Quarteto Fantástico 2015 (1)
Quarteto

Título Original

Fant4stic

Lançamento

6 de agosto de 2015

Direção

Josh Trank

Roteiro

Josh Trank, Jeremy Slater e Simon Kinberg

Elenco

Miles Teller, Kate Mara, Michael B. Jordan, Jamie Bell, Toby Kebbell, Reg E. Cathey, Tim Blake Nelson e Dan Castellaneta

Duração

100 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Matthew Vaughn, Simon Kinberg, Gregory Goodman, Hutch Parker e Robert Kulzer

Distribuidor

Fox

Sinopse

Quatro adolescentes são conhecidos pela inteligência e pelas dificuldades de inserção social. Juntos, são enviados a uma missão perigosa em uma dimensão alternativa. Quando os planos falham, eles retornam à Terra com sérias alterações corporais. Munidos desses poderes especiais, eles se tornam o Senhor Fantástico (Miles Teller), a Mulher Invisível (Kate Mara), o Tocha Humana (Michael B. Jordan) e o Coisa (Jamie Bell). O grupo se une para proteger a humanidade do ataque do Doutor Destino (Toby Kebbell).

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Quarteto Fantástico (2015) | Crítica

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Na década de 1990, o estúdio Constantin Film AG chamou Roger Corman (também conhecido como o “rei dos filmes B”) para produzir às pressas uma adaptação cinematográfica das HQs de uma das superequipes mais populares da Marvel: o Quarteto Fantástico. Após filmagens que, pelo que dizem, duraram cerca de um mês, o resultado do projeto cujo custo é estimado em US$ 1.5 milhão foi um desastre absoluto e inevitável que, de tão ridículo, acabou tendo seu lançamento oficial cancelado – mas, graças à Internet, é facílimo ter acesso à esta porcaria completa e legendada. Curiosamente, a justificativa para o fracasso da versão dos anos 1990 também pode se aplicar a esta nova tentativa de levar os mesmos quatro heróis ao Cinema: para não ver os direitos autorais da superequipe nas telonas voltarem às mãos da Marvel, a 20th Century Fox correu para produzir um novo longa estrelado por Reed Richards, Susan e Johnny Storm e Ben Grimm sem medo de criar uma enorme mancha nas carreiras dos excelentes atores contratados nem de transformar a quarta tentativa de levar o quarteto às telonas numa representação do conceito de “bagunça” em forma de longa-metragem.

Claramente inspirado nas boas HQs da versão Ultimate dos heróis em questão ao abordar a origem dos mesmos, o roteiro elaborado pelo diretor Josh Trank e reescrito por Simon Kinberg e Jeremy Slater conta pela milionésima vez a história que já nos cansamos de ver: o surgimento de superseres. Aqui, o jovem e brilhante Reed Richards, os irmãos Sue e Johnny Storm e Victor Von Doom (eu já disse isso em ocasiões anteriores, mas… como alguém pode confiar num sujeito que carrega a palavra “destino” como sobrenome?! É como confiar num “João do Horror”, ou numa “Ana Fúnebre”) se unem para criar uma máquina capaz de teletransportar organismos (vivos ou mortos) para uma dimensão alternativa que posteriormente passa a ser chamada de “Planeta Zero” (sem querer ceder ao fanatismo louco, mas qual o problema de um nome como “Zona Negativa”?). Daí, por irresponsabilidade de jovens geniais, porém absurdamente inconsequentes, todos são radicalmente alterados por uma viagem à tal realidade alternativa: Reed se torna capaz de esticar seu corpo, Johnny consegue se incendiar, Ben ressurge como um gigante de pedra laranja e Sue ganha o poder de projetar campos de força e tornar seu corpo e outros seres vivos/mortos invisíveis. Um ano se passa e Victor, que havia se perdido no Planeta Zero e dado como morto por consequência, retorna como um vilão superpoderoso cujo plano é, logicamente, destruir a nossa dimensão.

