encanto (1)

Título Original

Encanto

Lançamento

25 de novembro de 2021

Direção

Jared Bush e Byron Howard

Roteiro

Jared Bush e Charise Castro Smith

Elenco

Stephanie Beatriz, María Cecilia Botero, John Leguizamo, Jessica Darrow, Angie Cepeda, Diane Guerrero, Wilmer Valderrama, Rhenzy Feliz, Noemi Josefina Flores, Olga Merediz, Yaneth Waldman, Mauro Castillo, Carolina Gaitán, Ravi Cabot-Conyers, Adassa, Maluma, Rose Portillo, Alyssa Bella Candiani, Noemi Josefina Flores, Paisley Herrera, Brooklyn Skylar Rodriguez, Ezra Rudulph, Juan Castano, Sarah Nicole-Robles, Hector Elias, Alan Tudyk e Jorge E. Ruize Cano

Duração

109 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Yvett Merino e Clark Spencer

Distribuidor

Disney

Sinopse

Com canções originais do premiado Lin-Manuel Miranda, esta animação da Walt Disney Animation Studios conta a história dos Madrigal, uma família extraordinária que vive em uma casa mágica nas montanhas da Colômbia em um lindo lugar chamado Encanto. E quando a magia do local é ameaçada, Mirabel, a única pessoa da família sem um dom mágico, pode ser a última esperança.

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Encanto | Crítica

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A ideia de que um filme é ruim por ser “pouco original” sempre me pareceu limitada. É aquela velha história: o que importa em uma obra não é se sua premissa é “clichê” ou “previsível”, mas como seus realizadores a abordarão de modo a torná-la única, singular – o que acaba sendo uma outra forma de repetir que a hipótese de que “o roteiro é a alma do filme” não se aplica na prática e que quem insiste em pregá-la está completamente equivocado (por razões que já discuti em outras ocasiões). Se sentimos que a falta de frescor de uma obra nos incomoda, é menos por sua premissa ser “batida” e mais pelos realizadores lidarem com os aspectos dramáticos/narrativos do roteiro que têm em mãos de forma esquemática e genérica, falhando em conferir vitalidade ou imaginação a uma trama que, por mais corriqueira que parecesse, sempre poderia ganhar contornos novos e particulares.

Que é o caso de Encanto.

Mais nova produção da “nova renascença” das animações da Disney (período que já inclui Enrolados, Frozen, Detona Ralph, Operação Big Hero, Zootopia, Moana e Raya e o Último Dragão), Encanto nos apresenta à fantástica família Madrigal, que vive reclusa em uma terra mágica batizada de Encanto e localizada entre as montanhas da Colômbia. Abençoados pelos poderes da vela mística da avó Alma, os Madrigal recebem, com isso, habilidades especiais para cada um: Julieta tem o dom de curar os outros com as comidas que prepara; Dolores tem audição sobre-humana; Luisa é superforte; Antonio é transmorfo; Camilo se comunica com animais; Isabela é capaz de fazer surgir magicamente um oceano de flores que enfeitam os ambientes pelos quais passa; etc. O que nos traz a Mirabel, filha mais nova de Julieta e única integrante da família Madrigal a não possuir nenhuma especialidade mágica – o que desperta nela a necessidade de compensar sua falta de poderes mostrando-se útil para o que der e vier. Porém, tudo muda depois que Mirabel decide desvendar o segredo acerca de Bruno, membro dos Madrigal capaz de visualizar o futuro e que há muito desapareceu por algum motivo misterioso, mas sombrio (“Não falamos sobre Bruno”, reiteram todos os personagens).

Em outras palavras: a premissa de Encanto pode não ser das mais originais, de fato, mas ao menos conta com um ou outro detalhe específico que sugere uma ambição particular, sendo particularmente notável que o roteiro de Charise Castro Smith e do co-diretor Jared Bush empregue o conceito fabulesco dos personagens a fim de criar uma história que gira em torno não de vilões ou de ações espetaculares, mas de… desavenças familiares e personagens (Mirabel e Bruno) que se identificam como peixes fora d’água em suas próprias casas – uma decisão que poderia funcionar caso o filme demonstrasse algum interesse em explorar as nuances emocionais e as relações afetivas daqueles indivíduos de maneira minimamente densa e elaborada. Em vez disso, o que temos é uma narrativa que busca “costurar” cada elemento narrativo/temático/dramático de forma artificial e preguiçosa, como se seguisse uma checklist de “coisas que não podem faltar em qualquer história do selo Disney” sem jamais imprimir vigor ou personalidade a estas.

