Missão Impossível Acerto de Contas Parte 1

Título Original

Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One

Lançamento

13 de julho de 2023

Direção

Christopher McQuarrie

Roteiro

Christopher McQuarrie e Erik Jendresen

Elenco

Tom Cruise, Hayley Atwell, Rebecca Ferguson, Vanessa Kirby, Ving Rhames, Simon Pegg, Esai Morales, Pom Klementieff, Mariela Garriga, Henry Czerny, Shea Whigham, Cary Elwes, Greg Tarzan Davis e Frederick Schmidt

Duração

163 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Tom Cruise e Christopher McQuarrie

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

Ethan Hunt e seu time IMF embarcam na missão mais perigosa até aqui: rastrear uma aterrorizante nova arma que ameaça toda a humanidade antes que caia nas mãos erradas. Com o controle do futuro e o destino do mundo em risco, além de antigos inimigos do passado de Ethan se aproximando, uma corrida mortal ao redor do mundo se inicia. Confrontado por misteriosos e poderosos inimigos, Ethan se vê forçado a considerar que nada é mais relevante do que essa missão – nem mesmo a vida das pessoas com quem ele mais se importa.

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Missão: Impossível – Acerto de Contas, Parte 1 | Crítica

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Toda Arte, por mais escapista ou industrializada que seja, reflete em si a época na qual foi concebida – seja através de um comentário social/político mais explícito, seja ao refletir uma tendência narrativa/estética que vigorava em seu tempo, seja ao espelhar certos detalhes das crenças e/ou do momento de vida que seu autor atravessava quando produziu aquela obra, etc. Não há como fugir: a reprodução imediata do contexto acerca de uma criação é algo inerente a esta – e, portanto, seria impossível cobrar que obras fossem analisadas num vácuo “atemporal”, num recorte que ignora o mundo e o tempo ao seu redor. Neste sentido, não é surpresa que Missão: Impossível – Acerto de Contas, Parte 1 chegue retratando o sentimento de pânico e incerteza que vem se desdobrando graças ao avanço cada vez maior da Inteligência Artificial. Para Tom Cruise, não há dúvida: os espetáculos que pagamos para ver nas telonas de cinema são de autoria humana – e não há máquina que a substitua. E eu concordo.

Novamente dirigido por Christopher McQuarrie, que assumiu o comando da série em Nação Secreta e a alçou a um nível ainda mais espetacular em Efeito Fallout, este Acerto de Contas, Parte 1 é (como Piratas do Caribe 2 e 3, Matrix 2 e 3, De Volta para o Futuro 2 e 3, Harry Potter 7.1 e 7.2, Velozes e Furiosos 10 e 11, Aranhaverso 2 e 3, etc) mais uma obra a contar uma história supostamente tão grandiosa que necessita de dois filmes para ser narrada – e, até o momento, a Parte 2 está prevista para estrear daqui a um ano. Escrito pelo próprio McQuarrie e por Erik Jendresen (da minissérie Band of Brothers), o roteiro traz o espião Ethan Hunt e seus parceiros Luther e Benji (todos da agência IMF) tendo que se aliar à misteriosa ladra Grace em busca de dois pedaços de uma chave ultra tecnológica que, acionada, dá ao seu portador o controle de uma inteligência artificial capaz de definir os rumos da Humanidade – algo que, obviamente, atrairá a atenção de diversas pessoas (de líderes de organizações mundiais até ladrões do submundo) que querem adquiri-la mesmo sem terem ideia do alcance de seu poder.

Hábil ao construir uma atmosfera de urgência que perdura do início ao fim da projeção, Christopher McQuarrie estabelece um senso de iminência, como se algo que não sabemos bem o que é estivesse sempre à espreita, que se manifesta até mesmo nos momentos mais pausados da narrativa – e uma qualidade que o diretor demonstra ter aqui é a de conferir dinamismo e intensidade a sequências que poderiam facilmente tornar-se aborrecidas ou entediantes (como todas as que envolvem indivíduos sentados em salas conversando e/ou explicando detalhes da trama), enfocando, por exemplo, o longo depoimento de certo personagem através de planos holandeses e cortes constantes que ajudam a imprimir tensão e/ou inquietação ao que é mostrado. Por outro lado, é difícil chegar ao fim de Acerto de Contas, Parte 1 sem sentir que os 163 minutos de projeção representam um exagero – ainda mais considerando que a trama em questão é relativamente simples, o que me faz custar a acreditar que ainda haja material para ser explorado em outras duas/três horas.

