm a esperança de evoluir.

Dito isso, espero sinceramente que, em 2034, quando Sacha Baron Cohen julgar necessário tirar o personagem da gaveta para um eventual Borat 3, o planeta esteja em condições um pouco melhores. Afinal, o que esta Fita de Cinema Seguinte indica é que ainda dá tempo de fazer os absurdos e as caricaturas da vida real voltarem a existir somente na ficção.

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