Já houve um tempo em que a série Pânico era um raríssimo caso de franquia de terror que permanecia eficiente e imaginativa ao longo de vários anos. Concebida por Wes Craven como uma sátira às fórmulas e convenções dos slasher movies (subgênero catapultado nos anos 1970 com O Massacre da Serra Elétrica e Halloween e aprimorado na década de 1980 por Sexta-Feira 13 e, claro, pelo próprio Craven em seu A Hora do Pesadelo), a saga estrelada por Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette conseguiu manter, nas três continuações que sucederam o ótimo original de 1996, uma propensão à metalinguagem que se intensificava a cada novo capítulo e que servia para levar as brincadeiras com o gênero a níveis cada vez mais inusitados – e, mesmo em seus momentos menos inspirados, a série Pânico ainda era, no mínimo, divertida.
Infelizmente, este tempo foi há mais 12 anos e ocorreu quando Wes Craven ainda era vivo (seu último trabalho foi justamente Pânico 4, de 2011). Escrito pelos mesmos James Vanderbilt e Guy Busick que roteirizaram o capítulo anterior (e também Casamento Sangreto, penúltimo filme dos diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett), este Pânico 6 volta a se concentrar nas irmãs Sam e Tara Carpenter, que, depois de sobreviverem aos ataques em Woodsboro no longa passado, agora se mudaram para Nova York – no caso de Tara, com o objetivo de estudar na Universidade Blackmore, ao passo que Sam faz companhia à irmã enquanto tem de lidar com as teorias conspiratórias que criaram sobre ela na Internet. Eis que, mais uma vez, um maluco misterioso com máscara de Ghostface aparece para aterrorizar as meninas, atacar seus melhores amigos, forçar a repórter Gale Weathers a voltar à ação e… estou pensando se há alguma novidade aqui a não ser o fato de a trama agora se situar em outra cidade.
Se bem que, pensando bem, nem isso pode realmente ser considerado uma “novidade”, já que, embora a ideia de transportar o cenário da franquia da cidadezinha de Woodsboro para uma megalópole como Nova York seja inquestionavelmente promissora por permitir que a série respire novos ares (a última vez que isso aconteceu foi em Pânico 3, quando os personagens se deslocaram para Los Angeles), a verdade é que os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett não extraem absolutamente nada desta nova ambientação – ou por falta de imaginação, ou por pura incapacidade, ou… por ambas. Assim, por mais que Nova York seja um espaço notório por sua imensidão e um dos cartões-postais mais reconhecidos que existem (quem não seria capaz de reconhecer seus principais pontos turísticos mesmo sem nunca tê-los visitado?), na prática Pânico 6 se restringe, na maior parte do tempo, a salas apertadas, a quartinhos diminutos e/ou a banquinhos de jardins idênticos àqueles que víamos no parquinho em frente à escola de Woodsboro, desperdiçando completamente a atmosfera particular do novo território.
Não que não haja exceções aqui e ali: na virada do segundo para o terceiro ato, por exemplo, há uma boa sequência ambientada nos (inconfundíveis) metrôs de Nova York e que é hábil ao explorar a particularidade daquele espaço e a dinâmica de seu tempo particular – com as luzes se apagando de segundos em segundos e permitindo que, neste intervalo, o vilão se aproxime ou ganhe tempo para atacar em seguida, misturando-se a dezenas de outros cidadãos fantasiados de Ghostface para o Halloween. Além disso, consigo destacar outros dois momentos em que Bettinelli-Olpin e Gillett são bem-sucedidos ao criar a tensão que tanto falham em gerar no restante da projeção: uma envolve uma personagem que tenta cruzar as janelas de dois prédios em uma escada de alumínio; a outra se passa na sala de estar da casa de Gale Weathers e… não direi nada além disso a fim de evitar spoilers.
De resto, porém, Pânico 6 é tão incapaz de articular uma atmosfera de horror/tensão quanto seu fraco antecessor, apoiando-se, na maior parte do tempo, em recursos óbvios que são manejados de forma mecânica e burocrática por Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin. Ainda assim, o mais frustrante é perceber que, assim como Pânico 5, este sexto capítulo tenta despistar a própria falta de imaginação através de comentários autorreferenciais tolos que, em vez de servirem como reflexões/brincadeiras sobre o gênero ao qual pertence e/ou sobre a indústria ao seu redor, soam apenas cínicos ao adotarem a lógica do “vou me sacanear primeiro para que você não se sinta à vontade para me criticar em seguida”.
Além disso, se os capítulos dirigidos por Wes Craven se notabilizaram por empregarem a metalinguagem como forma de comentarem sua própria condição de “propriedades intelectuais”, o máximo que Pânico 6 é uma cena que traz Ghostface perguntando “Who gives a fuck about movies?” ao executar uma de suas vítimas e, claro, algumas citações gratuitas a aplicativos como Letterboxd e a mestres como Dario Argento (numa menção que parece dita por alguém que nunca viu de fato uma de suas obras).
Que falta faz Wes Craven…