Já afirmava o ditado popular: “filhos feios não têm pais”. É difícil apontar um culpado exclusivo pelo fracasso do novo Quarteto Fantástico, mas basta reparar nas notícias acerca da conturbadíssima produção e no próprio resultado da película para constatar que tanto a Fox quanto Trank dividem a responsabilidade – que envolvido algum quer aceitar, o que não é de se surpreender. O diretor afirmou num tweet deletado que “Há um ano, tinha uma versão fantástica do filme“, mas que os espectadores “provavelmente nunca a verão“, ao passo em que informações surgidas maciçamente nas últimas duas semanas vêm dizendo que o comportamento do cineasta durante as filmagens era assustadoramente insatisfeito e agressivo ao ponto de quase tê-lo feito sair no braço com Miles Teller. Mas o fato é que a produção loucamente complicada e que chegou a passar por refilmagens de última hora acaba provocando ecos intensos no resultado final da película, algo que nem a péssima montagem de Elliot Greenberg e Stephen E. Rivkin (amadora e repleta de fade outs desleixados e antiquados, diga-se de passagem) consegue disfarçar; visto que várias cenas soam terrivelmente discrepantes das anteriores ou posteriores. Ao mesmo tempo, existem erros de lógica visual ridículos de tão óbvios, desde a mudança repentina do cabelo de Kate Mara até as espinhas e barbas ralas ou inexistentes de Miles Teller – o que é difícil de justificar são as alterações na voz do Coisa, mas enfim.

Contudo, é decepcionante ver um cineasta que havia se provado talentoso e promissor no ótimo Poder Sem Limites apresentando um desempenho preguiçoso e sem imaginação logo quando tem a oportunidade de trabalhar num blockbuster hollywoodiano, dando origem a um longa frio e que sequer chama a atenção do ponto de vista estético ou conceitual – eu diria, inclusive, que existem exatamente dois momentos interessantes em Quarteto Fantástico: um se passa quando Reed, Sue, Johnny e Ben se descobrem fisicamente alterados pela viagem interdimensional (algo que Trank enfoca de forma engenhosamente dramática e até assustadora, dando a impressão de que os personagens não receberam superpoderes, mas anomalias – algo que a própria Mulher Invisível afirma ao longo da narrativa) e outro ocorre no terceiro ato, quando a câmera acompanha o vilão caminhando por um corredor e explodindo todas as cabeças que se encontram à sua frente. Infelizmente, são somente um par de bons segmentos encontrados de forma avulsa em meio a um amontoado de aproximadamente uma hora e meia de planos genéricos e simplistas vindos através de uma direção pouco ousada e despreocupada até mesmo em qualquer energia à obra.

Preguiçoso ao ponto de subitamente executar um salto temporal de um ano depois que apresenta as mudanças sofridas pelos quatro personagens centrais como se simplesmente não estivesse com vontade de mostrar os heróis se adaptando ao novo estilo de vida, Quarteto Fantástico apresenta um roteiro incoerente ao ponto de trazer (se preparem) o cientista Franklin Storm visitando uma feira escolar de ciências e chamando um adolescente para trabalhar num projeto interdimensional da NASA! Por favor, temos que concordar que, por mais genial que fosse… era um adolescente! Mas não é só: incapaz de justificar a presença de Ben Grimm na trama, o longa resolve isso trazendo Reed Richards ligando para ele e o chamando para ir numa viagem interdimensional assim como eu chamaria meus amigos para irmos ao shopping. Como se não bastasse, Sue Storm sequer na viagem responsável pela criação do Quarteto Fantástico, recebendo a capacidade de ficar invisível e criar campos de força por… estar próxima à máquina. Mas como cobrar seriedade de um roteiro que justifica a participação de Johnny Storm no projeto interdimensional capitaneado por Reed Richards com a irresponsabilidade que demonstrou tirando um racha? E pensar que esta é a melhor parte de um longa que se atropela até mesmo com uma estrutura profundamente problemática que rende um primeiro ato de aproximadamente uma hora e apresenta o vilão quase que no fim da projeção.

Mas o mais impressionante é que, mesmo investindo quase uma hora numa história de origem que já estamos fartos de ver sendo recontada, Quarteto Fantástico não consegue sequer criar personagens minimamente densos ou instigantes, da mesma forma como o roteiro desperdiça completamente a ideia-chave por trás do supergrupo: o fato de que os quatro heróis formam uma família. Por piores que fossem, os dois longas dirigidos por Tim Story e o trash produzido por Roger Corman sabiam que a dinâmica entre Sr. Fantástico, Mulher Invisível, Coisa e Tocha Humana era o que diferenciava aquele quarteto de outros grupos, algo que esta nova versão não compreende ou simplesmente ignora: Reed e Sue trocam algumas palavras que quase apontam para um interesse amoroso, mas não passa disso; Sue é irmã adotiva de Johnny, mas os dois quase não falam um com o outro; Ben é amigo de colégio de Reed, mas sequer chega a falar com Sue e Johnny até que o roteiro lembra que os três precisam se comunicar – o que, lamentavelmente, só vem a acontecer quando o filme já está no fim. É claro que os personagens acabam sendo prejudicados quando não se dá a devida profundidade aos mesmos, mas o que realmente impressiona é como a incompetência do roteiro consegue transformá-los em papeis sintomáticos até mesmo para o excelente elenco escalado.

Eu diria, inclusive, que o único a ser salvo é o sempre sensacional Miles Teller (Whiplash), que faz o melhor que pode para transformar o Reed Richards aborrecido que o roteiro concebe num sujeito interessante. Ainda assim, o ator é prejudicado pelo curioso fato de que, como Reed é o único personagem tratado com a devida relevância pelo trio de roteiristas, as piores falas e frases de efeito acabam recaindo sobre Teller, que tristemente é obrigado a dizê-las. De resto, o talento de ótimos atores é desperdiçado em prol de… motivo algum, para ser honesto: Kate Mara (House of Cards) vive uma Mulher Invisível sem absolutamente nada a oferecer, Michael B. Jordan (Fruitvalle Station) é confinado a um Tocha Humana desinteressante e isento da característica mais marcante do personagem nos quadrinhos – sua irreverência que, inclusive, o tornava grande amigo do Homem-Aranha – e Tim Blake Nelson é um militar caricatural e maliciosamente ambicioso que, para provar seu antagonismo, passa a segunda metade do filme mascando um chiclete sem parar. Enquanto isso, Toby Kebbell encarna um vilão difícil de entender, visto que suas motivações oscilam entre desprezo pela forma como os seres humanos destruíram a Terra (algo que não é ilustrado em momento algum da narrativa) e inveja do “romance” entre Richard e Sue, ao mesmo tempo em que nem mesmo seus poderes são retratados de forma clara, já que é apresentado como um Dr. Manhattan/Magneto num momento para, poucos minutos depois, ser vencido (spoiler? Ah, faça-me o favor!) com facilidade pelo Quarteto Fantástico; e percebam que nem me dei ao trabalho de mencionar o design absolutamente ridículo e genérico de Dr. Doom (como ele conseguiu aquela maldita capa numa dimensão desolada?!).

No entanto, o pior de todos é certamente Ben Grimm, o Coisa: sem contar com o senso de humor que tornava o herói tão divertido nos quadrinhos, o personagem é inútil para a trama e não passa de um mero coadjuvante, enquanto seu drama soa artificial e é rapidamente esquecido pelo roteiro. Assim, trata-se de um personagem… que não é nada. Pra piorar, enquanto Jamie Bell (Billy Elliot) acaba ganhando pouquíssimo tempo de tela, a computação gráfica usada para criar o Coisa é pobre ao ponto de limitar as expressões faciais do herói (suas falas não combinam com os movimentos dos lábios!) e precisar ser escondida com sombras. Por sinal, é triste ver uma produção de US$ 120 milhões (não muito cara, para dizer a verdade) finalizada em 2015 trazendo efeitos digitais porcos e mais apropriados a um longa dos anos 1990. É revoltante ver, por exemplo, o chroma-key horroroso quase que onipresente quando o filme se passa no Planeta Zero, mas como puderam fazer um Reed Richards pior que aqueles bonecos computadorizados de Matrix Reloaded? Que macaco digital horroroso é aquele que aparece no primeiro ato do longa? Como um blockbuster hollywoodiano recente e com um orçamento lisonjeiro pode ser incapaz de substituir um ator por um boneco digital num mesmo quadro, precisando sempre aplicar um corte para realizar tal troca? E céus, como puderam fazer um Tocha Humana inexpressivo, inferior ao dos dois filmes de Tim Story e que aparenta ter sido criado a partir de um aplicativo para celulares?!

Prejudicado por um terceiro ato que, além de distinto de tudo aquilo que havia sendo mostrado até então (mais uma evidência do quão desordenada foi a produção do longa), ainda traz uma batalha final absurdamente anitclimática e conduzida sem a mínima imaginação, o novo Quarteto Fantástico é, na melhor das hipóteses, o pior filme estrelado por heróis de quadrinhos desde Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança. E se o fracasso desta quarta tentativa de levar Reed Richards, Mulher Invisível, Tocha Humana e Coisa aos cinemas ocorre pela mesma razão que condenou a versão produzida por Roger Corman e jamais comercializada, não é de se surpreender que tanto o longa de 1994 quanto este recém-lançado compartilhem uma característica em comum: o poder (pouco honroso) de despertar gargalhadas a partir de um nível surpreendente de precariedade.

Como se o fato de provocar risadas involuntárias realmente fosse um mérito de uma obra que, ao que parece, visa ser levada a sério.

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