Longe de Casa

Título Original

Spider-Man: Far from Home

Lançamento

4 de julho de 2019

Direção

Jon Watts

Roteiro

Chris McKenna e Erik Sommers

Elenco

Tom Holland, Jake Gyllenhaal, Zendaya, Jacob Batalon, Samuel L. Jackson, Jon Favreau, Marisa Tomei, Cobie Smulders, J.B. Smoove, Martin Starr

Duração

129 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige e Amy Pascal

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

Peter Parker (Tom Holland) está em uma viagem de duas semanas pela Europa, ao lado de seus amigos de colégio, quando é surpreendido pela visita de Nick Fury (Samuel L. Jackson). Precisando de ajuda para enfrentar monstros nomeados como Elementais, Fury o convoca para lutar ao lado de Mysterio (Jake Gyllenhaal), um novo herói que afirma ter vindo de uma Terra paralela. Além da nova ameaça, Peter precisa lidar com a lacuna deixada por Tony Stark, que deixou para si seu óculos pessoal, com acesso a um sistema de inteligência artificial associado à Stark Industries.

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Homem-Aranha: Longe de Casa | Crítica

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Homem-Aranha: Longe de Casa é uma obra que se esforça para divertir o espectador. Em teoria, isto é admirável, já que provocar o sorriso no rosto de outra pessoa é sempre uma atitude nobre (mesmo considerando que o objetivo de uma superprodução como esta é um só: gerar centenas de milhões de dólares aos cofres da Sony e da Marvel). O problema é que, na ânsia de parecer bem-humorado aos olhos de um público mais jovem, o filme soa desesperado em suas constantes tentativas de arrancar o riso, tornando-se óbvio e malsucedido em diversas ocasiões. Sim, o bom humor é parte integral da persona do Homem-Aranha (e, como fã incondicional do personagem, reconheço isso sem dificuldade alguma), mas não a ponto de transformá-lo num Deadpool para crianças.

Escrito por Chris McKenna e Erik Sommers (que escreveram De Volta ao Lar ao lado de outros quatro roteiristas), Longe de Casa começa imediatamente após os eventos de Vingadores: Ultimato e mostra Peter Parker saindo de férias para relaxar um pouco – afinal, o garoto desapareceu por cinco anos e, assim que voltou, teve que participar de uma batalha grandiosa ao lado de dezenas de colegas. Ao chegar à Europa, no entanto, Parker é surpreendido pela chegada de Nick Fury, que o convoca para uma missão junto ao cientista Quentin Beck, também conhecido como Mysterio. Conforme a trama avança, os dois unem seus esforços para combater os “Elementais” (em outras palavras: uns monstros gigantes compostos por água, fogo, terra e ar). Mas é claro que a situação não termina por aí, já que logo o Homem-Aranha se encontrará no meio de ações… digamos, misteriosas demais.

Reconhecendo que o grande diferencial de Peter Parker é a imensa humanidade em suas atitudes (lembrem-se: ele é um super-herói que, mesmo voando pelos céus de Nova York e angariando uma base considerável de fãs, ainda é obrigado a lidar com dificuldades corriqueiras na vida de praticamente todos os adolescentes), Longe de Casa continua a retratar o Homem-Aranha como um personagem fascinante – mérito que se deve, em grande parte, ao desempenho de Tom Holland, que, exibindo timing cômico e espontaneidade em sua composição, faz Parker soar como o que ele é: um adolescente (e gosto particularmente de como a voz esganiçada de Holland sugere certa insegurança do garoto ao tomar suas decisões). Ao contrário de vários super-heróis, o Aranha frequentemente sente-se perdido e impotente em relação ao seu lugar no mundo, o que é interessante – mesmo que seu arco, aqui, nada mais seja que uma repetição daquele que acompanhamos no filme anterior (em De Volta ao Lar, Peter tinha que amadurecer e entender o real sentido de ser um Vingador, provando-se para Tony Stark no processo; em Longe de Casa, Peter tem que… amadurecer e entender o real sentido de ser um Vingador, estabelecendo-se como um sucessor para o Homem de Ferro no processo).

