Joy

Título Original

Joy

Lançamento

21 de janeiro de 2016

Direção

David O. Russell

Roteiro

David O. Russell

Elenco

Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Bradley Cooper, Diane Ladd, Édgar Ramírez, Virginia Madsen e Isabella Rossellini

Duração

124 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

David O. Russell, John Davis, Megan Ellison, Jonathan Gordon e Ken Mok

Distribuidor

Fox

Sinopse

Criativa desde a infância, Joy Mangano (Jennifer Lawrence) entrou na vida adulta conciliando a jornada de mãe solteira com a de inventora e tanto fez que tornou-se uma das empreendedoras de maior sucesso dos Estados Unidos.

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Joy: O Nome do Sucesso | Crítica

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Quando comentei o mediano Trapaça, comandando pelo mesmo David O. Russell do ótimo O Vencedor e do simpático O Lado Bom da Vida, afirmei que o fato de ter se tornado um dos “queridinhos” da Academia poderia ter despertado um desleixo e uma autoindulgência preocupantes na forma como o diretor conduzia seus novos projetos – e por mais que contasse com sua parcela de qualidades e passasse longe de ser um desastre, o filme estrelado por Christian Bale e Amy Adams (e outros nomes que virão a ser repetidos ao longo desta crítica) era esquecível e desperdiçava uma trama promissora numa narrativa preguiçosa, culminando num desapontamento que imediatamente me levou a desejar que o cineasta se recuperasse no futuro. Infelizmente, cerca de dois anos se passaram e a torcida se revelou insignificante: demonstrando que o prestígio vem diminuindo cada vez mais seu talento, O. Russell se entrega à obviedade e transforma Joy – O Nome do Sucesso numa experiência tematicamente vazia e que aparenta explorar ao máximo o conceito de melodrama.

Concebido como uma daquelas novelas norte-americanas (ou soap operas) abundantes em cafonice, o longa baseado numa história real retrata a jornada de Joy Mangano, uma dona de casa que se torna bem sucedida ao criar um esfregão que se torce sozinho. Sim, apenas isso mesmo. É difícil negar que se trata de uma premissa desinteressante e até tola – até porque, sejamos sinceros, não devem ter sido muitas as pessoas que já tiveram real interesse em saber como se deu a invenção do esfregão. Ainda assim, a fragilidade da trama poderia ser compensada caso contasse com o apoio de uma abordagem inventiva; o que tristemente não é o caso. Com isso, David O. Russell extrai o drama das situações que surgem durante a narrativa de forma altamente leviana e, no fim das contas, a impressão que fica quando a projeção chega ao fim é de que as duas horas anteriores não trouxeram nada ao espectador (a não ser dor de cabeça e frustração).

Escrito pelo próprio O. Russell, Joy ignora completamente o conceito de sutileza e naturalidade para se entregar à artificialidade das novelas mais clichês e bregas que se pode imaginar – e caso tenha sido justamente essa a ideia… bem, então foi uma péssima ideia. Assim, o roteiro não hesita diante da possibilidade de trazer personagens proferindo frases que qualquer imbecil saberia reconhecer seu potencial ofensivo de maneira melancólica (“Eu fiz Joy acreditar que era mais do que realmente era“). Diante de tamanho melodrama, o único resultado alcançado pelo longa é a pieguice absoluta – e, por mais sérios que soem, alguns diálogos chegam a despertar risadas involuntárias. Que solução o longa encontra para representar o fato de que a protagonista se sente numa prisão? Fazê-la dizer “Eu me sinto numa prisão“. Pois é. Como se não bastasse, há de um monte inconsistências lógicas nas atitudes dos personagens, que passam a apoiar ou a repudiar as ações de Joy dependendo das necessidades imediatas do roteiro.

