Godzilla vs Kong

Título Original

Godzilla vs Kong

Lançamento

6 de maio de 2021

Direção

Adam Wingard

Roteiro

Eric Pearson e Max Borenstein

Elenco

Rebecca Hall, Alexander Skarsgård, Kaylee Hottle, Millie Bobby Brown, Brian Tyree Henry, Julian Dennison, Shun Oguri, Demián Bichir, Eiza González, Lance Reddick, Kyle Chandler, Hakeem Kae-Kazim, Ronny Chieng, John Pirruccello, Chris Chalk e Eric Petey

Duração

113 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Thomas Tull, Jon Jashni, Brian Rogers, Mary Parent, Alex Garcia e Eric McLeod

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Kong e seus protetores embarcam em uma jornada perigosa para encontrar seu verdadeiro lar. Com eles está Jia, uma jovem órfã que tem uma ligação única e forte com Kong. Mas eles não sabiam que estavam no caminho de um Godzilla enfurecido, que está deixando um rastro de destruição pelo planeta. Esse combate épico entre os dois titãs, instigado por forças ocultas, é apenas o começo do mistério que jaz no núcleo da Terra.

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Godzilla vs Kong | Crítica

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Há vários momentos em Godzilla vs Kong que mostram que Adam Wingard (O Hóspede, Você é o Próximo, Death Note) é um diretor que entende que, quando vamos assistir a um filme de monstros brigando, o que nos interessa, afinal, é ver os monstros brigando. Se não entendesse, as sequências de ação que cria aqui não valorizariam a presença dos dois kaiju como valorizam, nem seriam visualmente inteligíveis e bem organizadas como são (a propósito: #TeamKong). Infelizmente, o roteiro de Max Borenstein e Eric Pearson não divide desta mesma compreensão, relegando o choque de monstros em si a dois ou três momentos isolados e perdendo um tempo terrível com personagens humanos sem personalidade e com uma trama excessivamente complicada, auto-importante e desinteressante – e é uma pena que Wingard, na hora de transformar este roteiro em filme, também não pareça muito disposto a tornar estes elementos um pouco mais instigantes.

Continuando a história a partir de onde a deixamos em Godzilla 2: O Rei dos Monstros, este novo longa começa com o gorilão (ausente no filme anterior) acordando numa Ilha da Caveira agora fortemente monitorada pelos agentes da Monarch, uma companhia secreta especializada em monstros gigantes e que busca proteger Kong de possíveis ameaças externas. No entanto, depois que Godzilla, por algum motivo, ressurge voltando-se contra a mesma Humanidade que ajudou a defender nos últimos capítulos, a Monarch percebe que a única alternativa para conter os ataques do kaiju é liberar Kong para trocar socos com ele, na esperança de derrotá-lo – e, no processo, tanto o gorilão quanto os humanos que o resguardam têm acesso a um monte de detalhes sobre a origem dos monstros e sobre o mundo de onde vieram.

A verdade é que a trama de Godzilla vs Kong envolve um monte de outros elementos, personagens, subtramas e ideias que, na tentativa de enriquecer a mitologia dos monstros gigantes, acabam servindo apenas para inchar a narrativa e tirar o foco daquilo que realmente interessa: os monstros gigantes. E, se a “Terra Oca” de onde vieram os kaiju fascina em função de sua identidade etérea, visualmente vibrante e que faz Kong sentir-se muito mais em harmonia nela do que no mundo dos humanos, o mesmo não pode ser dito a respeito de todo o blábláblá técnico/científico/coorporativo que ocorre entre os agentes da Monarch, os empresários malvados de uma corporação idem e a trupe de Madison (Brown), um amigo genérico (Dennison) e um podcaster (Henry) que vive postando teorias conspiratórias sobre monstros na Internet (e que existe no filme basicamente para fazer piadinhas tolas e sem graça).