De todo modo, sempre que Missão: Impossível 7 parece prestes a perder o foco, a dupla McQuarrie-Cruise volta a nos surpreender com algum feito extraordinário – e, levando em conta o alto padrão que a série estabeleceu até aqui, este sétimo capítulo não desaponta em termos de ação. De tiroteios entre espiões até uma longa perseguição de carro (que envolve heróis, vilões e policiais atrás dos primeiros, complicando ainda mais a missão de Hunt), McQuarrie sempre faz questão de retratá-los de forma visualmente clara, inteligível, entendendo que não adianta pensar em coreografias e dinâmicas bem elaboradas se estas terminarem retalhadas por um excesso de cortes e movimentos – e, assim, a ação vista aqui é sempre registrada em planos que mostram os atores da cabeça aos pés e que duram tempo suficiente para que vejamos (e apreciemos) seus feitos em cena, fazendo funcionar até mesmo uma sequência de luta que ocorre num corredorzinho apertado, espremido entre dois prédios, e que tinha tudo para tornar-se confusa em função do espaço reduzidíssimo. Além disso, McQuarrie consegue a proeza de criar sequências tensas o bastante para nos fazer temer pelo destino dos personagens e, ao mesmo tempo, adicionar uma ou outra piada que funciona sem quebrar a imersão do todo – algo que se torna mais evidente no clímax, que leva o espectador à beira da poltrona, mas também lhe provoca o riso graças ao absurdo da situação ou, melhor ainda, à imagem de Ethan Hunt entrando desajeitadamente pela vidraça de um trem.

Imagem esta que, claro, não seria tão divertida se não fosse a entrega física de Tom Cruise ao papel, emprestando (como de costume) intensidade a cada olhar, a cada inflexão e a cada respiração pesada de Ethan Hunt – e, se há uma acusação que nunca deve ser feita a Cruise, é a de atuar no piloto automático. O mais interessante, contudo, é perceber como a postura e a disposição do astro (que o levam, inclusive, a dispensar dublês a fim de sempre rodar suas próprias cenas) lhe permitem encontrar/explorar um timing cômico que, além de eficiente, serve também para tornar Hunt ainda mais humano e vulnerável, sendo notável que, ao executar uma peripécia absurda, o herói constantemente pare, hesite, demonstre não acreditar no que está prestes a fazer e termine impressionado ao notar que sua estratégia deu certo (algo que Cruise e McQuarrie certamente aprenderam com Harrison Ford e Steven Spielberg, que faziam os eventos de Indiana Jones soarem ainda mais espetaculares graças ao espanto do herói diante das próprias ações). Enquanto isso, Ving Rhames e Simon Pegg retornam aos respectivos papeis com a segurança de quem, a esta altura do campeonato, já os conhece de trás para frente, encarnando bem o medo de Luther e Benji diante de uma ameaça que eles sabem enfrentar, mas que jamais conseguem ver e que sempre parece estar vários passos à frente de qualquer humano que cogite combatê-la.

Aliás, é justamente por saber evocar tamanha urgência a partir de uma ameaça “invisível” que acaba sendo um pouco frustrante que o roteiro ainda assim se sinta obrigado a criar um vilão físico, de carne-e-osso, para representá-la, como se não tivesse disposição (ou coragem) de apostar totalmente suas fichas na ideia de um antagonista imaterial – o que, no entanto, não significa que Esai Morales não faça um ótimo trabalho ao interpretá-lo, conferindo ao terrorista Gabriel um ar de ameaça constante, uma arrogância que ajuda a torná-lo ainda mais odioso e uma habilidade nas lutas (sejam socos, chutes ou duelos de faca/espada) que, no fim das contas, contribui para fazê-lo soar como alguém de fato invencível. E se Pom Klementieff adiciona intensidade, imponência física e um certo grau de mistério à assassina Paris (uma figura cartunesca que surge quase como uma coadjuvante de John Wick trazida para o contexto de Missão: Impossível – o que, sim, é um elogio), Hayley Atwell traz carisma, bom humor e dimensão dramática a Grace, embora (e aqui cabe um aviso de spoiler que valerá até o fim deste parágrafo) seja decepcionante perceber como o roteiro cria e insere a ladra apenas para facilitar a tarefa de eliminar a Ilsa Faust de Rebecca Ferguson (ou, para usar a expressão cunhada pela escritora Gail Simone, “mandá-la para a geladeira”) e imediatamente trocá-la por outra mulher, gerando a impressão de que as personagens femininas da trama são facilmente substituíveis e que, claro, só pode haver uma moça forte entre aqueles homens.

Dito isso, Missão: Impossível 7 ainda assim é eficaz o bastante para equilibrar seus tropeços. Coeso a ponto de articular um terceiro ato que, mesmo deixando a porta aberta para a Parte 2, consegue soar como um clímax sólido para aqueles eventos específicos, Acerto de Contas, Parte 1 é uma obra que, mesmo inferior a Efeito Fallout, funciona por demonstrar que, em meio a controvérsias cada vez maiores sobre a entrada da Inteligência Artificial nas produções cinematográficas e sobre a hipótese absurda de se substituir autores por máquinas e algoritmos, as melhores e mais impressionantes aventuras serão para sempre aquelas concebidas por mãos e mentes humanas; por artistas que, como tais, jamais poderão ser trocados por zeros e uns digitados num computador.

Assista também ao vídeo que gravei sobre o filme:

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