Mogli

Título Original

The Jungle Book

Lançamento

14 de abril de 2016

Direção

Jon Favreau

Roteiro

Justin Marks

Elenco

Neel Sethi e as vozes de Bill Murray, Ben Kingsley, Idris Elba, Christopher Walker, Lupita Nyong’o, Giancarlo Esposito, Scarlett Johansson, Garry Shandling, Brighton Rose, Jon Favreau, Sam Raimi, Russell Peters, Madeleine Favreau e Sara Arrington

Duração

105 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Jon Favreau e Brigham Taylor

Distribuidor

Disney

Sinopse

A trama gira em torno do jovem Mogli (Neel Sethi), garoto de origem indiana que foi criado por lobos em plena selva, contando apenas com a companhia do urso Baloo (Bill Murray) e da pantera negra Bagheera (Ben Kingsley), sem nenhum contato com humanos. O menino é amado pelos animais, mas visto como uma ameaça pelo temido tigre Shere Khan (Idris Elba), que está decidido a matá-lo. Com a família de lobos ameaçada, Mogli decide se afastar. Baseado na série literária de Rudyard Kipling.

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Mogli: O Menino Lobo | Crítica

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Quando pensamos em reimaginações live-action de clássicos que já renderam desenhos animados pela Disney, logo constatamos que a maioria delas optava por investir num clima mais sombrio que o habitual (numa decisão que, a princípio, não deve ser descrita como errada, já que as raízes de Alice no País das MaravilhasBranca de NeveCinderelaChapeuzinho Vermelho e etc eram consideravelmente adultas). Assim, seguir um caminho similar poderia representar a alternativa mais óbvia e fácil para todas as reinterpretações “disneyanas” – felizmente, graças aos esforços de Jon Favreau (de Elf: Um Duende em Nova YorkZathura, ChefCowboys & AliensHomem de Ferro e sua continuação), esta nova versão de Mogli – O Menino Lobo serve um respiro em meio a tamanha sobriedade e surge como um entretenimento ágil que se torna ainda mais animador graças ao seu imenso otimismo e carisma.

Roteirizado por Justin Marks com base nos contos de Rudyard Kipling publicados em revistas e que renderam diversas adaptações para HQs e Cinema (entre elas a ótima animação de 1967), o filme narra aquela história que já conhecemos: ao ser encontrado pela pantera Bagheera, o garoto Mogli é criado por uma alcateia de lobos e, após alguns anos, se vê obrigado a partir em busca do Vale dos Homens para escapar da ameaça de Shere Khan, um tigre que abomina seres humanos e que prontamente se mostra interessado em devorar o protagonista. Nesta jornada em busca da civilização, o “menino lobo” torna-se amigo do urso Baloo e cruza com um exército de elefantes, com a cobra Kaa e com o orangotango Rei Louis; que, aqui, é gigante ao ponto de fazer King Kong se sentir intimidado. De qualquer forma, o grande perigo a ser enfrentado por Mogli é mesmo Shere Khan, que não pensa duas vezes antes de cometer brutalidades e quebrar a chamada “Lei da Selva”.

Demonstrando uma sabedoria exemplar ao estabelecer o tom da narrativa, Jon Favreau mantém uma leveza que tende a transformar Mogli num divertimento “para toda a família” agradável e que não se trai em função de seus momentos mais macabros (como a sequência com a cobra Kaa); aliás, é admirável que o cineasta consiga criar tensão e fazer de Shere Khan um vilão genuinamente intimidador num projeto tão lúdico quanto este. Como consequência, o longa soa prazeroso e alegre sem deixar de oferecer riscos reais à trajetória do herói – que, por sua vez, é retratado como um menino cativante e altruísta que sempre usa seus talentos “humanos” em prol do bem-estar alheio. Ainda assim, ressalvas podem ser feitas a Neel Sethi: por um lado, é impossível negar que seu desempenho é bastante eficaz e adorável para um ator que não contracenou com ninguém; em contrapartida, aqui e ali Sethi parece estar aborrecido ou no piloto-automático (e o sarcasmo que envolve a pergunta “Quer dizer então que precisaremos reverenciar os búfalos?” só não é mais artificial que seu uivo pavoroso).

Já o restante do elenco cumpre sua função de maneira impecável: enquanto Scarlett Johansson transforma Kaa numa figura cujo poder de sedução está inteiramente concentrado em sua voz suave e reconfortante, Christopher Walker se diverte representando o quão acomodado e confortável é o Rei Louis através de alterações e ondulações em seu tom. E se infelizmente há pouco espaço concedido a Giancarlo Esposito (Breaking Bad) e Lupita Nyong’o (que vem sendo subaproveitada por Hollywood mesmo depois de ter vencido o Oscar por 12 Anos de Escravidão), Ben Kingsley caracteriza Bagheera como uma pantera cuja experiência é tão notável quanto o apreço que sente pelo protagonista. Por fim, Bill Murray (o segundo dos Caça-Fantasmas originais a emprestar sua voz a um urso computadorizado) ilustra Baloo como um indivíduo sarcástico e cuja malandragem não o torna menos amigável (e me encanta o fato dele descrever a “Lei da Selva” como uma “propaganda”), ao passo que Idris Elba transmite toda a imponência que consolida Shere Khan como um vilão tão hostil e perigoso – além disso, o roteiro acerta ao fazer com que as motivações do antagonista revelem-se claras e, até certo ponto, compreensíveis.

Mas claro que estes personagens não funcionariam tanto se o talento dos voice actors não fosse correspondido com o mesmo grau de brilhantismo por parte da equipe técnica – e no que diz respeito aos valores de produção, Mogli é um espetáculo inquestionável: cuidadosos na composição de detalhes que corroboram para que os animais soem fisicamente realistas, os animadores merecem inúmeros aplausos pela fisicalidade e fluidez existentes em cada uma das criaturas vistas ao longo da projeção, desde os pelos molhados de Baloo até os movimentos minuciosos de Kaa (e de todos os outros personagens digitais). E se o compositor John Debney é digno de nota por reconstituir e aprimorar a canção “Somente o Necessário”, a edição de som é inteligente nas táticas que usa para enriquecer a obra de modo geral (notem como a inclusão de mini-rugidos durante uma fala de Shere Khan contribuem para que ele se torne mais ameaçador).

Beneficiado também pela montagem de Adam Gerstel e Mark Livolsi, que mantém a narrativa sempre dinâmica e ágil (embora não consiga disfarçar seu tom episódico), Mogli só tropeça ocasionalmente na interação entre o “menino-lobo” e Bagheera, que nunca soa afetiva como na animação de 1967. De todo modo, estes pecados são minúsculos diante do excepcional design de produção elaborado por Christopher Glass (que imagina a floresta e as locações como ambientes lúdicos e grandiosos) ou da fabulosa fotografia de Bill Pope (que alterna entre a claridade do sol e sombras temíveis dependendo do estado emocional do protagonista). Mas o maior mérito é mesmo de Jon Favreau, que, graças ao seu trabalho otimista e esplendoroso, transformou este projeto num longa surpreendentemente divertido, leve e simpático.

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