Aliás, para uma obra que se propõe a ser “boba”, descompromissada e interessada de fato na catarse de ver dois monstros gigantes saindo no braço, Godzilla vs Kong se mostra surpreendentemente aborrecido na maior parte do tempo, como se Adam Wingard não tivesse o menor interesse em filmar aquilo que, para seu contragosto (e para o nosso), é justamente o que ocupa a maioria das páginas do roteiro: os diálogos entre os humanos e os draminhas com os quais ninguém se importa. Além disso, se Jordan Vogt-Roberts conseguia abraçar o absurdo e a tolice no ótimo Kong: Ilha da Caveira, Wingard parece sempre interessado e prestes a fazer o mesmo, mas constantemente termina barrado por um verniz de solenidade que corre por trás, uma necessidade de se levar a sério demais e/ou de se explicar demais – o que, somado ao desinteresse de Wingard ao encenar os diálogos entre os humanos, ajuda a converter estes em um tédio absoluto e a fazer alguns dos absurdos do filme soarem ridículos em vez de divertidos.

E isto é uma pena, já que, nos momentos em que o cineasta tem a oportunidade de se concentrar naquilo que dá título ao filme – as lutas entre Godzilla e Kong –, os resultados são sempre eficientes: ao contrário do que Gareth Edwards e Michael Dougherty fizeram em Godzilla e Godzilla 2, que sacrificavam o prazer de ver os monstros trocando socos ao mergulhá-los em sombras e fumaças e ao manter a câmera excessivamente inquieta e próxima a eles (tornando a ação confusa e ininteligível), Wingard ao menos permite que o espectador enxergue claramente o que acontece em cena, mostrando as criaturas sempre da cabeça aos pés e, na maioria das vezes, sob a luz do dia – e, mesmo quando a ação ocorre à noite, esta é bem iluminada pelos neons multicoloridos do cenário que a abriga. E mais: a “coreografia” das lutas explora o máximo que as habilidades de cada personagem tem a oferecer, das rajadas atômicas de Godzilla até a força bruta, a fisicalidade e a noção estratégica de Kong (e é divertido ver como os poderes de um funcionam para diluir ou complementar o do outro; como, por exemplo, os raios do primeiro são absorvidos como bateria pelo machado do segundo).

Além disso, é evidente o carinho de Wingard tanto pelos personagens quanto por suas respectivas franquias, encontrando espaço, durante as cenas de ação, para criar algumas referências visuais que funcionam por surgirem rápidas e orgânicas, evitando chamar atenção para si: quando Kong tenta quebrar a mandíbula de Godzilla, nos lembramos de todas as outras vezes em que ele tentou fazer isso com outros animais (T-Rexes, cobras, lagartões, etc); quando Kong enfia desajeitadamente o cabo de seu machado na boca de Godzilla, recordamos de uma cena similar do King Kong vs Godzilla que Ishirō Honda dirigiu em 1962 na qual o gorilão fazia o mesmo com uma árvore no lugar da arma; quando vemos Kong no alto de um arranha-céu em Hong Kong, automaticamente pensamos no Empire State Building mesmo que não o seja; etc. Da mesma forma, o terceiro ato traz uma participação extra de um vilão bastante conhecido da mitologia do Godzilla (não direi quem é, embora suponha que todos já saibam de quem estou falando) e que funciona bem mesmo que seu design aqui não seja dos mais inspirados.

Mas, no fim das contas, há sempre os malditos seres humanos e o desinteresse de Adam Wingard em contornar os elementos mais problemáticos do roteiro para puxarem tudo para baixo. Não, o problema não está na presença de personagens humanos na trama (afinal, desde O Mundo Perdido de 1925, estes sempre foram instrumentais para criar uma ligação entre o público e os monstros dos filmes que os trazem), mas no fato de estes, em Godzilla vs Kong, não terem personalidade alguma e servirem apenas para dizer falas expositivas como “A ilha é a única coisa que manteve Kong isolado; se ele sair, Godzilla virá atrás dele” – e não é à toa que, em vez de ser uma caricatura, o vilão vivido por Demián Bichir é tão sem personalidade que não chega sequer a isto, ao passo que sua filha, interpretada por Eiza González, existe apenas para inflar ainda mais a narrativa.

Curioso (e caridoso, por que não?) ao conceder a Kong um “reajuste histórico” por todas as vezes em que este foi sequestrado de sua ilha e morto em Nova York (aqui, de certa forma, ocorre o oposto disso), Godzilla vs Kong é, em suma, uma fantasia que falha em entender que, de seres humanos chatos e inconvenientes, o mundo real já está cheio.

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