O Destino de uma Nação (1)

Título Original

Darkest Hour

Lançamento

11 de janeiro de 2018

Direção

Joe Wright

Roteiro

Anthony McCarten

Elenco

Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup, Stephen Dillane, Nicholas Jones, Richard Lumsden, Jeremy Child e Samuel West

Duração

125 minutos

Gênero

Nacionalidade

Inglaterra

Produção

Tim Bevan, Lisa Bruce, Eric Fellner, Anthony McCarten e Douglas Urbanski

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a encarar um de seus maiores desafios: tomar posse do cargo de Primeiro Mnistro da Grã-Bretanha. Paralelamente, ele começa a costurar um tratado de paz com a Alemanha nazista que pode significar o fim de anos de conflito.

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O Destino de uma Nação | Crítica

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A história de Winston Churchill certamente poderia render bons resultados no Cinema. Trata-se de um sujeito que, ao substituir Neville Chamberlain como primeiro-ministro do Reino Unido enquanto Adolf Hitler se tornava uma ameaça cada vez maior, apresentou propostas radicais que muitos questionaram, bateu de frente com os que estavam ao seu redor a fim de defender seus princípios, foi tido como louco por alguns que já tinham perdido a esperança e encorajou a nação – se não o mundo inteiro – a não se render ao mal do nazismo. Claro que suas ações e ideologias podem não ser compactuadas por todos, mas é difícil negar que só a vida de Churchill já consistiria em uma premissa interessante para um filme – e é uma pena, portanto, que O Destino de uma Nação jamais faça jus a essa ideia, tomando como base um roteiro terrivelmente tolo e transformando a vivência de seu protagonista em uma cinebiografia cafona, monótona e nada inspiradora.

Escrito de maneira aborrecida e esquemática pelo mesmo Anthony McCarten que reencenou a vida de Stephen Hawking em A Teoria de Tudo (outro roteiro que não era grande coisa), O Destino de uma Nação enfoca os acontecimentos de maio de 1940, quando Winston Churchill assumia o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido (na época governado pelo rei George VI) e buscava um meio de solucionar a tensão ocorrida na ilha de Dunquerque. Assim, o filme acompanha as hesitações, os conflitos e as insistências que Churchill preservou até que enfim pôs em prática a Operação Dínamo, que conseguiu resgatar mais de 300 mil aliados até então encurralados pelo exército nazista – algo que Christopher Nolan mostrou recentemente em Dunkirk.

Aliás, a primeira grande decepção aqui é constatar como o diretor Joe Wright (do ótimo Desejo e Reparação) conduz a narrativa sem estabelecer qualquer tipo de intensidade ou energia sentimental, resultando em uma experiência incrivelmente fria e distante que nunca leva o espectador a sentir o clima de tensão que é iminente numa situação como a que acontecia tanto no Reino Unido quanto em Dunquerque (e no resto do mundo). Pior do que o tédio, no entanto, é suportar o grau de artificialidade que há na carpintaria dramática do filme, que abraça o conceito de água com açúcar sem reservas: caindo frequentemente na pieguice, este é o tipo de longa que reconhece que o espectador provavelmente foi assisti-lo na expectativa primordial de ver o protagonista em cena (afinal, estamos falando de uma figura histórica poderosa interpretada por um dos favoritos ao Oscar). Assim, Wright se entrega ao exagero logo na apresentação do personagem principal, empregando múltiplos planos-detalhe, exibindo a voz do indivíduo antes de revelar seu rosto, adotando uma iluminação sombria que só permite que vejamos uma face quando o charuto é aceso e reforçando, por fim, a ideia de que o Churchill desta produção é mais um ícone do que um ser humano.