Não, o problema de Encanto não está em sua trama ser “formulaica”, mas no fato de seu desenvolvimento ser esquemático a ponto de fazer todas as relações entre os personagens – que deveriam ser o centro emocional da obra – soarem genéricas, fragilizando o peso dramático que aquelas deveriam ter (basta perceber como os diálogos entre Mirabel e a maioria de seus familiares soam superficiais e pré-prontos, ao passo que as dores e os conflitos internos dos demais Madrigal são apresentados de forma tão corriqueira que jamais conseguimos “comprá-los” de fato). Aliás, a maneira com que os diretores Jared Bush e Byron Howard (responsáveis pelo ótimo Zootopia, o que torna ainda mais espantosa a falta de dinamismo de Encanto) lidam com os aspectos narrativos e dramáticos do longa é tão automática e “mecânica” que, quando a projeção chega ao fim, a sensação que fica é a de que tudo que acompanhamos nos 90 minutos anteriores se resumiu a um imenso primeiro ato, já que os realizadores parecem muito mais interessados em introduzir ideias, personagens e conflitos do que em levá-los adiante – não é à toa que o clímax da narrativa jamais soa como tal, carecendo de uma coesão que o faça soar como uma conclusão sólida para tudo que foi preparado anteriormente.

Aliás, o desespero de Encanto em apresentar conceitos/personagens novos é tão maior que seu interesse em desenvolvê-los que, quando chegamos ao terço final da projeção, o longa ainda está tendo que recorrer a diálogos expositivos e números musicais a fim de explicar quem é fulano/cicrano/beltrano – e, mesmo assim, terminamos o filme sabendo apenas o básico sobre eles, sem sentirmos que os conhecemos de fato. Por falar em números musicais, Encanto aqui demonstra uma fragilidade inequivocamente grave: para uma obra que tanto buscou se inserir no gênero “musical”, não há uma canção que seja particularmente memorável – uma decepção que também se aplicou a Frozen 2. Sim, existem melodias que ficam na memória (“The Family Madrigal” é a melhorzinha), mas até estas operam mais como “músicas-chiclete” do que como algo que gostamos de relembrar. E se “Dos Oruguitas” revela-se aborrecida demais para pontuar aquele que deveria ser o momento mais tocante da narrativa, “We Don’t Talk About Bruno” é um daqueles fenômenos claramente fabricados pela empresa que o bancou (afinal, o poder mercadológico da Disney é tão absurdo que é capaz de transformar literalmente qualquer coisa em hit absoluto).

Dito isso, Encanto nem de longe representa uma experiência desagradável – o que se deve, em boa parte, a alguns de seus personagens (ênfase no “alguns”, já que a maioria deles se resume somente a vislumbres do que parecem ser figuras interessantes). Ganhando energia e carisma através da ótima performance vocal de Stephanie Beatriz (da série Brooklyn Nine-Nine), que oscila entre o entusiasmo das cantorias e a introspecção dos momentos mais íntimos com uma agilidade fabulosa, Mirabel Madrigal se revela uma protagonista perfeita para uma história que, afinal, se propõe a centrar-se em uma heroína comum no meio de coadjuvantes extraordinários – e “comum” é um adjetivo que definitivamente se aplica a Mirabel, que, com seus óculos “fundo de garrafa”, seus vestidos largos e sua bolsinha atravessada, jamais parece uma heroína que esperaríamos ver em uma aventura. Da mesma forma, é admirável que o filme opte por resolver o conflito entre Mirabel e a avó Alma fugindo de qualquer maniqueísmo, mostrando-se maduro ao entender as motivações de ambas em vez de simplesmente condenar uma das duas.

Mas é o vilarejo-título de Encanto que se apresenta como o personagem mais fascinante de toda a obra: retratada pelo designer de produção Ian Gooding e por sua assistente, Lorelay Bove, como uma terra que enche os olhos em função de sua vasta variedade de cores vibrantes e alegres que se encontram em uma harmonia esplendorosa, a comunidade de Encanto surge como um ambiente não só plasticamente bonito (que também é), mas também vivo, como se respirasse e reagisse com intensidade, calmaria ou melancolia a cada acontecimento da trama – mérito também de toda a equipe de animadores, que se certificam de refletir cada traço de comportamento daqueles cenários-personagens em detalhes como, por exemplo, os ladrilhos que se movem como se tivessem vida própria ou as luzes que se acendem/apagam à medida que a casa “sente” o entusiasmo/desânimo de seus ocupantes.

Ainda assim, Encanto termina deixando a sensação de ser uma obra que mais propõe arcos, conceitos e discussões ambiciosas do que as desenvolve de fato, apresentando-se como um passatempo simpático, divertidinho… e só.

Em suma: é um filme que, com o perdão do trocadilho, carece de… encanto.

***

(Lembre-se: a pandemia não acabou. Se for sair de casa e ir ao cinema, siga todos os cuidados sugeridos pelas organizações sérias de Saúde: use máscara, mantenha uma distância segura dos demais espectadores, evite se aglomerar e – o mais importante – vá ao posto tomar sua vacina. Se já tomou a primeira dose, tome a segunda. Se já tomou a segunda e já chegou a vez de tomar a terceira, tome a terceira – se ainda não chegou, espere e vá assim que ela estiver disponível. É triste ter que escrever isto, mas… não escute o atual presidente da República (ou mesmo seu ministro da Saúde): vacine-se e proteja-se. Só assim conseguiremos construir um caminho para finalmente vencermos a COVID-19 e sairmos desta crise que ninguém aguenta mais. #ForaBolsonaro)

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