Me Chame pelo Seu Nome (1)

Título Original

Call Me By Your Name

Lançamento

18 de janeiro de 2017

Direção

Luca Guadagnino

Roteiro

James Ivory

Elenco

Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michael Stuhlbarg, Amira Casar, Esther Garrel, Victoire Du Bois, Vanda Capriolo, Antonio Rimoldi, Elena Bucci, Marco Sgrosso, André Aciman e Peter Spears

Duração

132 miniutos

Gênero

Nacionalidade

EUA/Itália/Brasil/França

Produção

Luca Guadagnino, James Ivory, Peter Spears, Emilie Georges, Rodrigo Teixeira, Marco Morabito e Howard Rosenman

Distribuidor

Sony Pictures

Sinopse

O sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai, chega.

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Me Chame pelo Seu Nome | Crítica

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É provável que alguns acusem o diretor Luca Guadagnino de ter feito um trabalho pouco inspirado em Me Chame pelo Seu Nome. Ambientado no interior da Itália sem desenvolver a trama de maneira elaborada e cheia de firulas narrativas, o filme se concentra única e exclusivamente no dia-a-dia de dois homens que co-protagonizam um breve romance ocorrido no meio das férias, sem se preocupar com reviravoltas, traições, múltiplas mudanças de locações e inúmeros diálogos que servem somente para evidenciar a mentalidade retrógrafa dos vilões versus o caráter progressista dos mocinhos. O que talvez muitos não compreendam, porém, é que o que torna Me Chame pelo Seu Nome tão especial é justamente o fato de enfocar com naturalidade uma relação homossexual sem se preocupar necessariamente com uma narrativa intrincada, aproveitando-se da rotina comum dos personagens a fim de ressaltar o quão real e plausível é o romance principal.
Baseado no livro homônimo de André Aciman, o roteiro de James Ivory se passa em 1983 e gira entorno de um adolescente judeu chamado Elio Perlman, que – como já foi dito – mora no interior da Itália. Filho de um professor de arqueologia, o garoto é introspectivo e se vê diante daquelas típicas autodescobertas da juventude; algo que ganha um peso ainda maior quando Oliver, um estudante mais velho, vem aproveitar o verão na casa dos Perlman. A partir daí, Oliver e Elio começam a se aproximar, formando então um relacionamento amoroso breve que é mantido em sigilo e dura até o fim das férias.
Comandado de maneira delicada e perspicaz por Luca Guadagnino (que, depois de Um Sonho de Amor e A Bigger Splash, encerra aqui uma espécie de “trilogia do desejo”), Me Chame pelo Seu Nome acerta ao contar uma história que, mesmo ambientada no início dos anos 1980, poderia funcionar igualmente nos dias atuais, o que reforça a ideia de que uma paixão (independente do gênero dos que estão envolvidos) é algo atemporal. Além disso, Ivory e Guadagnino sabem estabelecer muitíssimo bem a atmosfera na qual os personagens se encontram, construindo a rotina destes com calma e levando o espectador a observar vários planos longos e passagens desapressadas a fim de imergir na trivialidade daquelas personas.
Por outro lado, isto ocasionalmente prejudica o ritmo da projeção, que é alongado além do necessário e sofre em especial ao esticar demais a preparação para o relacionamento que surge entre Elio e Oliver (algo que só vem a surgir lá pela metade do filme). De todo modo, os problemas que Me Chame pelo Seu Nome sofre em seu andamento não se refletem em seus valores de produção – e embora não impressione do ponto de vista técnico, ao menos é admirável que o compositor Sufjan Stevens crie uma trilha sonora sempre eficaz e que o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom faça bom proveito das ótimas paisagens que estão à disposição.
Mas é claro que, se a dinâmica entre os dois protagonistas não funcionasse, o fracasso de Me Chame pelo Seu Nome seria iminente – algo que é felizmente contornado não apenas pela direção e pelo roteiro como também pelo elenco. Em primeiro lugar, James Ivory mostra-se admiravelmente cuidadoso na forma como apresenta os personagens, estabelece suas personalidades e introduz vários gestos e conversas que invariavelmente atraem ambos os sujeitos. Assim, Timothée Chalamet merece aplausos pela maneira minuciosa com que constrói o comportamento tímido, introvertido e inexperiente do jovem Elio, que exibe ao mesmo tempo um freio ininterrupto em algumas ações e uma propensão aos impulsos que, além de inevitáveis, são característicos desta fase da vida – e, neste caso, levam o garoto a se descobrir sexualmente.
O que nos traz ao catalisador destes impulsos: o galanteador Oliver. Vivido por Armie Hammer como uma figura charmosa e dona de uma personalidade magnética, o sujeito transmite desde o princípio uma confiança (refletida em seu senso de humor) que constantemente contrasta com a insegurança jovial de Elio. É por isso, inclusive, que os personagens tornam-se tridimensionais e conferem plausibilidade ao romance que dividem, pois é perfeitamente possível acreditar numa relação complexa e cheia de detalhes como aquela que une os dois. Se Elio começa como um menino que não parece ter vivido o bastante e, por isso, acaba sendo encantado pela personalidade intensa de Oliver, este se vê num pódio de autoestima, sente-se atraído pelas hesitações do garoto e descobre um lado vulnerável até então desconhecido por ele mesmo.
Dito isso, há uma cena em Me Chame pelo Seu Nome que certamente será discutida sempre que alguém mencionar este filme, tornando-se talvez um dos momentos mais comentados desta temporada de premiações – estou me referindo, é claro, àquela passagem que envolve um pêssego. Uns podem enxergar isto como uma maneira perfeita de simbolizar a relação entre Elio e Oliver; já outros alegarão que a sequência nada mais foi do que um nojo gratuito. De minha parte, confesso que aquilo não me soou atraente nem romântico, sem contar que não acrescentou nada particularmente significativo à forma como ambos os personagens são desenvolvidos.
Em compensação, quando a trama está prestes a terminar, Me Chame pelo Seu Nome volta a surpreender com uma sequência tocante onde Elio conversa com seu pai (interpretado por Michael Stuhlbarg com uma ternura sutil e pontual, porém indispensável). Por um instante, temi que o roteiro enfim se renderia à obviedade e denunciaria a homofobia de modo artificial – assim, foi uma surpresa constatar que a cena revelou-se delicada e cheia de afeto, indicando com naturalidade o quão verídico (e lindo) é o sentimento que houve entre Elio e Oliver.
Pois esta é a lógica geral de Me Chame pelo Seu Nome: mais do que uma história sobre amadurecimento, autodescobertas e relacionamento homossexual, este é um filme que fala sobre… amor. E o fato deste surgir entre duas pessoas que dividem o mesmo sexo é um detalhe adicional; o que realmente importa é que tanto Elio quanto Oliver viveram as férias mais intensas de suas vidas.

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