Thor Ragnarok (1)

Título Original

Thor: Ragnarok

Lançamento

26 de outubro de 2017

Direção

Taika Waititi

Roteiro

Eric Pearson

Elenco

Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Cate Blanchett, Tom Hiddleston, Tessa Thompson, Jeff Goldblum, Karl Urban, Idris Elba, Anthony Hopkins, Taika Waititi e Benedict Cumberbatch

Duração

130 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Kevin Feige

Distribuidor

Disney

Sinopse

Thor (Chris Hemsworth) está preso do outro lado do universo. Ele precisa correr contra o tempo para voltar a Asgard e parar Ragnarok, a destruição de seu mundo, que está nas mãos da poderosa e implacável vilã Hela (Cate Blanchett).

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Thor: Ragnarok | Crítica

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Não é de hoje que os filmes da Marvel apostam frequentemente no bom humor. Para o bem ou para o mal, a verdade é que produzir um Logan ou um Cavaleiro das Trevas simplesmente não é do feitio do estúdio – e se alguns longas tropeçam ao incluir piadinhas em momentos inoportunos (Homem de Ferro 3 e Thor 2), outros criam alívios cômicos inteligentes que movem a trama em vez de interrompê-la (Guerra Civil e Homem-Aranha). No caso da terceira aventura solo do Deus do Trovão, porém, a situação torna-se mais específica graças à direção do neozelandês Taika Waititi (que vem de obras como o hilário O Que Fazemos nas Sombras): investindo num senso de humor que já é evidenciado logo na cena inicial, Ragnarok é menos um filme de super-herói e mais uma comédia escrachada que, por acaso, traz personagens superpoderosos (uma estratégia similar à de James Gunn em Guardiões da Galáxia).

Felizmente, os esforços valeram a pena: embora siga algumas convenções inevitáveis das produções do estúdio, o diretor Taika Waititi foi flexível o bastante para adicionar parte de seu próprio estilo à chamada “fórmula Marvel”. Escrito por Eric Pearson, o roteiro obviamente se concentra na chegada do Ragnarok, que corresponde ao fim dos tempos segundo a mitologia nórdica. Quando a vilã Hela surge para destruir Asgard e começar a atacar os outros oito reinos restantes, Thor é atirado num planeta conhecido como Sakaar e se vê forçado a lutar como gladiador, o que leva o herói a reunir um pequeno grupo de batalhadores (os “Revengers”; ou “Vingativos”, segundo as legendas brasileiras) para fugir da escravidão e retornar à sua terra natal antes de ser devastada.

Não, não é uma trama brilhante ou inventiva, mas (como já falei em outras ocasiões) é perfeitamente possível desenvolver uma premissa simples de maneira criativa – e se o roteiro não traz nada particularmente especial (tirando a solução surpreendente que os heróis encontram para o obstáculo enfrentado), Taika Waititi confere energia e personalidade a um projeto que parecia fadado à mesmice. Resgatando o senso de humor inusitado e ágil que esteve em seus projetos anteriores, o diretor cria gags sonoras eficazes como a que traz o Mjölnir quebrando a sala do Doutor Estranho antes de retornar à mão de Thor, sendo igualmente espontâneo ao abrir a projeção com uma narração em off que é imediatamente desfeita através de uma revelação hilária. Além disso, Waititi se diverte fazendo brincadeiras pontuais com os vampiros de O Que Fazemos nas Sombras, com o passeio de barco que Willy Wonka capitaneava em A Fantástica Fábrica de Chocolate e até mesmo com um momento supostamente trágico de outro filme da Marvel (e o mesmo pode ser dito sobre alguns comentários rápidos, como aquele onde Thor diz que acha ótimo que as Valquírias sejam mulheres para que estas finalmente conquistem seu espaço).

