Creed (1)

Título Original

Creed

Lançamento

14 de janeiro de 2016

Direção

Ryan Coogler

Roteiro

Ryan Coogler e Aaron Covington

Elenco

Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Tony Bellew, Graham McTavish e Wood Harris

Duração

133 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Sylvester Stallone, Irwin Winkler, Charles Winkler, David Winkler, Robert Chartoff, William Chartoff, Kevin King-Templeton

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Adonis Johnson (Michael B. Jordan) nunca conheceu o pai, Apollo Creed, que faleceu antes de seu nascimento. Ainda assim, a luta está em seu sangue e ele decide entrar no mundo das competições profissionais de boxe. Após muito insistir, Adonis consegue convencer Rocky Balboa (Sylvester Stallone) a ser seu treinador e, enquanto um luta pela glória, o outro luta pela vida.

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Creed: Nascido para Lutar | Crítica

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A saga do boxeador Rocky Balboa é uma das minhas favoritas. Tudo começou em 1976, quando Sylvester Stallone estrelou e protagonizou o inesquecível Rocky – Um Lutador e, com isso, foi alçado a um status invejável em Hollywood; o que, claro, também é mérito do diretor John G. Avildsen, que dava mais ênfase aos conflitos emocionais do personagem-título do que à ação propriamente dita. Já Rocky II – A Revanche, que passou a ser dirigido por Stallone, não repetia o brilhantismo do original, mas ainda assim dava continuidade à história do “Garanhão Italiano” de maneira admirável.

Em Rocky III, no entanto, a franquia começou a privilegiar mais a ação e menos os dramas pessoais do protagonista – e, se o terceiro capítulo ainda era um bom filme, o mesmo não pode ser dito sobre o desastroso Rocky IV, que nada mais era do que uma idealização (cafona e ultrapassada) do sentimento ufanista dos Estados Unidos diante da Guerra Fria. Depois disso, a série tentou voltar às origens e trouxe Avildsen de volta à direção, mas as intenções se perderam no meio do caminho e o resultado foi Rocky V, um longa novelesco e desconjuntado que ajudou a enterrar a franquia – isto é, até o próprio Stallone ressuscitá-la dezesseis anos depois com o excelente (e emocionante) Rocky Balboa.

O que nos traz, finalmente, a Creed: ambientado no universo do lutador cuja carreira acompanhamos ao longo de três décadas, este spin-off se concentra em Adonis Creed, filho do Apollo que enfrentou Rocky Balboa nos dois primeiros filmes, passou a treiná-lo depois disso e morreu nas mãos de Ivan Drago. Escrito por Ryan Coogler e Aaron Covington, o roteiro começa mostrando o quanto Adonis deseja seguir o caminho bem-sucedido de seu pai, não demonstrando interesse algum em se tornar executivo de uma empresa em Los Angeles. Assim, o jovem decide se mudar para a Filadélfia a fim de receber treinamento do próprio Rocky e se transformar em um pugilista profissional. Enquanto se exercita a partir dos ensinamentos dados pelo “Garanhão Italiano” (que, agora, está afastado do ringue e continua gerenciando o restaurante Adrian’s), Adonis é convocado para lutar contra o renomado Ricky Conlan, ao passo que Rocky terá que lidar com questões pessoais inesperadas e dramáticas.

Fabuloso em sua tentativa de homenagear a série Rocky (sim, a nostalgia está presente em diversos momentos, mas estes se integram à narrativa de maneira orgânica e inteligente, favorecendo o andamento da história em vez de interrompê-la com referências gratuitas), Creed é, de certa forma, bem similar ao recente Star Wars: O Despertar da Força: além de serem os sétimos exemplares das respectivas franquias, ambas as produções transformam os protagonistas de outrora (Han Solo e Rocky Balboa) em coadjuvantes que servirão de mentores para novos protagonistas. Aliás, faz todo o sentido que Rocky assuma a posição de treinador do personagem-título, já que isto comprova não só a experiência que ele adquiriu ao longo dos seis filmes passados, mas também sua capacidade de transmiti-la para as novas gerações – e se Rocky V cometia o erro de afastar precocemente o protagonista dos ringues, Creed toma uma decisão similar (Balboa não tem intenção de retomar sua carreira de boxeador), porém reconhecendo que, agora, a franquia já está pronta para passar por isto. O próprio fascínio de Adonis pelo pai serve para enaltecer a importância da saga anterior, ao passo que a trilha de Ludwig Göransson remete ao hino “Gonna Fly Now” de maneira pontual e inteligente, mas também não se esquece de criar um tema musical marcante para o próprio Creed.

