Rambo Até o Fim

Título Original

Rambo: Last Blood

Lançamento

19 de setembro de 2019

Direção

Adrian Grunberg

Roteiro

Matt Cirulnick e Sylvester Stallone

Elenco

Sylvester Stallone, Yvette Monreal, Adriana Barraza, Paz Vega, Sergio Peris-Mencheta, Genie Kim, Joaquín Cosío, Óscar Jaenada e Louis Mandylor

Duração

89 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Avi Lerner, Kevin King-Templeton, Yariv Lerne e Les Weldon

Distribuidor

Imagem Filmes

Sinopse

O tempo passou para Rambo (Sylvester Stallone), agora ele vive recluso e trabalha em um rancho que fica na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sua vida antiga marcada por lutas violentas, mas quase sempre vitoriosas, ficou no passado. No entanto, quando a filha de um amigo é sequestrada, Rambo não consegue controlar seu ímpeto por justiça e resolve enfrentar um dos mais perigosos cartéis do México.

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Rambo: Até o Fim | Crítica

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Usando a ação como pretexto para uma série de discussões temáticas/políticas extremamente relevantes, Rambo: Programado para Matar era um belo filme que ilustrava os horrores representados pela guerra e que denunciava as péssimas condições fornecidas aos combatentes veteranos, trazendo como protagonista um ex-soldado atormentado por seus traumas e destruído pela intolerância de quem estava ao seu redor. Infelizmente, as três continuações produzidas nos anos seguintes se certificaram de eliminar toda a complexidade dramática do personagem-título: Rambo 2: A Missão era basicamente uma fanfic na qual os Estados Unidos, de certa forma, venciam a Guerra do Vietnã; Rambo 3 mostrava o herói no Afeganistão lutando ao lado dos guerrilheiros de Osama Bin Laden (o que, hoje, é uma ironia hilária); e Rambo 4 nada mais era do que uma desculpa para explorar o genocídio promovido pelas milícias de Myanmar com o único propósito de criar sequências graficamente violentas.

Mas agora, depois de três capítulos medíocres, a série finalmente parece ter chegado ao fundo do poço com Rambo: Até o Fim. Roteirizado por Matt Curulnick e pelo próprio Sylvester Stallone, este quinto – e último – capítulo traz John Rambo levando uma vida simples e pacata num rancho próximo à fronteira com o México, dividindo espaço com a amiga Maria e com sobrinha Gabrielle. Buscando manter distância de todos os traumas do passado, Rambo agora prefere passar o tempo cuidado de sua fazenda, andando a cavalo por aí e… bem, bancando o super-herói ao salvar as pessoas de possíveis desastres naturais (como enchentes). No entanto, a vida do ex-soldado muda depois que Gabrielle decide ir ao México em busca de seu pai biológico, que a abandonou quando ainda era criança – e, ao chegar no país, a jovem é sequestrada por um grupo de traficantes mexicanos que logo a transformam em escrava sexual, obrigando Rambo a embarcar em uma nova missão.

Em outras palavras: é uma refilmagem de Busca Implacável, mas com mexicanos no lugar de albaneses e com Sylvester Stallone no lugar de Liam Neeson. Aliás, eu duvido que o roteiro de Rambo: Até o Fim (de agora em diante, Rambo 5) tenha sido planejado desde o princípio para pertencer a esta franquia: se eu tivesse que apostar, diria que Stallone e Curulnick escreveram um filminho genérico feito para ser lançado diretamente em home video e, no meio do caminho, decidiram transformá-lo em um encerramento para a franquia iniciada em Programado para Matar. Não à toa, o John Rambo apresentado aqui não tem absolutamente nada a ver com aquele que acompanhamos nos quatro filmes anteriores, mostrando-se muito mais carinhoso, sentimental e comunicativo do que no passado – o que poderia funcionar caso tivéssemos visto a evolução que ele sofreu desde Rambo IV e entendido o porquê de  estar tão diferente. Se somarmos isto ao fato de Rambo ter adotado um visual diferente daquele que nos acostumamos a ver, abandonando o cabelo cumprido e a faixa vermelha na testa, o resultado soa mais como Stallone Cobra 2 do que como Rambo 5.

