Dois Papas (1)

Título Original

The Two Popes

Lançamento

20 de dezembro de 2019

Direção

Fernando Meirelles

Roteiro

Anthony McCarten

Elenco

Jonathan Pryce, Anthony Hopkins, Juan Minujín, Luis Gnecco, Sidney Cole e Lisandro Fiks

Duração

125 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Dan Lin, Jonathan Eirich e Tracey Seaward

Distribuidor

Netflix

Sinopse

Buenos Aires, 2012. O cardeal argentino Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce) está decidido a pedir sua aposentadoria, devido a divergências sobre a forma como o papa Bento XVI (Anthony Hopkins) tem conduzido a Igreja. Com a passagem já comprada para Roma, ele é surpreendido com o convite do próprio papa para visitá-lo. Ao chegar, eles iniciam uma longa conversa onde debatem não só os rumos do catolicismo, mas também afeições e peculiaridades da personalidade de cada um.

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Dois Papas | Crítica

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A mensagem de Dois Papas, primeiro projeto de Fernando Meirelles em parceria com a Netflix, não poderia ser mais clara: sim, é perfeitamente possível que duas ou mais pessoas com visões de mundo radicalmente diferentes convivam em paz – ao contrário do que as redes sociais e seus algoritmos que mantêm os usuários presos em “bolhas” particulares nos fazem acreditar. É uma mensagem simples, doce e que Meirelles acerta ao transmitir com leveza e bom humor, criando uma narrativa que envolve o espectador em uma atmosfera aconchegante e divertida – por mais que exista um lado dentro de mim que tende a achar o discurso do filme otimista até demais: de minha parte, não creio ser possível tolerar alguém que aplaude, por exemplo, um governo que celebra o golpe militar de 1964 ou uma ação da PM que resulta na morte de jovens inocentes.

Surpreendentemente escrito por Anthony McCarten (cuja medíocre carreira inclui os roteiros de A Teoria de Tudo, O Destino de uma Nação e Bohemian Rhapsody), Dois Papas se passa em 2012 e basicamente conta a história da transição entre os papados do alemão Joseph Ratzinger e do argentino Jorge Bergoglio. Se encaminhando à casa de veraneio do atual papa a fim de pedir sua aposentadoria, Bergoglio (na época, cardeal) se lança em diversas conversas repetidas com Ratzinger a respeito de suas muitas divergências particulares – e, à medida que um convive com o outro, uma amizade inesperada acaba surgindo entre ambos. Assim, após perceber como uma mudança drástica de pensamento poderia representar uma evolução para a Igreja Católica (que há anos vinha perdendo fieis), Ratzinger decide renunciar ao cargo e passá-lo para Bergoglio, que reluta em aceitá-lo.

Eficaz ao estabelecer os contrastes entre ambos os personagens, Dois Papas define Jorge Bergoglio como protagonista inquestionável da história – e se Anthony Hopkins encarna Ratzinger com um olhar sempre intimidador (de baixo para cima), um tom de voz rígido e uma postura física que projeta imponência mesmo com suas fragilidades físicas, Jonathan Pryce adota uma composição bem mais amigável ao retratar Bergoglio, mantendo um semblante que sugere entusiasmo através de seus sorrisos e vulnerabilidade em seus momentos mais dramáticos. Assim, se Ratzinger seguia uma doutrina conservadora e rígida que o mantinha sempre engessado, Bergoglio vem para lhe ensinar a se soltar, a enxergar a vida com um pouco mais de descontração e irreverência – e Meirelles e McCarten acertam em suas tentativas de humanizar os comportamentos de ambos os personagens, trazendo Bergoglio cantarolando ABBA aqui, Ratzinger demonstrando seu interesse por programas bobinhos de tevê ali, ambos discutindo futebol acolá, etc.

Aliás, a direção de Meirelles merece pontos por conferir ao filme um dinamismo que muitos cineastas falhariam em imprimir – afinal, estamos falando de uma narrativa que, convenhamos, tinha tudo para soar chata e repetitiva, já que basicamente gira em torno de dois sujeitos… conversando e conversando e conversando. No entanto, o fato de Meirelles jamais se limitar a planos/contraplanos básicos e buscar formas visualmente interessantes de retratar os constantes diálogos acaba contornando esta dificuldade inicial – por outro lado, Meirelles e o diretor de fotografia César Charlone ocasionalmente exageram na instabilidade da câmera, fazendo o recurso soar quase como uma tentativa desesperada de impedir o filme de parecer lento. Além disso, o longo flashback que mostra a juventude de Bergoglio em meio à ditadura militar argentina acaba quebrando pontualmente o ritmo da narrativa, levando o espectador a torcer para que o longa volte logo àquilo que o tornava tão interessante: as conversas entre o cardeal e o papa.

Pecando também no desenvolvimento dos conflitos ideológicos entre Bergoglio e Ratzinger, limitando os poucos momentos de confronto entre seus pensamentos a um ou outro diálogo mais elaborado no primeiro ato (e raramente voltando a mostrá-los no segundo e no terceiro), Dois Papas ainda assim é uma obra eficiente o bastante para compensar seus tropeços, acertando principalmente ao reconhecer como uma narrativa como esta se beneficia de uma abordagem mais irreverente e menos solene.

E é difícil resistir a um filme que termine com uma imagem tão divertida e memorável quanto a de dois líderes religiosos, no alto de suas posições influentes, assistindo a uma partida de futebol (a final da Copa de 2014, para ser mais específico) e torcendo como se fossem cidadãos comuns.

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