Aliás, a falta de imaginação não é o único problema do roteiro, que, em vez de construir três atos bem definidos e que se ligam de maneira orgânica, prefere investir numa estrutura frouxa, episódica e que consiste basicamente em um único tipo de situação: num momento, o Homem-Aranha terá que enfrentar um monstro e, ao mesmo tempo, desviar a rota que seus amigos seguem numa excursão; um pouco depois, outro adversário fará o herói mudar novamente o caminho do passeio escolar; mais à frente, algo similar voltará a acontecer; etc – e esta dinâmica repetitiva faz o filme soar quase como um videogame de duas horas, transformando cada sequência de ação em uma “fase” diferente. No meio disso tudo, a história tenta encontrar tempo para mostrar os colegas de Peter curtindo as férias pela Europa, o que poderia funcionar perfeitamente caso o roteiro não sentisse a necessidade de perder tempo com piadinhas sem graça e/ou com situações que pouco acrescentam à narrativa (toda a cena envolvendo um ônibus e um drone, por exemplo, poderia ser inteiramente descartada).

Não que o filme não tente provocar o riso. Aliás, como tenta. Evidenciando seu desespero assim que a vinheta da Marvel surge no começo da projeção (ao som de “I Will Always Love You”), Longe de Casa já começa fazendo graça com as mortes testemunhadas em Ultimato, impedindo o espectador de sentir o peso que a ausência de Tony Stark passou a causar em Peter. Isso, inclusive, acaba eliminando o drama de várias situações, já que, sempre que o filme está se encaminhando para um momento emocionalmente interessante (como o diálogo no qual MJ revela ter descoberto a identidade secreta do herói), logo vem uma piadinha que corta completamente o clima da situação.  Assim, por mais que o roteiro se proponha a construir um arco de evolução para Peter Parker, a impressão que fica é a de que o filme em si não tem maturidade para lidar com os temas que pretende explorar, o que é uma pena (e este é só um dos motivos que fazem esta continuação empalidecer diante de Homem-Aranha 2, por exemplo).

Em compensação, Longe de Casa é favorecido pela simples presença de Jake Gyllenhaal, que transforma o Mysterio num dos pontos altos do filme: sim, as motivações por trás do personagem são simplórias e a cena que ilustra sua “virada” é sobrecarregada da mais pura exposição, mas até mesmo estes problemas merecem absolvição quando comparados à intensidade de Gyllenhaal, que confere sarcasmo, coleguismo e até mesmo jovialidade a Quentin Beck numa cena em que conversa com Peter a respeito dos dilemas habituais da adolescência – e, a partir do instante em que revela suas verdadeiras intenções, o personagem torna-se ainda mais interessante, permitindo que Gyllenhaal se divirta cada vez mais (e o fato de Mysterio ter como superpoder a habilidade de fazer as pessoas acreditarem em qualquer absurdo que surja na sua frente acaba soando como um comentário inesperado e eficaz sobre o contexto de fake news que infelizmente vivemos hoje). Já Zendaya ganha a oportunidade de injetar carisma e personalidade a MJ, representando uma evolução significativa em relação ao filme anterior.

Saindo-se um pouco melhor na condução das cenas de ação, que surgem bem mais dinâmicas do que em De Volta ao Lar e atingem um clímax particularmente satisfatório no terceiro ato, o diretor Jon Watts se destaca ao criar uma ou outra imagem eficiente, como aquela que traz o Aranha no topo de uma torre enquanto fogos de artifício explodem ao fundo – e a sequência que ilustra um “pesadelo” do personagem-título, em especial, é simplesmente fabulosa, surpreendendo o espectador ao abraçar níveis cada vez maiores de insanidade. Por outro lado, é triste ver um compositor talentoso como Michael Giacchino criando uma trilha genérica, esquecível e reduzida a dois ou três temas reciclados de seus trabalhos anteriores.

Assim, Homem-Aranha: Longe de Casa acaba se revelando um filme muito mais interessado em piadinhas e em sequências de ação do que nos conflitos pessoais de seu protagonista, apresentando-se, no fim das contas, como um passatempo moderadamente divertido, porém excessivamente preocupado e inseguro com sua capacidade de divertir.

Assista também ao vídeo SEM spoilers que gravei sobre o filme:

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