Mad Max 2 (1)

Título Original

The Road Warrior

Lançamento

24 de dezembro de 1981

Direção

George Miller

Roteiro

George Miller, Terry Hayes e Brian Hannant

Elenco

Mel Gibson, Bruce Spence, Mike Preston, Max Phipps, Vernon Wells, Kjell Nilsson, Emil Minty, Virginia Hey, Arkie Whiteley, Steven J. Spears e Syd Heylen

Duração

96 minutos

Gênero

Nacionalidade

Austrália

Produção

Byron Kennedy

Distribuidor

Warner Bros.

Sinopse

Após vingar-se da morte de sua esposa e filho, nas mãos de uma gangue, Mad Max dirige nas estradas pós-apocalípticas da Austrália, afastando-se dos ataques de tribos nômades. Passando por um acampamento pacífico e liderado por Pappagallo, Mad Max pensa, primeiro, em furtar o seu óleo, porém logo se torna um defensor da comunidade, contra Humungus e seus capangas.

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Mad Max 2: A Caçada Continua | Crítica

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Dois anos após revelar ao mundo a realidade decadente onde um policial buscava vingar o assassinato de sua família e amigos no excelente Mad Max, George Miller o icônico Max Rockatansky de volta às telas. Apesar do longa de 1979 ter mantido por 19 anos o título de produção cinematográfica com o maior custo retorno da História (pagou um orçamento de A$ 400 mil com US$ 100 milhões internacionalmente), o desempenho do filme em solo norte-americano não foi satisfatório e a distribuidora Warner Bros. optou por lançar a continuação nos Estados Unidos como “The Road Warrior“.

Contando com um orçamento bem mais generoso que o do filme anterior, A$ 4.5 milhões, Mad Max 2: A Caçada Continua é considerado por muitos o melhor da franquia e foi um grande sucesso comercial, se tornando uma obra popular do Cinema de ação. O êxito da continuação foi tamanho que a pioneira no mercado de home video Vestron Video lançou o primeiro Mad Max com o slogan O eletrizante predecessor de The Road Warrior”. Das três primeiras produções estreladas pelo Guerreiro do Asfalto, há uma certeza: Mad Max 2 é indubitavelmente a mais influente e culturalmente significativa. E também é a melhor.

Quando temos visões do futuro pós-apocalíptico repleto de couro, truculência, loucura, areia e carros que elevavam o conceito de extravagância à enésima potência, é graças a Mad Max 2 e sua visão caótica de distopia. Se o filme inicial trazia uma história de vingança num futuro onde a sociedade era decadente e ameaçada por motoqueiros, a sequência traz uma abordagem cuja insanidade é infinitamente superior – já ouvi falar, inclusive, que o primeiro longa se passa no limiar do “fim do mundo” e o segundo ocorre logo após o holocausto nuclear que devastou a Terra. Faz sentido não apenas quando consideramos a discrepância estilística entre a película original e sua continuação, mas também a abertura de A Caçada Continua composta por uma narração explicativa ilustrada com cenas em preto e branco de tudo aquilo que levou a vida como conhecemos a um colapso, o holocausto em si e trechos do primeiro filme.

Se Mad Max já era notável por sua criatividade, The Road Warrior dá um salto gigantesco neste quesito e nos apresenta a uma distopia assombrosamente louca onde delírio é refletido em vilões que agem vestidos da forma mais espalhafatosa possível (com bundas sendo exibidas, diga-se de passagem) dirigindo veículos cujas aparências poderiam ser concebidas apenas se estes antagonistas tivessem tempo de sobra, já que são carros ridiculamente inventivos esteticamente e que provam o brilhantismo do design de produção de Mad Max 2. E isso lá representa alguma inconsistência ou embaraço? Claro que não! Se você, nobre leitor, estivesse vantajoso no futuro pós-apocalíptico e comandando um exército inteiro, não iria simplesmente ridicularizar tudo a sua volta ou ao menos demonstrar seu poder de forma satisfatoriamente chamativa e berrante? Bom… ao menos eu adoraria.

