Não há problema algum em fazer um filme de comédia estrelado por super-heróis – afinal, Guardiões da Galáxia, Deadpool e Thor: Ragnarok alcançaram bons resultados investindo justamente no riso como principal ferramenta narrativa. O problema, portanto, é quando uma comédia simplesmente não tem graça: O Homem-Formiga e a Vespa é (como seu antecessor) mais um projeto da Marvel que aposta no bom humor a fim de se assumir como um passatempo despretensioso – no entanto, se o primeiro Homem-Formiga (que já não era dos melhores longas do estúdio) ainda conseguia render boas gargalhadas, o máximo que esta continuação gerou em mim foi um ou outro sorrisinho de canto de boca. Este, sim, é o problema.
Escrito por nada menos que cinco roteiristas (e muitos nomes dividindo uma única função costuma ser um mau sinal), este filme volta a cometer um erro recorrente nas produções da Marvel e cria uma trama desnecessariamente complicada e prolixa: se os primeiros 20 minutos sugerem que a história irá para um caminho, logo o roteiro começa a bifurcar a narrativa ao atirar uma série de situações que servem somente para atrapalhar seu andamento, introduzindo uma vilã de maneira aleatória, exagerando na quantidade de subtramas e perdendo tempo com momentos constrangedores como aquele onde os heróis precisam visitar uma escola. Isto é facilmente observável no terceiro ato, quando vemos uns três ou quatro grupos de personagens diferentes numa única sequência de ação e nos damos conta de que já não sabemos mais qual é a trama principal do filme.
Assim, para um longa intitulado O Homem-Formiga e a Vespa, é irônico que o fator responsável por comprometê-lo seja justamente a grandeza do número de roteiristas, situações paralelas e personagens envolvidos. O que não falta, por sinal, são rostos conhecidos que pouco têm a fazer na história: se Michelle Pfeiffer não conta com o tempo de tela que precisaria para se destacar, Laurence Fishburne parece estar presente só para inchar ainda mais a quantidade de atores incluídos no elenco, ao passo que Walton Goggins, tão eficiente em Os Oito Odiados, encarna mais um antagonista completamente descartável depois de Tomb Raider. Mas a maior decepção, porém, encontra-se na vilã Ghost, que invade a trama como um acidente de percurso, jamais projeta qualquer imponência física e sequer transmite o peso dramático necessário para que suas motivações soem convincentes.
Por sorte, há algo que impede o filme de ser um desastre: Paul Rudd, que, com seu timing cômico habitual (lembrem-se dele em Friends), transforma o Homem-Formiga num herói simpático, carismático e cativante apesar das suas várias imperfeições éticas – e gosto particularmente de como Rudd confere pureza e jovialidade ao herói, que nada mais é que uma criança grande acostumada a improvisar tobogãs de papelão nas horas vagas. Já Evangeline Lilly exibe uma virilidade que, combinada ao seu bom humor, automaticamente faz da Vespa um contraponto perfeito para a infantilidade do Homem-Formiga. (Vale apontar, por outro lado, que embora o filme se chame O Homem-Formiga e a Vespa, a personagem de Lilly está longe de ser tão protagonista quanto o anti-herói vivido por Rudd.)
Eficaz também em suas divertidas e organizadas sequências de ação, que exploram apropriadamente as várias habilidades que os heróis desempenham ao aumentarem ou diminuírem seus tamanhos, O Homem-Formiga e a Vespa traz alguns momentos que brincam bem com o absurdo de sua premissa (é bacana, por exemplo, ver um enxame simular o formato de uma seta gigante a fim de guiar um carro). Infelizmente, estes são alguns instantes pontuais em que o diretor Peyton Reed se sai bem ao abraçar a tolice destes super-heróis – na maior parte do tempo, o filme está apenas se esforçando desesperadamente para arrancar uma risada do espectador (e as tiradas feitas por Michael Peña, em especial, começam a cansar conforme a projeção avança).
Mas se há um nome que realmente incomoda em O Homem-Formiga e a Vespa, este é o do compositor Christopher Becke, cuja carreira irregular inclui acertos (Frozen) e erros crassos (Garfield). Aqui, o sujeito cria uma daquelas trilhas “engraçadinhas” que fazem questão de indicar para o espectador todos os instantes em que este deve gargalhar – e claro que, ao apelar para um recurso cômico tão óbvio e irritante, o máximo que o filme consegue é diluir a graça que precisava existir nestes momentos.
Num ano em que os fãs de super-heróis foram presenteados com Pantera Negra, Guerra Infinita e Os Incríveis 2, O Homem-Formiga e a Vespa acaba se revelando – com o perdão do trocadilho – um filme… “menor”.