Bombshell

Título Original

Bombshell

Lançamento

16 de janeiro de 2020

Direção

Jay Roach

Roteiro

Charles Randolph

Elenco

Charlize Theron, Nicole Kidman, Margot Robbie, John Lithgow, Kate McKinnon, Connie Britton, Rob Delaney, Mark Duplass, Liv Hewson, Allison Janey, Malcolm McDowell, Brigette Lundy-Paine, Katie Aselton, Nazanin Boniadi, Andy Buckley, Michael Buie e P. J. Byrne

Duração

119 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Jay Roach, Charlize Theron, Aaron L. Glibert, Robert Graf, Michelle Graham, Charles Randolph, Margaret Riley, AJ Dix e Beth Kono

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

Um gigante do telejornalismo e antigo CEO da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow) tem seu poder questionado e sua carreira derrubada quando um grupo de mulheres o acusam de assédio sexual no ambiente de trabalho.

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O Escândalo | Crítica

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O Escândalo é o que acontece quando uma pessoa – no caso, o diretor Jay Roach – que não conhece o assédio sexual nem faz a menor ideia de como suas vítimas procedem em relação a este decide fazer um filme sobre o assunto. Sim, as intenções do cineasta podem ser as melhores possíveis, porém o fato de naturalmente não compreender a realidade das mulheres que vivem sendo submetidas a situações constrangedoras (na rua, no trabalho ou nas redes sociais) em função de suas aparências, temendo a constante luta de poder patrocinada pelos homens ao seu redor, é determinante em uma narrativa como esta. Assim, não é de se espantar que o debate levantado pela obra jamais ganhe o peso que merecia – afinal, falta ao orador responsável por conduzi-lo a experiência de vida para fazê-lo.

Escrito por Charles Randolph (A Grande Aposta), O Escândalo se passa em 2016 e enfoca o dia a dia das jornalistas da Fox News, uma emissora conhecida por seu alinhamento com a extrema-direita conservadora. Na época, inclusive, a eleição de Donald Trump já vinha se tornando uma realidade cada vez mais iminente (mesmo que, no fim das contas, sua vitória ainda tenha representado um choque, já que Hillary Clinton parecia estar na dianteira e chamar um cara como Trump de “presidente” soava absurdo demais para ser verdade). No meio deste cenário, no qual o candidato republicano vivia ofendendo a repórter Megyn Kelly no Twitter (como é seu modus operandi até hoje, por sinal), o poderoso CEO da Fox News, Roger Ailes, mantém um comportamento terrivelmente predatório diante das mulheres que trabalham na emissora, assediando-as e explorando seus corpos ao vivo. Mas aí, chega um dia em que a âncora de telejornal Gretchen Carlson, há pouco demitida da Fox News, resolve expor sua história de assédio sexual para o mundo, encorajando várias outras vítimas de Ailes a fazerem o mesmo.

Já começando de forma equivocada ao adotar uma abordagem inspirada no estilo particular Adam McKay (A Grande Aposta e Vice) para contar sua história, O Escândalo constantemente usa esta influência como mera muleta narrativa, como se tivesse preguiça de apresentar as informações básicas da trama de forma orgânica e apenas apelasse para um recurso que possibilitasse diálogos mais óbvios – assim, em vez de mostrar com calma o cotidiano das funcionárias da Fox News e como a empresa funciona de modo geral, o filme prefere trazer a jornalista Megyn Kelly “quebrando a quarta parede” (ou seja: falando diretamente com o público) e dizendo da boca para fora todas as informações necessárias, reduzindo, portanto, a estética adotada por Jay Roach a um didatismo bobo. A mesma lógica se aplica, inclusive, aos diálogos frequentemente expositivos que o roteiro de Charles Randolph emprega e que são filmados por Roach de forma igualmente tola, reduzindo todo o conflito entre Trump e Kelly, por exemplo, a uma cena da filha da jornalista avistando um fotógrafo no quintal, a dois ou três momentos em que um imbecil grita “Trump 2016” ao seu redor e… bem, a um monte de tweets maldosos pipocando aleatoriamente na tela.

Não que Roach costume ser um cineasta sutil (seu mediano Trumbo: Lista Negra, em especial, comprova isto), mas, aqui, seus esforços atingem um novo patamar de obviedade – e de que adianta sugerir alguma ambiguidade moral por parte de Gretchen Carlson se esta será resumida a uma cena na qual seu conservadorismo é atacado por uma mãe em um supermercado e nunca mais questionado novamente? No entanto, o pior é perceber como o desconhecimento de Roach acerca dos temas que retrata o leva a confundir “denúncia de assédio sexual” com “exploração dos corpos das atrizes com quem trabalha” – e há um momento específico no qual isto se torna particularmente óbvio (e problemático): aquele que traz a jornalista (fictícia) Kayla Pospisil tendo que levantar o short e mostrar a calcinha para o chefão Roger Ailes; algo que Roach ilustra através de um plano-detalhe terrivelmente objetificador da vulva de Margot Robbie (que interpreta Pospisil).

Em compensação, se há um elemento que salva O Escândalo, este é o bom trabalho de suas atrizes, que, ao menos, conseguem bons resultados mesmo sabotadas por um roteiro que mal consegue estabelecer as personas de seus papeis: Megyn Kelly, por exemplo, oscila desajeitadamente entre “vítima que teme a possibilidade de perder o próprio emprego” e “jornalista consciente e capaz de encorajar suas colegas a denunciarem os crimes cometidos contra elas”, só não se tornando uma caricatura inconsistente graças à performance de Charlize Theron, que consegue conferir alguma coerência interna às ações da personagem. Já Nicole Kidman pouco tem a fazer a não ser… retratar as opiniões polêmicas de Gretchen Carlson com força e convicção (o que se reflete, ao menos, na expressão firme que ela exibe ao revelar sua história de assédio ao mundo), ao passo que Margot Robbie estabelece Kayla Pospisil como uma profissional cuja ingenuidade (aliada à pouca experiência profissional) torna a situação constrangedora na qual é submetida ainda mais dolorosa.

Ocasionalmente trazendo uma ou outra fala específica que acerta ao retratar como o assédio sexual e o abuso de poder em geral tendem a fazer suas vítimas se sentirem isoladas e incertas em relação aos seus próprios destinos (há um momento, por exemplo, no qual Pospisil até tenta denunciar o abuso que sofreu para uma colega/amiga, mas descobre estar sozinha depois que esta pede para “não ser envolvida na situação”), O Escândalo é uma obra que poderia ser memorável caso fosse comandada por alguém que entendesse um pouquinho dos assuntos que está discutindo. Como não é o caso, o que resta é um filme que não sabe sequer aonde pretende chegar com suas próprias decisões estilísticas e temáticas.

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