Aliás, O. Russell tropeça ainda ao tentar incluir pequenos simbolismos que acompanham o crescimento da personagem-título, o que dá origem a sequências constrangedoras que envolvem, por exemplo, um pesadelo da protagonista onde sua vida se mescla com a novela assistida constantemente por sua avó e que ainda traz um funeral apenas para martelar na cabeça do espectador algo que já era óbvio. São metáforas constantes e infantis que se tornam ainda mais decepcionantes quando consideramos que vieram de um cineasta experiente – mas poucos momentos são piores que o instante em que Joy começa a exibir sinais de que foi iluminada por uma ideia brilhante (não é spoiler, pois obviamente faz parte da premissa do filme!): a personagem interrompe um curativo que está sendo feito em cima dos cortes em suas mãos e começa a repetir sozinha a frase “Um fio longo e contínuo!“, realizando também maneirismos peculiares e mantendo os olhos arregalados. Bastante sutil e original, não? Bom, talvez não tanto quanto mostrá-la se tornando “cheia de si” e cortando seus longos cabelos em frente a um espelho enquanto passa a vestir roupas de couro pretas e óculos escuros (o que, graças aos pôsteres do filme, não é spoiler).

Para piorar, o filme investe frequentemente em tentativas de humor que falham miseravelmente e tendem a gerar raiva ou embaraço, algo que consegue frustrar ainda mais do que a narração em off dispensável e que termina por corresponder a conceitos estupidamente bobos (quem viu entenderá a que me refiro). Já o elenco é, em sua maioria, confinado a personagens unidimensionais e que servem somente para um único motivo: orbitar a protagonista e posicionar-se contra ou a favor da mesma dependendo, como já foi dito, do que o roteiro necessita em determinadas circunstâncias. Já Jennifer Lawrence, por mais talentosa que tenha sido em outros projetos, sofre na pele de uma personagem cuja composição alterna estranhamente de acordo com cada cena: ora é insegura, ora é cheia de si. A indicação ao Oscar que recebeu representa um equívoco total e injustificável, sem contar que Lawrence não faz nada que já não tenha realizado em O Lado Bom da Vida Trapaça; e isso porque nem me dei ao trabalho de falar sobre a idade da atriz, já que a verdadeira Joy Mangano era uns dez anos mais velha na época em que o filme se passa.

Não que Joy não traga algumas (pouquíssimas) qualidades aqui e ali: o design de som é trabalhado de modo particularmente exemplar ao brincar com criatividade com canções e sons diegéticos, fazendo com que os mesmos sejam cortados subitamente de maneira intrigante e transcendam propositalmente as cenas que pertencem (ou seja: são inseridos em momentos onde não se encaixam no intuito de criar uma fusão entre diferentes trechos unidos pela montagem). Aliás, um dos maiores acertos de O. Russell como realizador aqui reside na seleção de músicas cantadas (não me refiro à trilha incidental, que é pavorosa), que cumprem de maneira satisfatória o que é requisitado pelas cenas que compõem e agradam pela boa qualidade. E, por piores que sejam seus papeis, Robert De Niro, Diana Ladd e Bradley Cooper se esforçam ao máximo para que desempenhem trabalhos eficientes e confiram alguma densidade aos personagens (sem sucesso neste segundo objetivo).

Lamentavelmente, são pontos positivos pequenos e que constam em baixas quantidades numa produção que, a princípio, se dispõe a celebrar as conquistas das mulheres ao longo da História recente, mas utiliza clichês e conceitos arcaicos para tentar alcançar seus objetivos – o que fica claro quando percebemos que, além de trazer como tema a criação de um tipo de produto de limpeza (ainda vistos como “femininos” pelos sexistas), se dispõe a caracterizar novelas como um passatempo reduzido ao público feminino.

Prejudicado ainda por um terceiro ato terrivelmente apressado e superficial, Joy é a prova definitiva de que David O. Russell perdeu seu brilho em meio aos numerosos prêmios que o cercaram nos últimos anos. Se vai reconquistá-lo, aí teremos que aguardar para descobrir. No momento, sei apenas que, da próxima vez que vir o nome do cineasta envolvido em algum projeto, não saberei de imediato se algo a ser celebrado ou temido.

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