Projeto Gemini

Título Original

Gemini Man

Lançamento

10 de outubro de 2019

Direção

Ang Lee

Roteiro

David Benioff, Billy Ray e Darren Lemke

Elenco

Will Smith, Mary Elizabeth Winstead, Clive Owen, Benedict Wong e Linda Emond

Duração

117 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Jerry Bruckheimer, David Ellison, Dana Goldberg e Don Granger

Distribuidor

Paramount Pictures

Sinopse

Henry Brogan é um assassino de elite que se torna o alvo de um agente misterioso que aparentemente pode prever todos os seus movimentos. Ele logo descobre que o homem que está tentando matá-lo é uma versão mais jovem, rápida e clonada de si mesmo.

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Projeto Gemini | Crítica

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Confesso que tenho imensa admiração pelo trabalho do taiwanês Ang Lee. Não assisti a todos os seus filmes, mas fiquei encantado pela maioria dos que vi (talvez a única exceção seja Aconteceu em Woodstock). Sempre ambicioso ao lidar com os dilemas individuais de seus personagens, o cineasta sempre se saiu particularmente bem, por exemplo, ao retratar os dramas existenciais que permeavam seus longas, seja em uma narrativa repleta de ação como O Tigre e o Dragão ou em uma obra intimista como O Segredo de Brokeback Mountain (meu favorito de sua filmografia). Aliás, a sensibilidade de Lee é tão notável que encontra-se presente até mesmo em seus projetos mais comerciais: As Aventuras de Pi representava uma jornada espiritual fascinante (e visualmente espetacular), ao passo que Hulk mergulhava nas feridas psicológicas de seu protagonista e nos conflitos familiares que o cercavam, propondo também um curioso flerte com a linguagem dos quadrinhos.

Infelizmente, Projeto Gemini não traz nenhum resquício das ambições (narrativas, dramáticas ou estéticas) que Ang Lee sempre demonstrou ter, soando genérico como se tivesse sido dirigido por um cineasta bem menos talentoso.

Escrito por Billy Ray, Darren Lemke e David Benioff (sim, este último é um dos responsáveis por Game of Thrones), o roteiro nos apresenta a Henry Brogan, que, ao longo de sua carreira como atirador de elite, se consagrou como um dos melhores assassinos do mundo. Agora, no entanto, ele está ficando mais velho e mais interessado em encerrar suas atividades, dedicando-se a uma vida mais tranquila – e isto, claro, não é visto com bons olhos por seus antigos chefes, que agora o consideram menos confiável para guardar segredos de Estado. Assim, o diretor do departamento que financiava as ações de Henry decide enviar um agente misterioso para matá-lo, mandando na missão… um clone mais novo e mais forte do próprio Henry.

Lidando com a mesma ideia de “duplos” (ou doppelgängers) que já rendeu obras como Os Invasores de Corpos, O Homem DuplicadoLoganNós e outras das quais não lembro agora, Projeto Gemini certamente poderia funcionar caso contasse com um roteiro um pouco menos preguiçoso – infelizmente, o trabalho de Ray, Lemke e Benioff se resume a uma colagem de ideias usadas à exaustão em dezenas de outras produções, desde o “agente obrigado a voltar à ativa” até o “pai que mente para o filho a fim de mantê-lo seguro” (isto porque nem mencionei os arquétipos por trás dos personagens, que incluem o “ex-soldado em busca de paz”, a “companheira sexy”, o “herói amargurado” e o “diretor de algum programa governamental do mal”). Como se não bastasse, os diálogos variam entre frases de efeito tolas e falas puramente expositivas, o que, ainda assim, não se iguala à estupidez de certas situações específicas (a maneira como Henry se aproxima da agente Danny Zakarweski, por exemplo, chega a ser absurda).

