Interestelar (1)

Título Original

Interstellar

Lançamento

6 de novembro de 2014

Direção

Christopher Nolan

Roteiro

Christopher Nolan e Jonathan Nolan

Elenco

Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Bill Irwin, Ellen Burstyn, Michael Caine, Casey Affleck e Matt Damon

Duração

169 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Christopher Nolan, Emma Thomas e Lynda Obst

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. Com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy e Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta.

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Interestelar

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Interestelar é uma ficção científica muito mais interessada em suas ideias que propriamente no arco dramático a ser percorrido pelos personagens ao longo da narrativa. A princípio, isto poderia soar como um elogio ímpar a favor do mais recente trabalho de Christopher Nolan – pena que as tais “ideias” sejam desnecessariamente numerosas e, por fim, transformem o longa numa obra problemática e sem um objetivo claro. Assim, por mais que tenha atrativos inegáveis, Interestelar acaba sendo vítima da “megalomania imaginativa” de seu próprio criador.

Escrito pelo próprio Nolan ao lado de seu irmão/colaborador Jonathan, o filme se passa num futuro onde uma praga constituída por temíveis tempestades de areia vem destruindo plantações constantemente. Com isso, o fazendeiro Cooper descobre que a NASA organiza projetos para tentar salvar os sobreviventes ou pelo menos garantir que a vida humana siga se proliferando; mesmo que isto torne necessária uma mudança de planeta. Sendo assim, o protagonista é obrigado a deixar sua filha Murph para assumir o posto de piloto da missão à procura de planetas habitáveis para a nossa espécie, junto à doutora Brand, aos especialistas Romilly e Doyle e aos robôs TARS e CASE. As consequências desta viagem incluem complexidades que vão de viagens temporais até detalhes que, se revelados, estragarão surpresas para os leitores que ainda não assistiram ao filme.

E é nestas “consequências” que começam os problemas de Interestelar: por mais que tenha um talento notável para criar universos elaborados e tramas imaginativas (AmnésiaO Grande Truque, O Cavaleiro das Trevas e A Origem são alguns exemplos), Christopher Nolan parece carregar uma necessidade pessoal de conceber a melhor e mais tematicamente rica das criações já testemunhadas na Sétima Arte. Com isso, esta ficção científica traz incontáveis conceitos e questionamentos filosóficos, morais, éticos, científicos e existenciais que, em vez de enriquecerem a película, apenas a transformam numa bagunça que mistura ideias teoricamente intrigantes, mas que, na prática, não chegam a lugar algum – e se a intenção era seguir os passos de 2001: Uma Odisseia no Espaço ou Solaris, o resultado deixa mais que claro que Nolan infelizmente está longe de ser um Stanley Kubrick ou um Andrei Tarkovsky. É possível enxergar conceitos interessantíssimos em meio à explosão de ideias de Interestelar, de fato, mas é uma pena que a união seja sintomática de tão mal-ajambrada, e os problemas se tornam ainda mais óbvios quando o roteiro subitamente decide discutir… o Amor (sim, com inicial maiúscula), um tema, neste caso, desnecessário e que chega a soar ridículo nas mãos do cineasta.

No entanto, nada é tão incômodo quanto a falta de confiança demonstrada por Nolan com relação à inteligência de seu público: demonstrando uma arrogância desapontadora e difícil de esconder, o cineasta aparenta acreditar que, de tão complexo conceitualmente, seu material deve ser explicado incessantemente. Com isso, além de apresentar a milionésima descrição de um buraco de minhoca já vista no Cinema até então, o diretor/roteirista ainda cria falas e diálogos dolorosos de tão artificiais e expositivos (“Ainda pago meus impostos. Para onde vai o dinheiro? Não existem mais exércitos“, diz o protagonista numa reunião escolar). Para citar um exemplo, ao ser interrogado por um robô, Cooper diz exatamente o seguinte para o mesmo: “Ainda se acha um fuzileiro naval? Fuzileiros navais não existem mais“. Contudo, nada me decepcionou mais que ver que, ao chegar num planeta constituído majoritariamente por água, a personagem vivida por Anne Hathaway imediatamente escancara o significado imensamente intrigante por trás de tal momento ao dizer que se trata da “essência da vida“. Assim sendo, o longa é tomado por um falatório físico/químico/quântico/sei-lá-o-que tão óbvio que acaba comprometendo o ritmo da narrativa e criando uma contradição entre as ações de Christopher Nolan: ao mesmo tempo em que o diretor exibe pretensões aparentemente promissoras, é professoral demais para ter real sucesso.

Da mesma forma, Nolan também falha ao tentar idealizar uma narrativa coesa que lide com uma quantidade tão vasta de conceitos dos mais profundos aos mais tolos, o que lamentavelmente dá origem a inúmeros furos de roteiro, soluções banais e ideias rasas. Entretanto, por mais que o roteiro fracasse em tentar conciliar racionalidade com emoção, é preciso destacar que os momentos mais dramáticos e intimistas da película costumam funcionar surpreendentemente bem (longe, é claro, das pretensões temáticas de Nolan), especialmente aqueles que giram entorno da relação terna e harmoniosa entre Cooper e Murph. Sob este aspecto, o desempenho absolutamente deslumbrante do excelente Matthew McConaughey acaba sendo fundamental para que o peso dramático da narrativa seja consolidado – e se há um momento realmente inesquecível e digno de Oscar em Interestelar, este certamente é aquele que envolve (sem spoilers) Cooper chorando copiosamente, sem que a câmera pare de se focar em suas reações por muito tempo.

Paralelamente, por mais que as habilidades interpretativas de Anne Hathaway sejam subaproveitadas numa personagem desinteressante, a ótima Jessica Chastain brilha numa performance densa e cativante como a versão adulta de Murph – aliás, se a forma como lida com papéis femininos costuma ser um problema recorrente na filmografia de Christopher Nolan, é uma admirável surpresa constatar que isso não se aplica a Interestelar, já que a narrativa praticamente depende da filha do protagonista para progredir; sem contar que se trata de uma personagem essencialmente intrigante, tanto como criança quanto como adulta. E se Christopher Nolan decepciona tanto com um roteiro que se perde nas próprias ambições, ao menos é admirável notar que, do ponto de vista técnico, o diretor se supera ao respeito a Física (que, devo admitir, conheço superficialmente – sou pavoroso como aluno de Ciências Exatas) de maneira deslumbrante ao jamais apresentar sonoridade nas tomadas passadas em meio à vastidão do espaço; mas nada é tão espetacular quanto um momento que envolve um buraco de minhoca (eu tentei não dar spoilers, e espero ter conseguido). Enquanto encerra o segundo ato da narrativa com uma fantástica montagem paralela que faz jus às feitas em seus trabalhos anteriores (repetindo a colaboração habitual com o excepcional Lee Smith), o cineasta também conta com uma fotografia magnífica e maravilhosamente detalhada de Hoyte van Hoytema ao passo que é apoiado por efeitos visuais convincentes e dignos do Oscar recebido.

Beneficiado por um design de produção acertadamente saudosista e retrô (os robôs pouco práticos servem como evidência), Interestelar tristemente fortalece uma preocupação que carrego desde O Cavaleiro das Trevas Ressurge: estaria Nolan, geralmente eficiente como contador de histórias intensas e criador de universos atraentes, se sabotando graças justamente à sua criatividade? Ou será que o prestígio estaria fazendo com que tal imaginação abrisse portas para a arrogância? Com tantos questionamentos intrincados promovidos por Interestelar, é uma pena que estes tenham sido aqueles que me acompanharam após o término da sessão.

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