doutor estranho

Título Original

Doctor Strange

Lançamento

3 de novembro de 2016

Direção

Scott Derrickson

Roteiro

Scott Derrickson, C. Robert Cargill

Elenco

Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Tilda Swinton, Rachel McAdams, Benedict Wong, Mads Mikkelsen, Michael Stuhlbarg, Benjamin Bratt, Scott Adkins

Duração

115 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Após sua carreira ser destruída, um brilhante, porém arrogante, cirurgião ganha uma nova chance em sua vida quando um feiticeiro o treina para se tornar o Mago Supremo.

Publicidade

Doutor Estranho | Crítica

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Telegram

Depois de oito anos e quatorze filmes, o Marvel Studios já estabeleceu uma certa cumplicidade com o público geral. Desta forma, quando a logomarca da empresa surge de maneira imponente e acompanhada de um tema musical heroico, temos de imediato uma sensação de segurança e conforto que dificilmente será desfeita ou desafiada pelo que virá em seguida (são poucas as exceções) – e isto, confesso, vem me gerando um certo cansaço que fiz questão de relatar ao escrever sobre Homem-Formiga. Dito isso, Doutor Estranho é um filme que certamente poderia ser melhor do que é, prendendo-se à estrutura convencional dos longas da Marvel e incluindo um número excessivo de clichês; o que, por outro lado, é compensado pelas viagens lisérgicas e pelos conceitos instigantes que são apresentados aqui, integrando-se com criatividade às sequências de ação e prometendo novidades interessantes para os próximos projetos da Marvel.

Dirigido e co-roteirizado por Scott Derrickson (que dirigiu longas de terror como O Exorcismo de Emily Rose, A EntidadeLivrai-Nos do Mal e a refilmagem de O Dia em que a Terra Parou), a estreia do Mago Supremo nas telonas é, em termos narrativos, o típico filme de origem que já podemos antever há muito tempo: Stephen Strange é um neurocirurgião rico e terrivelmente arrogante que, após ter as mãos comprometidas num acidente de carro, locomove-se para o Nepal e reside na comunidade de Kamar-Taj, onde passa a se aprofundar nas artes místicas junto à Anciã, ao Barão Mordo e a Wong antes de descobrir que confrontará Kaecilus, um dos antigos estudantes da magia que se separou do grupo em determinado momento.

Como podem perceber, trata-se de mais uma história de redenção (similar ao que já vimos no primeiro Homem de Ferro), e não é preciso muito esforço para entender qual será o destino deste arco dramático. O problema é que a simplicidade desta premissa pode funcionar em outros projetos, mas não em Doutor Estranho, cujo conceito parece ter sido elaborado sob efeito de alucinógenos – e só isso é o suficiente para concluir que havia um potencial para ir além do lugar-comum narrativo dos filmes de super-heróis (potencial este que que jamais é aproveitado pelo roteiro). Além disso, se os motivos que levam o herói a tornar-se mais caridoso são estabelecidos com clareza, o mesmo não pode ser dito sobre como o protagonista passa a dominar as artes místicas, já que todo o treinamento ocorrido no segundo ato soa tão apressado quanto a busca de Strange por recursos médicos para curar suas mãos, nos primeiros 15 minutos.

De qualquer forma, se a construção do personagem-título é problemática, ao menos é salva pelo excelente desempenho de Benedict Cumberbatch, que confere intensidade a diálogos tolos (“Virei médico para salvar vidas, não para tirar vidas“) e personifica o ego inflado do sarcástico Stephen Strange sem transformá-lo numa caricatura. Mostrando-se desprezível desde o instante em que escolhe qual paciente deve atender e exibindo um timing invejável ao retratar a elegância, o atrevimento e o espanto experimentados pelo herói diante das insanidades que testemunha, Cumberbatch potencializa o comportamento adoravelmente babaca de Strange através de pequenas expressões (partindo desde o cenho franzido até os olhos levemente arregalados que indicam certo fascínio).