Mostrando-se problemático logo em sua cena de abertura, na qual duas pessoas são salvas por Rambo de uma inundação, mas uma desaparece misteriosamente (mistério este que nunca mais volta a ser abordado pelo filme), o roteiro de Stallone e Curulnick revela-se incapaz de manter uma linha de raciocínio que perdure por muito tempo (o pai de Gabrielle, por exemplo, é subitamente esquecido assim que se torna irrelevante para a história, como se nunca tivesse existido), construindo uma narrativa frouxa, sem foco e repleta de informações incompletas – e isto, inclusive, me leva a suspeitar que um monte de explicações foram cortadas na fase final da montagem, já que até mesmo algumas elipses soam… esquisitas, encobrindo longos períodos de tempo com uma rapidez notável. Além disso, o roteiro usa e abusa de situações que parecem saídas de uma novela mexicana, como a jovem que vive inconformada com o sumiço do pai e o tio que quer “protegê-la da verdade”; algo que só piora graças à natureza melosa de praticamente todos os diálogos. Como se não bastasse, a personagem de Paz Vega se torna um deus ex machina, surgindo convenientemente quando Rambo está em perigo e precisa de alguém para ajudá-lo.

Infelizmente, a direção de Adrian Grunberg (responsável por Plano de Fuga, estrelado por Mel Gibson) só consegue piorar o péssimo roteiro, convertendo os diálogos escritos por Stallone e Curulnick em sequências simplesmente ridículas de tão artificiais: quando Rambo está no carro com Gabrielle e resolve expor para ela o quanto a ama, a única reação que sobra para o espectador é o riso – e não a compaixão almejada por Grunberg. Da mesma forma, a violência retratada na tela nunca decide se será cartunesca ou realista, tornando-se brutal demais para funcionar como caricatura e, ao mesmo tempo, exagerada demais para funcionar de modo visceral. Mas o mais inexplicável é a deselegância da obra como um todo: não fazendo a menor ideia de como empregar os recursos que têm à disposição, Grunberg e o diretor de fotografia Brendan Galvin criam alguns momentos que, honestamente, chegam a ser hilários de tão estranhos, como aquele em que Rambo freia bruscamente o carro no meio da estrada e um zoom nos aproxima subitamente do veículo – isto porque nem mencionei o fato de as cenas noturnas serem altamente granuladas não por opção estética, mas por descuido mesmo.

O que sobra para Sylvester Stallone, portanto, é interpretar um herói que pouco tem a ver com o John Rambo que conhecemos nos filmes anteriores e que também não funcionaria caso fosse um personagem novo, apresentando-se desinteressante na maior parte do tempo – e, ainda assim, Stallone se esforça para conferir alguma personalidade ao protagonista, mesmo sendo sabotado pelo roteiro. Já Yvette Monreal consegue a empatia do espectador não por fazer um bom trabalho, mas por encarnar uma personagem naturalmente submetida a uma posição vulnerável, ao passo que Adriana Barraza vive o estereótipo da velhinha mexicana que está sempre de saco cheio de tudo. Para completar, Sergio Peris-Mencheta transforma o traficante Hugo Martinez em uma caricatura completa, soando irritante em vez de ameaçador.

Aliás, Rambo 5 é mais uma superprodução norte-americana que insiste em reforçar a visão estereotipada que boa parte do mundo tem acerca do México e dos mexicanos em geral; algo que já seria questionável se vivêssemos em um planeta que ao menos busca evoluir, mas que se torna ainda mais complicado quando consideramos as políticas nacionalistas e xenófobas que os Estados Unidos vêm adotando desde a eleição de Donald Trump. Assim, as ruas do México são retratadas por Grunberg como um verdadeiro inferno na Terra e os mexicanos, como estereótipos que alternam entre a chatice e a vilania total. Considerando que o presidente da maior superpotência do mundo se elegeu prometendo construir um muro separando o México dos Estados Unidos e que crianças foram tiradas de seus pais para serem lançadas em campos de concentração, uma abordagem como esta é, no mínimo, duvidosa.

Demonstrando uma covardia imensa em seus créditos finais (que, reconhecendo como o filme não tinha nada a ver com os quatro que o antecederam, apelam para um recorte dos “melhores momentos” da franquia, numa tentativa desesperada de ativar a nostalgia no espectador e fazê-lo esquecer os vários equívocos cometidos nos 80 minutos anteriores), Rambo: Até o Fim é um subproduto da Era Trump saindo sob medida.

Para que não pareça que detestei tudo no filme, digo apenas que as várias mortes ocorridas no terceiro ato são visualmente imaginativas, tornando o clímax uma mistura de Sicario com Jogos Mortais. É uma pena, no entanto, que até isto dure pouco.

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