Sicario (1)

Título Original

Sicario

Lançamento

22 de outubro de 2015

Direção

Denis Villeneuve

Roteiro

Taylor Sheridan

Elenco

Emily Blunt, Benicio del Toro, Josh Brolin, Maximiliano Hernández e Jon Bernthal

Duração

120 minutos

Gênero

Nacionalidade

EUA

Produção

Basil Iwanyk, Thad Luckinbill, Trent Luckinbill, Edward McDonnell e Molly Smith

Distribuidor

Paris Filmes

Sinopse

A CIA está preparando uma audaciosa operação para deter o grande líder de um cartel de drogas mexicano. Kate Macy (Emily Blunt), policial do FBI, decide participar da ação, mas logo descobre que terá de testar todos os seus limites morais e éticos nesta missão.

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Sicario – Terra de Ninguém | Crítica

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Em tempos onde as drogas servem como palco para debates intensos e a mídia tende a tratar a guerra contra o tráfico de maneira maniqueísta, é importantíssimo que haja alguém para expor o outro lado da moeda e apresentar uma visão que vá além do estereótipo do “traficante nazista”. Dito isso, o cineasta canadense Denis Villeneuve (cuja carreira já conta com títulos elogiados como IncêndiosPolitécnica, O Homem Duplicado e Os Suspeitos – a versão com Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal) merece ser novamente reconhecido por seu mais novo trabalho: evitando transformar os agentes do FBI em heróis moralmente infalíveis e caracterizar os traficantes como vilões unidimensionais, Sicario – Terra de Ninguém surge como uma obra intensa e cheia de energia que se torna ainda mais obrigatória graças à forma adequada com que relata o caos existente na guerra contra as drogas.

Roteirizado pelo estreante Taylor Sheridan, o longa se passa na fronteira entre os Estados Unidos e o México e tem início acompanhando uma operação liderada pela agente do FBI Kate Macy, movida no intuito de liberar reféns de traficantes. Pouco depois, a personagem é requisitada para integrar uma força-tarefa ao lado de Matt e do misterioso Alejandro, mas não tarda até que comece a constatar que os métodos utilizados pelos dois indivíduos fogem da lei e da moralidade, resolvendo as situações com uma frieza questionável e atendendo às necessidades pessoais dos agentes. Sendo assim, Kate se vê desnorteada em meio a um cenário complexo e imprevisível que a levará a testemunhar e passar por situações brutais e fazer escolhas indesejáveis.

Conferindo intensidade e tensão à narrativa, Denis Villeneuve compõe (ou retrata) uma realidade opressiva e chocante onde tiros e jipes da polícia causam tanta diferença quanto os quatro corpos mutilados suspensos numa ponte que são avistados pela protagonista logo em sua chegada à cidade de Juárez. Da maneira como constrói o cenário da guerra às drogas, o diretor transforma o cenário visto aqui em algo truculento e chega a fazer com que Sicario se assimile a produções como Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura. Contudo, o que realmente chama a atenção é o modo como o longa faz o possível para escapar do maniqueísmo: sim, é verdade que o roteiro e a direção não procuram tratar os criminosos como sujeitos inocentes e injustiçados, mas nem por isso deixa de apresentar alguns dos agentes do FBI como seres odiosos e cruéis que realizam seus deveres pela autossatisfação – e raramente de maneira moralmente aceitável.

Por sua vez, Emily Blunt merece elogios por criar uma protagonista emocionalmente vulnerável, mas que resiste ao máximo possível às dificuldades que cercam sua vida – e ao mesmo tempo em que a atriz é capaz de sintetizar de maneira inquestionável o desconforto da personagem diante da situação em que se encontra, Josh Brolin se sai igualmente bem ao compor um sujeito desagradável e frio graças à agressividade recorrente em seu ofício. Já Benicio del Toro se responsabiliza por uma performance ameaçadora e imprevisível que transforma seu personagem num ser temível e que se revela cada vez mais monstruoso à medida que a narrativa avança; e o ótimo roteiro de Taylor Sheridan é hábil ao incluir uma subtrama no terceiro ato da película que torna o Alejandro vivido por del Toro mais denso e humano (mas não menos hostil).

Já do ponto de vista técnico, Sicario nunca deixa a desejar – e se o compositor Jóhan Jóhannsson (A Teoria de Tudo) dá origem ao que pode ser descrito como um dos maiores exercícios sonoros de tensão que me recordo de ter testemunhado nos últimos tempos, o sempre excelente Roger Deakins (colaborador habitual dos irmãos Coen) é digno de nota pela fotografia intensa e que resulta em quadros marcantes como (sem spoilers!) o que se foca num ralo enquanto um interrogatório é escutado e aquele que traz (no clímax da película) o personagem de Benicio del Toro e um narcotraficante numa mesa; além dos já citados corpos mutilados pendurados numa ponte. Para complementar, Deakins ainda brilha ao aproveitar o por do sol para criar composições fabulosas que trazem agentes banhados por sombras – e devo dizer que, dentre todas as sequências noturnas que vi em 2015, as desta produção só não são melhores que as de Mad Max: Estrada da Fúria.

Como se não bastasse, Denis Villeneuve ainda surpreende na construção minuciosa da tensão, sendo apoiado, novamente, pela trilha sonora e pela fotografia. Para se ter ideia, um dos momentos mais enérgicos do longa envolve carros parados num congestionamento, uma virtude alcançada graças aos movimentos de câmera estudados e cortes precisos que tendem a explorar profundamente o potencial dramático de tal situação. Por fim, o diretor também é competente ao alternar imagens criadas através de visão noturna e câmera térmica no clímax do longa, fazendo com que o espectador se sinta no meio da ação acompanhando a mesma junto aos personagens.

Pecando apenas no ritmo relativamente arrastado que predomina parte do segundo ato (diametralmente oposto à eletrizante meia hora final), Sicario – Terra de Ninguém é um longa relevante e que certamente é digno de destaque em premiações não apenas por seus atributos técnicos, mas pelo valor do retrato que Denis Villeneuve faz questão de imprimir de modo devidamente impactante.

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