Mas o que realmente torna Creed fascinante é sua capacidade não de reverenciar a série Rocky, mas de levá-la para um caminho diferente: recém-saído de seu filme de estreia – o excepcional Fruitvale Station –, o diretor Ryan Coogler se afasta da atmosfera que John G. Avildsen e Sylvester Stallone preservaram ao longo dos seis capítulos anteriores, surpreendendo o espectador ao investir em recursos visuais inspirados (como os gráficos que resumem informações básicas a respeito dos adversários de Adonis) e ao enfocar algumas lutas através de planos longos que praticamente atiram o espectador no meio da ação (o que, claro, também é mérito da diretora de fotografia Maryse Alberti, que merece aplausos por seu trabalho aqui). Como se não bastasse, Coogler se concentra em um lado da Filadélfia pelo qual nenhum dos filmes anteriores havia se interessado, fazendo questão de dar voz aos negros e de representá-los culturalmente (algo que se reflete no gosto musical dos personagens, que escutam – e produzem – rap em vários momentos). E o que dizer do belíssimo plano (em câmera lenta) que mostra Adonis concluindo uma corrida enquanto vários motoqueiros o circundam?

Eficiente em suas pontuais tentativas de humor (quando Adonis diz que armazenará suas informações “na nuvem”, Balboa fica confuso em relação ao que acabou de ouvir e olha brevemente para o céu, sem entender o que é a tal da “nuvem”), Creed é fortalecido pela composição carismática e intensa do ótimo Michael B. Jordan, que confere peso dramático a Adonis Creed e o estabelece como um sujeito que busca preencher um vácuo emocional (afinal, seu pai não pôde estar presente em sua vida) e exibe um temperamento constantemente impulsivo – e isto serve para torná-lo um protagonista mais humano e vulnerável, mesmo apresentando uma vontade admirável de correr atrás de seus objetivos e de ser reconhecido como algo mais importante do que “o filho de Apollo Creed”. Da mesma forma, Tessa Thompson retrata Bianca como uma jovem cuja personalidade é realmente interessante, conquistando Adonis (e o espectador) graças à sua autonomia.

Já Sylvester Stallone retorna à pele do “Garanhão Italiano” conferindo ao personagem um ar de experiência que o torna ainda mais sábio e respeitável: no filme anterior, Rocky carregava uma inquietação constante, pois algo o fazia se sentir incompleto; desta vez, o lutador já cumpriu todos os seus objetivos, o que lhe permite experimentar um pouco mais de serenidade. O que não quer dizer, por outro lado, que a vida tenha ficado mais fácil, já que, em certo momento, Rocky recebe uma notícia dolorosa que põe em jogo sua filosofia particular (“Não importa o quanto você apanha, mas o quanto você aguenta apanhar e seguir em frente“). Para completar, o terceiro ato traz duas ou três cenas que mostram que Stallone fez por merecer sua indicação ao Oscar – e minha torcida pelo ator se deve não apenas ao apego emocional que tenho por sua carreira, mas também por considerá-lo um artista que, de fato, precisa ser reconhecido.

Chegando a um clímax que certamente rivaliza com alguns dos momentos mais emblemáticos da trajetória do próprio Rocky Balboa, Creed até pode ser descrito como uma declaração de amor à franquia que consagrou Stallone, mas a verdade é que o filme é muito mais que isso. O que torna este trabalho de Ryan Coogler tão especial é sua capacidade de revitalizar um universo já explorado à exaustão, permitir que seu criador o transfira para novas mentes criativas e respeitá-lo mesmo depois de colocá-lo em uma nova direção. E mais: a julgar por esta obra, a impressão que fica é de que este pode ser o início de uma saga tão fascinante quanto aquela que a originou.

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