Dito isso, é importante observar que os atores ao menos tentam conferir alguma profundidade aos personagens – mesmo eventualmente sabotados por um roteiro que, mais uma vez, os trata como caricaturas completas. Exibindo seu carisma habitual, Will Smith encara a difícil missão de interpretar não apenas com um, mas com dois personagens, sendo bem-sucedido em seus esforços: se Henry Brogan surge como um veterano determinado, eficiente no combate física e complexado pela situação na qual se encontra (como não poderia deixar de ser), seu clone Junior se estabelece como uma figura surpreendentemente trágica, já que, graças à sua criação artificial, ele constantemente sente como se não tivesse um papel no mundo, como se sua existência não passasse de uma mentira. (Ainda assim, a tecnologia empregada para “rejuvenescer” Will Smith, embora esforçada, mostra-se irregular em vários momentos, levando o espectador a frequentemente constatar… alguma coisa estranha no rosto do ator sempre que os efeitos digitais o encobrem.) Por outro lado, se Mary Elizabeth Winstead consegue conferir vitalidade e dinamismo a uma personagem que tinha tudo para soar descartável, Clive Owen se vê preso a um vilão aborrecido e sem personalidade, o que é uma pena.

Mas quem mais decepciona em Projeto Gemini, infelizmente, é o próprio Ang Lee. Se antes o cineasta era capaz de nos proporcionar obras como O Tigre e o Dragão e O Segredo de Brokeback Mountain, agora seus esforços soam como os de um diretor inexperiente que foi contratado como “mão de obra” para cumprir apenas com o que os produtores precisavam, jamais exibindo uma identidade própria. Conduzindo a narrativa de maneira arrastada e desinteressante, Lee mostra-se incapaz de equilibrar as sequências de ação e o puro falatório, estabelecendo um ritmo terrivelmente irregular – e mesmo as cenas de ação surgem inconstantes em sua qualidade: aqui, há uma perseguição construída com cuidado (como aquela em Cartagena); ali, porém, há uma luta corporal montada de forma ininteligível (como aquela entre Henry e Junior num corredor escuro). Para piorar, Lee tropeça na forma como emprega o 3D, adotando recursos visuais que simplesmente não combinam com a tecnologia, como profundidade de campo reduzida e rack focus (mudança na distância focal da lente em um único plano).

Por outro lado, há um elemento em Projeto Gemini que, dependendo de como influenciar os cineastas daqui para frente, pode configurar uma mudança significativa na forma como fazemos e consumimos Cinema: o fato de Ang Lee ter rodado o filme inteiro em 120 frames por segundo. (É importante ressaltar, no entanto, que, como os projetores capazes de exibir em 120fps não estão disponíveis no Brasil, o longa será apresentado “apenas” em 60fps – o que, mesmo assim, já representa um avanço considerável em relação aos tradicionais 24fps. O mesmo acontecerá em boa parte dos Estados Unidos, já que as projeções em 120fps também são raras por lá.) Jamais parecendo estranha aos olhos do espectador (a impressão de que os movimentos dos personagens estão acelerados desaparece com o tempo), a tecnologia corrige – ou, pelo menos, diminui – alguns probleminhas habituais (como o embaçamento que ocorre quando a câmera se mexe muito rápido) e ainda confere uma nitidez impressionante à imagem. Sim, há momentos em que Ang Lee usa o high frame rate de forma exibicionista (o plano em que o protagonista mata uma mosca, por exemplo, existe apenas para que possamos vê-la detalhadamente a uns cinco metros de distância), mas, ainda assim, representa uma experiência interessante e promissora em termos de linguagem cinematográfica.

É uma pena, no entanto, que o filme em si não faça jus à tecnologia que lhe foi empregada. Aliás, sou capaz de afirmar que a única coisa que diferencia Projeto Gemini de 90% das obras lançadas diretamente em home video é o fato de ter sido rodado em 120 frames por segundo. E que tenha sido dirigido por um cineasta talentoso como Ang Lee é decepcionante por si só.

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