O cúmulo, porém, é atingido somente no terceiro ato, quando o roteiro decide incluir (sem spoilers) uma longa sequência envolvendo um metrô – e, independente de ter ou não ocorrido de fato, a passagem resume bem todos os problemas de O Destino de uma Nação, já que atinge níveis espantosos de sentimentalismo barato. De qualquer forma, não sei por que ainda pude me surpreender com um roteiro medíocre como o de Anthony McCarten, que investe numa série de diálogos expositivos que dificilmente sairiam da boca de qualquer pessoa, mal se dá ao trabalho de enfocar a situação que gira entorno dos personagens e nem se preocupa em desenvolver os coadjuvantes, relegando todos a meros rostos conhecidos ou muletas apenas ocasionais para o arco do protagonista (desta forma, torna-se injusto criticar os desempenhos de Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn e Lily James, pois eles simplesmente não têm muito o que fazer nos respectivos papeis).

Dito isso, a performance de Gary Oldman (que vem sendo apontada como a mais forte nesta temporada de premiações, seguida de perto pela de James Franco em Artista do Desastre) merece algum reconhecimento, já que o ator faz um esforço árduo para conferir alguma dimensão a Winston Churchill. Resgatando com perfeição o olhar acalorado, a postura física arqueada, os maneirismos exaltados (notem a pancada lenta que ele dá numa mesa) e a dicção embargada (como se sempre estivesse com algo salivando na boca), Oldman põe à prova seu talento para gritar e, com isso, traz uma intensidade que tem tudo a ver com o sujeito (o tom da sua voz ao dizer “You cannot reason with a tiger when your head is in its mouth!” é impecável). É graças ao ator que Churchill quase soa como uma persona concebível – e é lamentável que, como a cinebiografia que se propõe a ser, o roteiro peque ao humanizar o indivíduo no qual se concentra. Com isso, o personagem central desta produção nada mais é que um beberrão rabugento e grosseiro que, entre um charuto aqui e um discurso fabuloso ali, tem uma ideia questionada por todos ao seu redor, mas que ele defenderá até o fim por conta de uma confiança que às vezes parece pura teimosia – e o receio que obviamente sente é resumido através de um único “Estou morrendo de medo“, sem nenhum desenvolvimento além disso.

Para concluir o festival de excessos, O Destino de uma Nação é profundamente brega também em seus valores de produção, que o tempo todo aspiram a uma grandiosidade que foge de qualquer naturalidade. É triste, por exemplo, constatar como o diretor de fotografia Bruno Delbonnel (que impressionou em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) se desespera tanto na hora de criar imagens impactantes que, para isso, acaba sabotando o bom trabalho da designer de produção Sarah Greenwood; algo que fica claro ainda na primeira cena do filme, quando o Parlamento surge encoberto por sombras que, além de impedirem que o espectador aprecie a recomposição de época, me levaram a questionar como alguém pode caminhar tranquilamente num espaço escuro como aquele (aliás, é irônico que o título original seja Darkest Hour). Em compensação, se a trilha sonora de Dario Marianelli tropeça ao fugir de qualquer sutileza (não há um traço da inteligência que o compositor exibiu em Desejo e Reparação, quando utilizou o som da datilografia a fim de estabelecer um tema inusitado para a personagem de Saoirse Ronan), ao menos os responsáveis pela maquiagem merecem aplausos, pois conseguem transformar Gary Oldman num Winston Churchill convincente sem apelar para exageros típicos que serviriam mais como distração do que como ornamento.

Contando ainda com piadinhas dispensáveis e cenas que acabam sendo involuntariamente engraçadas (como aquela em que o protagonista age feito o Batman ao subitamente sumir de um carro sem que o motorista perceba), O Destino de uma Nação é um longa tão homogeneizado do ponto de vista dramático que até mesmo as sequências concebidas com a óbvia intenção de entrar para um hall dos “momentos mais inspiradores do Cinema” acabam soando esquecíveis e intercambiáveis. É, em resumo, uma obra cuja chatice é igualada somente por sua cafonice – e não importa se Winston Churchill é uma figura com a qual simpatizo ou antipatizo; o fato é que a vida deste homem deveria render, no mínimo, um filme interessante.

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