Inspirado ainda ao trazer personagens emblemáticos como o Menino-Fera (o melhor personagem infantil da História dos filmes de ação) e Lord Humungus, o longa conta com o talento habitual do fantástico cineasta George Miller, cuja influência de faroestes é mais clara que nunca nesta produção. Qualquer semelhança entre Mad Max 2 e o maravilhoso Os Brutos Também Amam, de 1953, não deve ser mera coincidência: assim como Shane, Max Rockatansky chega a um âmbito social, interage com este grupo e o defende da ameaça externa que pretende tomar algo de sua propriedade; embora as diferenças entre o forasteiro vivido por Alan Ladd e o Guerreiro do Asfalto encarnado por Mel Gibson existam e sejam gritantes. Contudo, Miller recupera do western não apenas características narrativas e/ou temáticas fortes, mas também a forma de registrar o que ocorre na tela através de enquadramentos claramente inspirados nos estilos de diretores consagrados dos faroestes, como aquele (para citar apenas um exemplo) que traz Max e o personagem vivido por Bruce Spence deitados com a barriga para baixo no alto de uma montanha observando uma locação ao longe utilizando um binóculo.

E já que citei Os Brutos Também Amam, é necessário destacar o ótimo roteiro de George Miller, Terry Hayes e Brian Hannant, que demonstra genialidade ao trazer um subtexto atemporal e que se torna ainda mais relevante na atualidade, criticando a postura imperialista dos países desenvolvidos. A atitude do grupo de Lord Humungus, que visa roubar a gasolina de uma resistência independente dos assassinatos a serem cometidos, pode ser facilmente comparável à política de George W. Bush após 11 de setembro de 2001 e outros casos semelhantes presentes ao longo da História (para provar o poder deste tipo de mensagem).

Mas poucas coisas impressionam mais em A Caçada Continua que a segurança com o qual George Miller coordena a ação: esforçando-se ao máximo numa época em que a computação gráfica não se fazia presente para facilitar a vida dos cineastas, o diretor impressiona com o cuidado absoluto com o qual criava sequências de perseguições grandiosas e complexas na base de efeitos práticos, e esta organicidade unida à energia conferida por Miller a tais momentos os tornam realistas. Neste processo, sentimos que estamos testemunhando perseguições ultraviolentas e absurdamente intrincadas de verdade, o que faz com que a empolgação sentida pelo espectador nessas horas seja ainda mais vigorosa – já ouvi falar de um dublê que teve de ficar horas sem se alimentar caso tivesse que entrar na cirurgia depois que sua cena fosse rodada. Para complementar, os planos criados por Miller nas perseguições impressionam maximamente pelo primor contido em tomadas complexas, como uma longa panorâmica feita durante o clímax da película; algo que, devo dizer, me levou a lamentar fortemente o uso de CGI quase que onipresente no Cinema de ação contemporâneo.

Claro que não poderia deixar de falar sobre um dos grandes atrativos de Mad Max 2: seu personagem-título. Encarnado por um Mel Gibson constantemente calado cujas poucas palavras refletem suas condições emocionais (a indiferença com relação aos outros), o Max Rockatansky deste segundo filme acaba sendo interessante graças à sutileza com a qual é tratado o seu passado traumático, algo resumido de forma eficaz com a quietude e com o comportamento grosseiro e objetivo em todas as situações que enfrenta. Da mesma forma, é fascinante constatar como George Miller evita transformar Max num herói invencível e convencional, já que vê-lo gravemente ferido e com dificuldades para andar é o mínimo que se espera de um policial depois que este capota com um caminhão (o máximo seria… vê-lo morto).

Criando uma visão distópica adoravelmente louca e bizarra, The Road Warrior faz seu sucesso valer a pena e resiste bravamente à passagem do tempo, sendo infinitamente superior à maioria dos filmes de adrenalina modernos. Bons tempos onde o uso de computação gráfica não era mais “importante” que a ação propriamente dita.

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