Claro que, numa comédia, é fundamental que o elenco se situe cuidadosamente – e o modo com que os atores recitam suas respectivas falas é tão natural que torna-se óbvio que muitos improvisos ocorreram ali. Assim, fica mais evidente do que nunca que Chris Hemsworth tende a se sair muito melhor quando abraça o bom humor, transformando Thor num herói bem mais imprevisível e bobão do que pensávamos: observem a performance física de Hemsworth quando ele fracassa tentando manter uma postura intimidadora ao colocar o cotovelo numa estante ou o jeito engraçadíssimo como conta uma antiga história envolvendo Loki e uma cobra. E se Mark Ruffalo abandona qualquer tipo de seriedade e se entrega à completa insanidade a fim de converter Bruce Banner e Hulk em figuras hilárias que se complementam em suas carências particulares, Tessa Thompson surpreende como uma anti-heroína beberrona ao passo que Cate Blanchett sente um prazer notável ao viver Hela como uma vilã que adora sua própria maldade. Para completar, a presença de Jeff Goldblum, com seu tom de voz enérgico e seus trejeitos afetados, já faz de Thor: Ragnarok uma experiência digna de nota.

Alguns personagens, inclusive, contam com personalidades notavelmente diferentes das que foram apresentadas nos longas anteriores, o que acaba funcionando como extensão do que achávamos que conhecíamos tão bem. (Ou talvez eu esteja sendo benevolente demais para reconhecer que, ao priorizar em excesso sua visão autoral, Waititi acabou traindo certas personas. De todo modo, ao menos Thor foi descaracterizado para se tornar uma figura mais interessante e que aproveite mais do que Chris Hemsworth tem a oferecer como ator. Em contrapartida, me entristece saber que vai demorar para aparecer um filme que volte a se concentrar naquilo que o Hulk tem de mais instigante: a carga dramática do pobre Bruce Banner, que carrega não um superpoder, mas uma doença.)

Contando ainda com a participação do próprio Taika Waititi (que costuma atuar em seus próprios longas e aqui dá vida a um Korg bem distante daquele apresentado nos quadrinhos do Planeta Hulk, mas divertido em seu modo sereno e inocente de sugerir coisas grandiosas (“Oi, quer entrar para a nossa rebelião?“), Ragnarok investe orgulhosamente na ideia de celebrar suas origens através do estilo visual, o que leva o design de produção a criar cenários multicoloridos e transformar Sakaar numa terra que só poderia existir mesmo num mundo fantasioso, sendo interessante notar como os habitantes deste planeta veneram o Hulk com roupas, cartazes, cabeças de papelão, explosões e pó verde (a propósito: os fãs de Jack Kirby terão orgasmos quando constatarem que várias de suas ilustrações foram homenageadas aqui). E se a fotografia ressalta as cores com eficiência (talvez seja o filme mais claro da Marvel desde Os Vingadores), Waititi mostra-se hábil ao conduzir as cenas de ação, com destaque especial para o plano que enfoca o Mjölnir rodando num eixo e para os instantes onde a câmera lenta é empregada a fim de valorizar certas imagens.

Dito isso, é uma pena que Ragnarok sinta a necessidade de incluir um ou outro momento dramático que não combina com a comicidade proposta por Waititi e que claramente faz parte das necessidades narrativas de todo longa da Marvel. Aliás, essa foi a primeira vez em que vi uma obra do estúdio e torci para que uma piadinha entrasse para quebrar a solenidade de algumas passagens, o que quase faz o projeto sucumbir à mesmice dos filmes de super-heróis que se levam mais a sério. Por outro lado, sempre que a aventura está prestes a cair no lugar-comum, logo surge uma imagem inesperada como a de um guardião de Asgard usando metralhadoras compradas no Texas.

Trazendo algumas referências que certamente farão a alegria dos leitores de quadrinhos da Marvel (pensem no cajado de Donald Blake e na ocasião onde o Deus do Trovão foi transformado em sapo), Thor: Ragnarok não é perfeito, mas merece pontos por adicionar a identidade de Taika Waititi a uma fórmula que já está saturando.

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