Minari 2020 (1)

Título Original

Minari

Lançamento

22 de abril de 2021

Direção

Lee Isaac Chung

Roteiro

Lee Isaac Chung

Elenco

Steven Yeun, Han Ye-ri, Alan Kim, Noel Kate Cho, Youn Yuh-jung, Will Patton, Scott Haze e Jacob Wade

Duração

115 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Christina Oh

Distribuidor

Diamond Films

Sinopse

Uma família coreano-americana se muda para uma fazenda no Arkansas em busca de seu próprio sonho americano. Em meio aos desafios dessa nova vida, eles descobrem a inegável resiliência da família e o que realmente faz um lar.

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Minari: Em Busca da Felicidade | Crítica

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De certa maneira, Minari não poderia ser um rival mais apropriado para Nomadland nesta temporada de premiações: pequenas em orçamento e em escala, ambas as produções lidam com personagens que se encontram, de uma forma ou de outra, atirados nas margens de uns Estados Unidos que passam longe de ser a “terra de oportunidades” vendida, através do imperialismo, como padrão de vida para o resto do mundo. E, se o filme de Chloé Zhao aponta como uma crise hipotecária (somada a uma profunda desigualdade social e estrutural) é capaz de desabrigar milhões de pessoas (tornando natural um disparo no nomadismo), o de Lee Isaac Chung é um retrato preciso de como não faz sentido correr atrás do “sonho americano” quando este rejeita a entrada total e pacífica de qualquer um que tenha nascido fora daqueles quase 10 milhões de quilômetros.

Escrito e dirigido por Lee Isaac Chung com base em suas próprias recordações de infância, Minari conta a história de uma família de imigrantes sul-coreanos que, na ânsia de realizar o sonho do pai Jacob de criar uma fazenda no Arkansas e se encaixar no “American way of life”, se muda para uma casa no interior do estado e logo começa uma plantação de legumes a fim de vendê-los para comerciantes em Dallas. Enquanto isso, a esposa Monica decide trazer sua mãe idosa, Soon-ja, para vir morar com a família, já que deixá-la sozinha pode ser um perigo – e, a partir daí, o filme se divide entre os esforços de Jacob para transformar sua fazenda em sucesso, o dia a dia da família tentando seguir os costumes de seus vizinhos norte-americanos e a relação entre Soon-ja e o neto David, que desde o princípio demonstra uma resistência enorme (daquelas que crianças criam a troco de nada) pela figura da avó.

Comandado por Chung com o apego de alguém que revisita memórias reais com carinho em vez de simplesmente ilustrar um roteiro de forma burocrática, Minari é uma obra que leva o espectador a compreender não apenas o bucolismo do cenário que rodeia os personagens (e, dentro disso, o cineasta não teme criar uma ou outra sequência mais idealizada, em câmera lenta e com a trilha melancólica de Emile Mosseri; afastando-se neste sentido, do realismo do filme de Chloé Zhao), mas também as dificuldades de uma família que, nascida no outro lado do mundo e criada numa cultura completamente diferente, custa a ser enxergada com “igual” pelas outras ao seu redor, já que, mesmo se entregando ao (maldito) “American way of life” (frequentando igreja; criando uma fazenda; assistindo aos programas de tevê locais; etc – só faltou o cachorro), ela ainda será enxergada por boa parte de seus vizinhos como uma peça que não se encaixa no tabuleiro e o próprio negócio montado por Jacob penará em função de sua inexperiência no ramo.

Neste sentido, a performance de Steven Yeun é perfeita não apenas ao encarnar o entusiasmo de Jacob ao chegar à casa nova, começar a se relacionar com os vizinhos e sentir que seus sonhos finalmente vão decolar, mas também a frustração que o acomete ao perceber que as coisas não serão do jeito como imagina, entrando em conflito até mesmo nas vontades/necessidades de sua própria família. Já Han Ye-ri cumpre a importante função de estabelecer Monica como uma figura bem mais ativa e determinada do que se esperaria do clássico papel de “dona de casa” que o estilo de vida do interior dos Estados Unidos costuma vender, impedindo que a personagem caia neste estigma, ao passo que a pequena Noel Kate Cho, como a mais velha dos dois filhos, surge num papel mais sutil, mas não menos importante de contraponto entre a inocência de David e a firmeza dos pais (não sendo à toa que ela eventualmente oriente o menino dentro de uma situação maior).

Ainda assim, o coração de Minari reside mesmo na relação entre David e sua avó: igualmente vulneráveis (o garoto sofre de uma doença respiratória; a avó tem a saúde cada vez mais abatida), porém distanciados pela idade e pela personalidade que a vida teve tempo de construir para cada um, ambos convivem dentro de uma relação totalmente humana e plausível (quem nunca viu uma criança não ir com a cara de um adulto, por mais gentil que este fosse, sem que houvesse qualquer motivo aparente?). Fazendo David soar como um menino real e repleto de energia (o que torna ainda mais triste o fato de sua doença impedi-lo de correr e brincar como gostaria), o estreante Alan Kim (que, espero, terá uma carreira brilhante pela frente) confere ao pequeno um olhar que convence ao oscilar entre a ingenuidade e uma antipatia tola – e, se lamentamos sua resistência à avó e torcemos para que esta passe logo, é porque Yuh-Jung Youn ajuda ao estabelecer Soon-ja como uma figura dotada de carinho, intensidade e doçura, sendo particularmente tocante que, ao ver Jacob prestes a castigar David por este tê-la desrespeitado, ela ainda assim interfira pedindo para que o garoto seja poupado.

E acredito que a maior prova de nosso apego pelos personagens (e, consequentemente, do sucesso de Minari) seja o fato de, ao final do filme, nos pegarmos aflitos por algo terrível que acontece (mesmo que a construção deste algo não seja das mais convincentes, já que é difícil aceitar que ninguém imaginaria o óbvio perigo de deixar aquela pessoa sozinha na casa) e torcermos para que ainda exista uma escapatória para a vida daquela família – uma família que, mesmo assistindo à derrocada de seu “sonho americano”, se mantém unida o bastante para resistir e, principalmente, constatar o quão banal era sonhar com aquilo.

Afinal, se forçar a ser norte-americano? Só porque o imperialismo incentivou? Para quê?

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