Já os outros integrantes do elenco não têm a mesma sorte: Rachel McAdams (recém-saída de Spotlight) divide uma boa química com o protagonista, mas o roteiro se limita a trazê-la auxiliando e reagindo aos absurdos estrelados por Strange; Chiwetel Ejiofor (do fabuloso 12 Anos de Escravidão) é eficaz ao ilustrar a descrença crescente no âmago de Barão Mordo, embora deixe o espectador bem mais interessado no que ele virá a fazer no futuro do que em como age no presente; Tilda Swinton evoca com precisão a vasta sabedoria da Anciã, mesmo que seus diálogos soem expositivos e teatrais demais (“Você sempre teve um potencial para a bondade, Stephen“. Como ela pode afirmar isso sendo que eles não parecem se conhecer há muito tempo?); e Mads Mikkelsen… bem, encarna mais um antagonista esquecível da Marvel (o que não é culpa do ator).

Em compensação, nem o pior dos pecados de Doutor Estranho compromete aquele que é, sem dúvida alguma, o maior espetáculo visual já concebido pelo estúdio: impressionando logo na cena de ação que abre o longa, o diretor Scott Derrickson acerta na psicodelia existente numa sequência onde a mente de Stephen Strange é “aberta”, trazendo variações na escala dos cenários, uma abundância de cores vibrantes, vários pontos cintilantes e itens esquisitos que me levam a crer que o efeito de LSD deve ser mais ou menos assim na vida real. Igualmente delirantes são os momentos onde corredores, salas e até cidades inteiras são dobradas, elevando à enésima potência o que poderia ser uma versão live-action do quadro Relatividade, de Maurits Cornelis Escher, e criando um nível de loucura capaz de invejar A Origem, de Christopher Nolan. E, aqui, faço uma recomendação raríssima: façam questão de assistir ao filme em 3D, pois a tecnologia é utilizada como uma ferramenta de linguagem fantástica e garante uma profundidade de campo que falta à maioria dos lançamentos que chegam aos cinemas em “terceira dimensão”.

Por outro lado, é uma pena que boa parte das sequências de ação se resumam aos personagens trocando socos e chutes, não aproveitando o potencial visual oferecido pelos superpoderes dos personagens. Além disso, o filme ainda exagera na quantidade de piadinhas que entram em momentos que deveriam dedicados a outras prioridades narrativas – e o terceiro ato, em especial, usa e abusa dos alívios cômicos, eliminando qualquer tensão que poderia (e deveria) haver naquelas situações. Em compensação, ao contrário de vários outros projetos da Marvel, Doutor Estranho não cai no erro de se preocupar demais com os próximos longas do estúdio, funcionando como uma aventura isolada e unindo-se ao primeiro Homem de Ferro e a Guardiões da Galáxia neste sentido. Para completar, Derrickson e o co-roteirista C. Robert Cargill resolvem com inteligência o conflito entre Strange e o grande vilão da narrativa (cujo nome me recuso a revelar), surpreendendo ao focar menos na adrenalina e mais no raciocínio engenhoso do herói.

Ainda assim, é uma pena que Doutor Estranho não seja inovador como poderia ser, descartando seu imenso potencial a fim de contar mais uma história batida e previsível estrelada por um super-herói. De todo modo, sua natureza estética é suficientemente diferente de tudo que já foi testemunhado nos filmes da Marvel, o que por si só me deixa curioso para descobrir o que o Mago Supremo fará quando se encontrar com os Vingadores.

Mais para explorar

Love Lies Bleeding – O Amor Sangra | Crítica

Uma surpresa curiosa que se aproveita bem de sua ambientação e do equilíbrio entre o mundano e o fantasioso, entre o “pé no chão” e o absurdo quase lisérgico, a fim de ilustrar como um amor pode corroer se for intenso demais.

Planeta dos Macacos: O Reinado | Crítica

Às vezes parece um exemplar “menor”, menos ambicioso e um pouco menos eficaz – mas segue indicando que a série tem vida longa pela frente.

Close-Up | Crítica

Não importam as dúvidas sobre o que é real e o que é ilusório; sobre o que é documentação e o que é ficcionalização. No fim das contas, o que sobra na obra-prima de Abbas Kiarostami é o homem. E o Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *