Rambo Programado para Matar (1)

Título Original

First Blood

Lançamento

22 de outubro de 1982

Direção

Ted Kotcheff

Roteiro

Sylvester Stallone, Michael Kozoll e William Sackheim

Elenco

Sylvester Stallone, Richard Crenna, Brian Dennehy, Bill McKinney, Jack Starrett, Michael Talbott, Chris Mulkey, John McLiam, Alf Humphreys, David Caruso, David L. Crowley e Don MacKay

Duração

93 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Buzz Feitshans

Distribuidor

Universal Pictures

Sinopse

Rambo (Sylvester Stallone) é um veterano da Guerra do Vietnã que é preso injustamente pelo xerife Teasle (Brian Dennehy), mas consegue fugir e promove uma guerra não só contra o policial mas contra toda uma cidade, causando pânico e destruição, que é o que ele sabe fazer de melhor.

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Rambo: Programado para Matar | Crítica

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Rambo: Programado para Matar é um daqueles filmes que costumam sofrer preconceito apenas por pertencerem ao gênero “ação”, como se este representasse um Cinema “inferior” – e também porque, convenhamos, as continuações que vieram nos anos seguintes se encarregaram de transformar Rambo em um símbolo anacrônico do imperialismo norte-americano, o que provavelmente levou muitas pessoas a antipatizarem com o personagem. Seja como for, o fato é que, ao contrário da maioria dos “filmes de brucutu” dos anos 1980, o primeiro Rambo é uma obra surpreendentemente ambiciosa e madura que propõe uma série de discussões sociais/políticas muito bem-vindas, usando a ação como ponto de partida para os temas que pretende abordar.

Baseado no livro First Blood, escrito pelo canadense David Morrell em 1972, Programado para Matar nos apresenta ao veterano de guerra John Rambo, que, após participar do conturbado conflito no Vietnã, decidiu deixar seus traumas para trás e buscar uma vida pacata. Ao chegar na pequena cidade de Hope, em Washington, o sujeito começa a ser estranhamente provocado pelo xerife Teasle, que insiste em tratá-lo como “vadio” e que logo resolve prendê-lo por “resistência à prisão” e “porte de arma” (ele trazia uma faca embainhada na cintura). Chegando na delegacia, John sofre uma série de abusos físicos/psicológicos – e isto faz com que todas as memórias do Vietnã venham à tona, levando o veterano a um surto pós-traumático. O que os guardas não esperavam, no entanto, era que John Rambo fosse uma máquina de matar e que, ao fugir da prisão, pudesse promover uma verdadeira guerra dentro daquela cidadezinha.

Evitando transformar a premissa em mera desculpa para as sequências de ação, o diretor Ted Kotcheff faz questão de situar a trama no universo mais realista possível: diferente dos brucutus tradicionais, John Rambo é perfeitamente capaz, por exemplo, de se arrebentar ao cair de um precipício, o que naturalmente leva o espectador a se preocupar com o destino do personagem (afinal, ele não é invulnerável) – e isso pode não ser necessário em uma obra como Comando para Matar (que assumia o exagero desde o princípio e que, justamente por isso, permitia que Arnold Schwarzenegger saltasse de um boeing em movimento e sobrevivesse sem problema algum), mas, em Programado para Matar, uma abordagem como esta ajuda a evocar o sentimento de urgência exigido pela trama. Além disso, Kotcheff dedica boa parte da narrativa a apenas mostrar como Rambo se mantém vivo durante uma guerra, criando várias sequências que trazem o protagonista costurando um ferimento no braço, caçando animais para reaproveitá-los como comida e/ou improvisando uma tocha para se guiar em um ambiente escuro.

Aliás, as mortes registradas no decorrer da narrativa jamais representam momentos catárticos: quando o delegado Galt cai de um helicóptero, Rambo se apavora ao perceber que talvez tenha causado sua morte, ao passo que o xerife Teasle sente o peso de ter perdido um velho amigo. Porque o fato é que, ao contrário do que mostram os filmes de brucutu comuns, a guerra está longe de ser uma coisa “divertida” – e isto é algo que Programado para Matar ilustra ao trazer como protagonista um veterano que claramente sofre de Estresse Pós-Traumático e que segue atormentado pelos fantasmas de seu passado (neste sentido, a montagem de Joan Chapman se sai particularmente bem na sequência em que Rambo é torturado na delegacia, associando os horrores experimentados no presente aos traumas deixados pela guerra no Vietnã).

A partir daí, Programado para Matar mergulha em uma série de discussões tematicamente relevantes: expondo as péssimas condições fornecidas aos combatentes veteranos, o filme denuncia também os maus tratos sofridos por boa parte dos soldados após voltarem da guerra – que, por sua vez, são constantemente demonizados por uma sociedade que nunca esteve perto de um conflito armado e que ignora dois detalhes importantes: 1) nem todos os veteranos são “assassinos de bebês”; e 2) muitas pessoas vão à guerra não por vontade própria, mas porque foram forçadas. Ao mesmo tempo, as várias agressões sofridas por Rambo na delegacia nos alertam para a brutalidade promovida pela polícia não só dos Estados Unidos, mas de boa parte do mundo, cometendo o famoso “abuso de autoridade” sempre que prendem um cidadão com o único objetivo de torturá-lo, num claro ato de sadismo. Para completar, há um breve comentário a respeito da espetacularização da violência quando um grupo de militares, acreditando que conseguiram matar Rambo, resolvem celebrar sua “vitória” e perder tempo tirando fotinhos, o que é notável.

Mas é impossível falar sobre Programado para Matar sem discutir a performance de Sylvester Stallone, um ator que costuma ser subestimado (quem me conhece sabe da minha adoração por Rocky Balboa, seu personagem mais célebre) e que, aqui, é favorecido pela maneira como o filme constrói a persona do protagonista: jamais estabelecido como um herói indestrutível, John Rambo é um sujeito que busca uma vida social tranquila, mas que é massacrado pela própria sociedade e que, à medida que vai sendo maltratado, vai também revelando suas habilidades aos poucos, levando o espectador a descobrir quem é o personagem-título conforme a narrativa progride – e Stallone ilustra esta evolução de maneira brilhante, sugerindo o pânico de Rambo através de olhares sutis, mas poderosos, e alcançando um clímax emocional tocante nos minutos finais da projeção, quando expõe seus traumas particulares para o público. Além disso, Richard Crenna se sai bem ao transformar o Coronel Trautman em uma figura quase paterna para Rambo, oferecendo não apenas treinamento, mas apoio para o protagonista.

É uma pena, portanto, que os filmes seguintes tenham reduzido Rambo a uma montanha de músculos genérica e monossilábica que saía despedaçando corpos alheios sem que isto gerasse consequência alguma. Quando voltamos a este Programado para Matar e o analisamos em retrospecto, percebemos que John Rambo é um personagem que funciona melhor quando usado para fazer o espectador pensar – e não apenas para explodir países inteiros em nome do “American Way of Life“.

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